segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Aos 50 anos de VidA...

 

Aos50AnoSdeVidA

 

(1970-2020)

A história pessoal não se acaba quando deixamos de existir, sobretudo se tivermos tido a oportunidade de deixar alguma coisa escrita como legado ou herança literária de nossa passagem pela Terra, mesmo que ela contenha nossas próprias inquietações ou insuficiências existenciais. Sim, a história cronobiográfica de uma pessoa não se acaba quando sua vida se fecha na morte! Por isso, à primeira vista, ao primeiro lance curioso do olhar, o tema desse livro não me parece muito comum. Não faz parte de conversas sociais de círculos que se assentam ao redor das mesas nem nos cafés ou nos banquetes festivos dos sorvedores da reflexão humana. Todavia, “às portas da morte, o ser humano recolhe [todas as] suas máscaras e fala sem disfarce”. (Cury).

Marcados que somos pelo envelhecimento natural das vísceras que nos albergam no organismo e pela decorrente consequência da paralisação das articulações biofísicas por todas as resistências da nossa vontade, mas também da incoercibilidade do tempo, não apenas devemos partir como devemos nos permitir a chance da despedida. Com efeito, a cada instante que passa nos despedimos mais um pouco das belezas transitórias da existência, mesmo que a despedida última seja um adeus sem o assentimento pleno da vontade. No entanto, ele precisa ser processado em vista de todas as incongruências inevitáveis do existir. Assim, vamos adiante, até depois do túmulo, em direção à luminosidade intensa e definitiva que nos aguarda do outro lado da sobre-existência pessoal, incomunicável e derradeira. Por isso, sempre me alegro e agradeço por ter vivido mais do que outras pessoas – entre artistas, músicos, escritores, poetas, doutores, filósofos, et alii, famosos ou anônimos, que viajaram mais rapidamente pelo sopro breve da vida – também não por ter sido mais digno ou mais merecedor do que eles. Simplesmente por ter sido meu tempo e minha oportunidade.

Os projetos para a vida de cada pessoa é um segredo dos céus. E não nos foi dado conhecer, até o fim da estrada, o alcance de nossa travessia. Mas vamos seguindo até aonde der e for possível. É o mistério inaudito da nossa perpétua ignorância quanto às curvas cronológicas da estrada individual que percorremos na solidão de nós mesmos. No entanto, não precisamos esperar a morte chegar para descobrirmos até onde poderemos viver. Simplesmente, vivamos intensamente a vida que ainda nos resta por viver, pois, às vezes, o absurdo do mistério da existência é justamente seu desfecho inesperado ou violentamente cortado.

Refletir sobre a morte é a possibilidade que temos para repensar a vida e cultivar melhor seus valores mais sagrados, porque “morrer é uma questão de tempo”. (Santos). E, embora o pensamento preceda à escrita, somente a escritura pode favorecer-nos o amadurecimento do sentido buscado no entretenimento das ideias.