segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Alfabeto da morte...



 


 

Alfabeto da Morte

Para o dia de finados 

 
 
Aurora inextinguível de um dia que não se põe,
Benfeitora de todas as doenças, até das incuráveis,
Cálice supremo da definitiva e doce liberdade,
Doença incurável de todos os viventes,
Esperança inaudita da vida que não termina,
Filha do pecado e irmã da escuridão,
Guilhotina precipitada no pescoço do tempo,
Hilaridade macabra das sombras que dançam na agonia dos homens,
Irmã do pecado, expulsa do paraíso,
Janela forçada no desespero dos suicidas,
Lema inseparável da fronte dos pecadores,
Mãe da fatalidade no ocaso do universo,
Néctar inebriante da dormência inconsciente,
Óstio intransponível na barreira da igualdade,
Princípio perene da verdadeira vida,
Quimera real dos sonâmbulos da autossuficiência,
Rio inesgotável da insaciabilidade de condenados,
Sono permanente e involuntário na despedida da vida,
Timão incontrolável no barco do além,
Umbral incandescente dos que entram no túnel da eternidade,
Vitória gloriosa da ressurreição de Cristo,
Xadrez invencível na arbitrariedade competitiva da cobiça,
Zênite definitivo na convergência da parábola da vida.


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sintonize o botão da fé...


Sintonize o Botão da Fé

 

Caríssimo leitor, em que frequência está sintonizado o botão de sua fé? Mais para lá ou menos para cá de Jesus Cristo? Muito barulho impossibilitando a limpa leitura de sua mensagem? Muita chiadeira nos tímpanos da compreensão de sua Pessoa? Não se preocupe, pois, se a frequência de sua vida não estiver correta diante de Cristo, ainda há tempo para a possibilidade da conversão sincera e confiante diante dele. 

Assim, por ocasião do Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI – de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013, Festa de Cristo Rei – gostaríamos de propor uma experiência de fé cotidiana aos nossos leitores. O desafio do botão da fé sintonizado em Cristo é uma metáfora para falar ou detectar a proximidade ou o distanciamento de Cristo, nosso Senhor. Durante os anos de seu pontificado, o Santo Padre, Bento XVI, tem insistido muito na urgente necessidade de que os cristãos façam a experiência do “encontro” com Cristo, que é uma pessoa viva, real, caminheiro conosco pelas estradas da vida. 

Quando, então, devemos sintonizar o botão de nossa fé em Cristo? Em todos os momentos da vida, como se uma cantilena, repetitivamente serena e suave, advertisse aos nossos ouvidos e à nossa consciência a música de sua sinfonia: “Sintonize o botão da fé... Em Cristo!” Na hora da alegria, sintonize o botão da fé... No momento da tentação, sintonize o botão da fé... Na festa do reencontro, sintonize o botão da fé... Na hora da morte, sintonize o botão da fé... Em Cristo. No instante na impaciência no trânsito maluco de Aracaju, sintonize o botão da fé... Na hora da agonia, sintonize o botão da fé... Na hora da chatice do marido ou da esposa, sintonize o botão da fé... Na hora da murmuração, sintonize o botão da fé... Em Cristo! Na hora da morte, sintonize o botão da fé... Na hora da tristeza, sintonize o botão da fé... Na hora da solidão, sintonize o botão da fé... Em Cristo! Na hora da rejeição, sintonize o botão da fé... Na hora da dor, sintonize o botão da fé... Na hora das dúvidas, sintonize o botão da fé... Na hora do desânimo, sintonize o botão da fé... Em Cristo! Na hora da saudade, sintonize o botão da fé... Na hora do desconsolo, sintonize o botão da fé... Na hora da doença, sintonize o botão da fé... Em Cristo! 

Portanto, em tudo – e cada leitor pode acrescentar essa lista com suas inspirações da concretude existencial – com os olhos fixos em Cristo (Hb 12), que durante todo o Ano da Fé e pela vida afora nos esforcemos mais conscienciosamente para sintonizar o botão de nossa fé em Cristo, por meio de uma vida mais santa e conforme seu ideal de perfeição. É o Romano Pontífice quem nos motiva: “O Ano da Fé é um convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo” (Porta Fidei, n. 6). E ainda: “O professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso público. O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um fato privado. A fé é decidir estar com o Senhor [sintonizando o botão da fé em Cristo], para viver com ele. E este ‘estar com Ele’ introduz na compreensão das razões pelas quais se acredita. A fé, precisamente por ser um ato da liberdade, exige também assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita” (Porta Fidei, n. 10). 

Na companhia do Senhor, por meio do qual devemos alegrar-nos sempre – “alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4,4) – que possamos viver o Ano da Fé com esperança e decisão firme de conversão de vida ao nosso bendito Salvador, Jesus Cristo. 

 


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Dias Extraordinários no Vaticano...

Dias extraordinários no Vaticano!

 

Durante esses dias, algo de extraordinário tem acontecido no Vaticano. O Santo Padre, o Papa Bento XVI, reúne-se com bispos do mundo inteiro para mais um Sínodo, que já está na XIII edição. Mas quem é que está sabendo disso? Infelizmente, os maios de comunicação pouco se interessam por eventos edificantes realizados pela Igreja Católica, quando ela se preocupa em tentar chamar a atenção do homem para as coisas mais profundas de sua alma e de seu espírito, como a própria necessidade de Deus, que o criou “à sua imagem e semelhança” (Gn 1,27). 

Às vezes, nenhuma linha de informação leva em consideração o imenso esforço que a Igreja faz para livrar o homem da “desertificação espiritual” (Bento XVI) em que ele vive mergulhado, sempre em maior profundidade, por conta de sua petulância e espírito de autossuficiencia, tentando esconder-se de seu criador. Estivesse o vento da maldade soprando mais uma página dos escândalos da Igreja, e, então, sim, veríamos estampada em todos os jornais e nos meios de comunicação imagens inteiras do Papa, exposto ao ridículo pela fúria canina de seus inimigos, que não conseguem ver uma coisa positiva no Papa nem na Igreja. Mas a bondade silenciosa da Igreja não dá ibope, embora ela não esteja atrás disso. Jesus Cristo não foi um pop star que angariava aplausos do seu público nem do seu auditório. A Igreja comporta-se do mesmo modo. No entanto, não seria nada demais a mídia, nacional e internacional, noticiar as coisas boas que a Igreja realiza em prol da humanização do homem – estranha constatação! – que tem se tornado a besta fera incontrolável de seu animal interior. De fato, o humanismo cristão ainda pode ser uma resposta condigna aos desafios da sociedade moderna que enfrenta a minimalização dos atributos do próprio ser humano, detonado pelo comportamento abusivo de si mesmo, contra si mesmo, na crescente degradação de seus valores mais primários. 

Lutamos por liberdade, e nos tornamos prisioneiros da corrupção e da imoralidade; conquistamos a liberdade de expressão, e pensamos poder denegrir a Catolicismo com as charges mais absurdas e estereotipadas pela criatividade maligna de quem se sente acima de qualquer suspeita, afirmando, inclusive, não ter intenção de ofender ninguém; queremos ser donos de nós mesmos, mas não assumimos as consequências devastadoras de nossas escolhas; buscamos o bem-estar físico e material, e nos esquecemos de que temos uma alma da qual devemos prestar contas a Deus; agarramo-nos à ciência tecnológica, que pode prolongar nossa vida por mais alguns dias, e olvidamos que, mais cedo ou mais tarde, o auge da vida desemboca na morte; sofremos as dilacerações interiores do espírito, do homem velho e caduco pela força do pecado, e não reconhecemos que Cristo é a possibilidade de nossa perfeição espiritual; enfim, somos sempre devedores de nós mesmos, pelas displicências e incúrias com a verdadeira essência de nossa humanidade. Contra tudo isso, a Igreja de Cristo preocupa-se em levar a todos um sinal de esperança pela pregação do Evangelho de Cristo, cuja força salvadora atua pelo poder do próprio Cristo, morto e ressuscitado. E essa é uma das razões pela quais o Papa e os Bispos reúnem-se no Vaticano, no intento de dar novo impulso missionário e evangelizador à Igreja dispersa pelo mundo inteiro. 
Dentro desse contexto de atualização do ardor missionário da Igreja, o Papa Bento XVI, lembrou a abertura do Concílio Vaticano II, do qual ele mesmo teve o privilégio de participar como jovem teólogo, aos 35 anos, “consultor” do Cardeal Frings, tendo sido por ele indicado. Assim, ele contou: “Foi um dia maravilhoso aquele 11 de Outubro de 1962 quando, com a entrada solene de mais de dois mil Padres conciliares na Basílica de São Pedro em Roma, se abriu o Concílio Vaticano II. Em 1931, Pio XI colocara no dia 11 de Outubro a festa da Maternidade Divina de Maria, em recordação do fato que mil e quinhentos anos antes, em 431, o Concílio de Éfeso tinha solenemente reconhecido a Maria esse título, para expressar assim a união indissolúvel de Deus e do homem em Cristo. O Papa João XXIII fixara o início do Concílio para tal dia com o fim de confiar a grande assembleia eclesial, por ele convocada, à bondade materna de Maria e ancorar firmemente o trabalho do Concílio no mistério de Jesus Cristo. Foi impressionante ver entrar os bispos provenientes de todo o mundo, de todos os povos e raças: uma imagem da Igreja de Jesus Cristo que abraça todo o mundo, na qual os povos da terra se sentem unidos na sua paz”. Poderíamos dizer, com serenidade e convicção, que o Papa Bento XVI, entre os padres conciliares – hoje, memória viva daqueles tempos de arroubos para teólogos e observadores convidados para o extraordinário evento, inclusive, com membros de outras grandes religiões, e de muitos leigos – olha e vê a Igreja de Cristo pelo lado de dentro, tendo acompanhado, com seu olhar atento e crítico, as últimas vicissitudes internas e externas do momento atual da Igreja de Cristo. 

Com a abertura do Ano da Fé, no dia 11 de outubro de 2012, o Papa Bento XVI fez coincidir também o “Sínodo dos Bispos”, cujo tema é “A nova evangelização para a transmissão da Fé cristã”. Trata-se de um momento de conversa e diálogo em que o tema principal é a urgente necessidade que a Igreja sente para relançar o anseio de que a “nova evangelização” reacenda os ânimos, a fim de anunciar Jesus Cristo e defender a fé de seus seguidores. Uma das inquietações do Santo Padre, nesse momento grave da história da humanidade, é fazer com que os cristãos católicos, alimentados doutrinalmente e fortalecidos na sua fé, possam intensificar ainda mais sua amizade com Cristo, núcleo da pregação e motivação da própria fé. 

Relembrando os dias do Concílio e as circunstâncias daquele momento, o Papa reconhece que “havia uma tensão emocionante, em relação à tarefa comum de fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé no hoje do nosso tempo, sem sacrificá-la frente às exigências do presente, nem mantê-la presa ao passado: na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não torna a repetir-se. Por isso, julgo que a coisa mais importante, especialmente numa ocasião tão significativa como a presente, seja reavivar em toda a Igreja aquela tensão positiva, aquele desejo ardente de anunciar novamente Cristo ao homem contemporâneo”. E continuava: “Mas para que este impulso interior à nova evangelização não seja só um ideal e não peque de confusão, é necessário que ele se apoie sobre uma base de concreta e precisa, e esta base são os documentos do Concílio Vaticano II, nos quais este impulso encontrou a sua expressão”. Tantos anos passados, o Papa Bento XVI tem consciência de que houve muita indisposição e má interpretação dos documentos do Concílio, quando não, rejeição. Segundo ele, “a referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrônicas como de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade. O Concílio não excogitou nada de novo em matéria de fé, nem quis substituir aquilo que existia antes. Pelo contrário, preocupou-se em fazer com que a mesma fé continue a ser vivida no presente, continue a ser uma fé viva em um mundo em mudança”. 

Em face dos desafios da fé cristã que já desapareceu de vários setores da sociedade moderna, o Papa Bento XVI é categórico quando insiste que “nos últimos decênios tem-se visto o avanço de uma ‘desertificação’ espiritual. Qual fosse o valor de uma vida, de um mundo sem Deus, no tempo do Concílio já se podia perceber a partir de algumas páginas trágicas da história, mas agora, infelizmente, o vemos ao nosso redor todos os dias. É o vazio que se espalhou. No entanto, é precisamente a partir da experiência deste deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer, a sua importância vital para nós homens e mulheres. No deserto é possível redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda que muitas vezes expressos implícita ou negativamente. E no deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança. A fé vivida abre o coração à Graça de Deus que liberta do pessimismo. Hoje, mais do que nunca, evangelizar significa testemunhar uma vida nova, transformada por Deus, indicando assim o caminho”. 
Por conseguinte, Igreja de Cristo nunca se cansará de fazer o mesmo apelo aos cristãos, intimados por Cristo a se tornarem “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14), a fim de que sua verdade seja fecundada e brilhe nos corações, não obstante a aparente esterilidade disseminada no acolhimento ao seu testemunho e à sua palavra.