Dias
extraordinários no Vaticano!
Durante esses dias, algo de
extraordinário tem acontecido no Vaticano. O Santo Padre, o Papa Bento XVI, reúne-se
com bispos do mundo inteiro para mais um Sínodo, que já está na XIII edição. Mas
quem é que está sabendo disso? Infelizmente, os maios de comunicação pouco se
interessam por eventos edificantes realizados pela Igreja Católica, quando ela
se preocupa em tentar chamar a atenção do homem para as coisas mais profundas
de sua alma e de seu espírito, como a própria necessidade de Deus, que o criou
“à sua imagem e semelhança” (Gn 1,27).
Às vezes, nenhuma linha de informação
leva em consideração o imenso esforço que a Igreja faz para livrar o homem da
“desertificação espiritual” (Bento XVI) em que ele vive mergulhado, sempre em
maior profundidade, por conta de sua petulância e espírito de autossuficiencia,
tentando esconder-se de seu criador. Estivesse o vento da maldade soprando mais
uma página dos escândalos da Igreja, e, então, sim, veríamos estampada em todos
os jornais e nos meios de comunicação imagens inteiras do Papa, exposto ao
ridículo pela fúria canina de seus inimigos, que não conseguem ver uma coisa
positiva no Papa nem na Igreja. Mas a bondade silenciosa da Igreja não dá ibope,
embora ela não esteja atrás disso. Jesus Cristo não foi um pop star que angariava aplausos do seu público nem do seu
auditório. A Igreja comporta-se do mesmo modo. No entanto, não seria nada demais
a mídia, nacional e internacional, noticiar as coisas boas que a Igreja realiza
em prol da humanização do homem – estranha constatação! – que tem se tornado a
besta fera incontrolável de seu animal interior. De fato, o humanismo cristão
ainda pode ser uma resposta condigna aos desafios da sociedade moderna que
enfrenta a minimalização dos atributos do próprio ser humano, detonado pelo
comportamento abusivo de si mesmo, contra si mesmo, na crescente degradação de
seus valores mais primários.
Lutamos por liberdade, e nos tornamos
prisioneiros da corrupção e da imoralidade; conquistamos a liberdade de
expressão, e pensamos poder denegrir a Catolicismo com as charges mais absurdas
e estereotipadas pela criatividade maligna de quem se sente acima de qualquer
suspeita, afirmando, inclusive, não ter intenção de ofender ninguém; queremos
ser donos de nós mesmos, mas não assumimos as consequências devastadoras de nossas
escolhas; buscamos o bem-estar físico e material, e nos esquecemos de que temos
uma alma da qual devemos prestar contas a Deus; agarramo-nos à ciência
tecnológica, que pode prolongar nossa vida por mais alguns dias, e olvidamos
que, mais cedo ou mais tarde, o auge da vida desemboca na morte; sofremos as
dilacerações interiores do espírito, do homem velho e caduco pela força do
pecado, e não reconhecemos que Cristo é a possibilidade de nossa perfeição
espiritual; enfim, somos sempre devedores de nós mesmos, pelas displicências e
incúrias com a verdadeira essência de nossa humanidade. Contra tudo isso, a
Igreja de Cristo preocupa-se em levar a todos um sinal de esperança pela
pregação do Evangelho de Cristo, cuja força salvadora atua pelo poder do
próprio Cristo, morto e ressuscitado. E essa é uma das razões pela quais o Papa
e os Bispos reúnem-se no Vaticano, no intento de dar novo impulso missionário e
evangelizador à Igreja dispersa pelo mundo inteiro.
Dentro desse contexto de atualização do
ardor missionário da Igreja, o Papa Bento XVI, lembrou a abertura do Concílio
Vaticano II, do qual ele mesmo teve o privilégio de participar como jovem
teólogo, aos 35 anos, “consultor” do Cardeal Frings, tendo sido por ele
indicado. Assim, ele contou: “Foi um dia maravilhoso aquele 11 de Outubro de 1962
quando, com a entrada solene de mais de dois mil Padres conciliares na Basílica
de São Pedro em Roma, se abriu o Concílio Vaticano II. Em 1931, Pio XI colocara no dia 11
de Outubro a festa da Maternidade Divina de Maria, em
recordação do fato que mil e quinhentos anos antes, em 431, o Concílio de Éfeso
tinha solenemente reconhecido a Maria esse título, para expressar assim a união
indissolúvel de Deus e do homem em Cristo. O Papa João XXIII fixara o início do
Concílio para tal dia com o fim de confiar a grande assembleia eclesial, por
ele convocada, à bondade materna de Maria e ancorar firmemente o trabalho do
Concílio no mistério de Jesus Cristo. Foi impressionante ver entrar os bispos
provenientes de todo o mundo, de todos os povos e raças: uma imagem da Igreja
de Jesus Cristo que abraça todo o mundo, na qual os povos da terra se sentem
unidos na sua paz”. Poderíamos dizer, com serenidade e convicção, que o Papa
Bento XVI, entre os padres conciliares – hoje, memória viva daqueles tempos de
arroubos para teólogos e observadores convidados para o extraordinário evento, inclusive,
com membros de outras grandes religiões, e de muitos leigos – olha e vê a
Igreja de Cristo pelo lado de dentro, tendo acompanhado, com seu olhar atento e
crítico, as últimas vicissitudes internas e externas do momento atual da Igreja
de Cristo.
Com a abertura do Ano da Fé, no dia 11 de outubro de 2012, o Papa Bento XVI fez
coincidir também o “Sínodo dos Bispos”, cujo tema é “A nova evangelização para a transmissão da Fé cristã”. Trata-se de
um momento de conversa e diálogo em que o tema principal é a urgente
necessidade que a Igreja sente para relançar o anseio de que a “nova
evangelização” reacenda os ânimos, a fim de anunciar Jesus Cristo e defender a
fé de seus seguidores. Uma das inquietações do Santo Padre, nesse momento grave
da história da humanidade, é fazer com que os cristãos católicos, alimentados
doutrinalmente e fortalecidos na sua fé, possam intensificar ainda mais sua
amizade com Cristo, núcleo da pregação e motivação da própria fé.
Relembrando os dias do Concílio e as circunstâncias
daquele momento, o Papa reconhece que “havia uma tensão
emocionante, em relação à tarefa comum de fazer resplandecer a verdade e a
beleza da fé no hoje do nosso tempo, sem sacrificá-la frente às exigências do
presente, nem mantê-la presa ao passado: na fé ecoa o eterno presente de Deus,
que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não
torna a repetir-se. Por isso, julgo que a coisa mais importante, especialmente
numa ocasião tão significativa como a presente, seja reavivar em toda a Igreja
aquela tensão positiva, aquele desejo ardente de anunciar novamente Cristo ao
homem contemporâneo”. E continuava: “Mas para que este impulso interior à nova
evangelização não seja só um ideal e não peque de confusão, é necessário que
ele se apoie sobre uma base de concreta e precisa, e esta base são os
documentos do Concílio Vaticano II, nos quais este impulso encontrou a sua
expressão”. Tantos anos passados, o Papa Bento XVI tem consciência de que houve
muita indisposição e má interpretação dos documentos do Concílio, quando não,
rejeição. Segundo ele, “a referência aos documentos protege dos extremos tanto
de nostalgias anacrônicas como de avanços excessivos, permitindo captar a
novidade na continuidade. O Concílio não excogitou nada de novo em matéria de
fé, nem quis substituir aquilo que existia antes. Pelo contrário, preocupou-se
em fazer com que a mesma fé continue a ser vivida no presente, continue a ser
uma fé viva em um mundo em mudança”.
Em face dos desafios da fé cristã que já
desapareceu de vários setores da sociedade moderna, o Papa Bento XVI é
categórico quando insiste que “nos últimos decênios tem-se visto o avanço de
uma ‘desertificação’ espiritual. Qual fosse o valor de uma vida, de um mundo
sem Deus, no tempo do Concílio já se podia perceber a partir de algumas páginas
trágicas da história, mas agora, infelizmente, o vemos ao nosso redor todos os
dias. É o vazio que se espalhou. No entanto, é precisamente a partir da
experiência deste deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de
crer, a sua importância vital para nós homens e mulheres. No deserto é possível
redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo
de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda
que muitas vezes expressos implícita ou negativamente. E no deserto existe,
sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem
o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança. A fé vivida
abre o coração à Graça de Deus que liberta do pessimismo. Hoje, mais do que
nunca, evangelizar significa testemunhar uma vida nova, transformada por Deus,
indicando assim o caminho”.
Por conseguinte, Igreja de Cristo nunca se cansará
de fazer o mesmo apelo aos cristãos, intimados por Cristo a se tornarem “sal da
terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14), a fim de que sua verdade seja fecundada e
brilhe nos corações, não obstante a aparente esterilidade disseminada no
acolhimento ao seu testemunho e à sua palavra.