ÁGUIAS QUE VOAM ALTO
Águias que voam alto também devem saber fazer voos rasantes! Quem se preparou para correr muitos quilômetros, também deve estar aberto à possibilidade de chegar somente até o meio do caminho; quem pensou em escrever muitas páginas de um livro, também pode deleitar-se apenas com a beleza de um breve poema; quem imaginou viver cem anos, também pode ser constrangido a ter de abreviar a existência para vinte e cinco; quem excogitou vencer muitos prêmios, também pode contentar-se com os louros fortuitos de momentos esporádicos de vitória; quem se preparou para altas ondas, também pode apreciar o balanço suave das maretas; quem sonhou a vida brilhando de felicidade, também pode habituar-se a situações de tristeza...
Essas frases de pensamentos cortados vieram-me à mente quando vi o meu último texto – “Vinde e vereis” – enviado para esse distinto Jornal, retalhado e reduzido a periódicos semanais do “continua próxima semana”, sem nem sequer ter sido consultado ou ouvido propostas dos seus dirigentes, que me confiaram, há mais de um ano, a responsabilidade e a competência de ocupar o espaço com minha colaboração semanal! Confesso que ver o meu texto truncado, não me agradou. Eu não escrevo novelas com cenas para o próximo capítulo. No entanto, reconheço que nem todo mundo é capaz de ler um texto prolixo com perseverança e serenidade. A impaciência é própria dos tempos modernos. O fato é que escrever não é uma tarefa fácil. Na verdade, a composição de um texto literário requer muita leitura, disposição de tempo, sabedoria e criatividade, a fim de que o justo caminho das letras encontre a constituição das ideias. A inspiração não brota em mentes preguiçosamente ociosas. Mas escrever pouco também é uma maneira de demonstrar a capacidade intelectiva em abordar a corrente dos pensamentos sem cansar o leitor.
Claro que, se formos criticamente honestos com a nossa inteligência, não podemos deixar de reconhecer que, em muitos tabloides apresentados aos nossos olhos, há muito espaço dedicado à baboseira infrutífera de raciocínios que se arrastam do nada à coisa alguma, tudo fruto de uma sociedade vazia de sentido e superficial na mediocridade nossa de cada dia.
Enfim, vamos considerar que essa seja uma nova fase de minha colaboração no preparo esmerado do constitutivo, presente e distinto Jornal de Aracaju. Com efeito, se os bons são omissos, como não nos admirar com o avanço e o progresso dos maus? Pois bem, reflitamos sobre a questão!