quarta-feira, 30 de abril de 2014

São José de Anchieta



São José de Anchieta 




Depois de muita expectação, finalmente, os cristãos católicos do Brasil têm a oportunidade de chamar o Apóstolo do Brasil de Santo: São José de Anchieta! Beatificado pelo Papa João Paulo II – agora São João Paulo II – quando de sua primeira estada em terras brasileiras, em 1980, no dia 3 de abril de 2014, suspendendo a comprovação de um milagre para sua canonização, o Papa Francisco declarou-o santo por meio de Decreto assinado nesse mesmo dia. Segundo noticiário nacional, quando o Papa Francisco passou pelo Brasil, em julho de 2013, para a Jornada Mundial da Juventude, a CNBB (Conferência nacional dos Bispos do Brasil) teria apresentado ao Romano Pontífice uma carta por meio da qual era solicitada a canonização do Beato José de Anchieta. Ele figurava entre os pioneiros da pregação do Evangelho na Terra de Santa Cruz, tendo por aqui chegado em meados do século XVI com a Congregação fundada por Santo Inácio de Loyola, a dos jesuítas, à qual também pertence o Papa Francisco. 



Uma vida de total desprendimento, como deve ser a dos seguidores de Cristo, fez com que missionários abandonassem a Espanha, uma das nações mais opulentas da época, para se embrenharem nas matas brasileiras, a fim de enfrentarem os desafios de uma aventura espiritual e catequética sem precedentes, numa terra recém-descoberta, cheia de armadilhas e labirintos para novas adaptações. Foi o próprio Santo quem escreveu ao seu superior, afirmando: “De outros muitos poderia contar, máxime escravos, dos quais uns morrem batizados de pouco, outros já há dias que o foram; acabando sua confissão vão para o Senhor. Pelo que, quase sem cessar, andamos visitando várias povoações, assim de Índios como de Portugueses, sem fazer caso das calmas, chuvas ou grandes enchentes de rios, e muitas vezes de noite nos bosques mui escuros a socorrermos aos enfermos, não sem grande trabalho, assim pela aspereza dos caminhos, como pela incomodidade do tempo, máxime sendo tantas estas povoações e tão longe uma das outras, que não somos bastantes a acudir tão várias necessidades, como ocorrem, nem mesmo que fôramos muito mais, não poderíamos bastar. Ajunta-se a isto que, nós outros que socorremos as necessidades dos outros, muitas vezes estamos mal dispostos e, fatigados de dores, desfalecemos no meio do caminho, de maneira que apenas o podemos acabar; assim que não menos parece ter necessidade de ajuda os médicos que os mesmos enfermos. Mas nada é árduo aos que têm por fim somente a honra de Deus e a salvação das almas, pelas quais não duvidarão dar a vida. Muitas vezes, nos levantamos do sono, ora para os enfermos, ora para os que morrem. [...]. Mas bem-aventurados aqueles que morrem no Senhor (Ap 14,13), os quais livres das perigosas águas deste mudável mar, abraçada a fé e os mandamentos do Senhor, são transladados à vida, soltos das prisões da morte, e assim os bem-aventurados êxitos destes nos dão tanta consolação, que pode mitigar a dor que recebemos da malícia dos vivos”. Por certo, um relato comovente, que deixa transparece a aflição dos missionários de Cristo que desgastam sua vida em favor dos irmãos, entre tristezas, alegrias e consolações do espírito. 


No Brasil, a primeira Igreja dedicada a São José de Anchieta está na Arquidiocese de Aracaju, no Bairro Farolândia, e no Conjunto Augusto Franco. De fato, à entrada da porta da Igreja Matriz, há uma placa comemorativa com a seguinte inscrição: “Esta primeira Igreja no Brasil, dedicada ao Bem-aventurado José de Anchieta, foi inaugurada no dia 22 de maio de 1988, sendo Sumo Pontífice o Papa João Paulo II, sendo Arcebispo Dom Luciano José Cabral Duarte, sendo Pároco Pe. Balbino Marques da Silveira. Nossa gratidão ao Dr. Augusto do Prado Franco, que custeou ¾ das despesas, à Adveniat e à Comunidade Paroquial pela colaboração”! Em conversa com Dona Marlene e sua filha Suely, que são pessoas da comunidade que acompanharam o processo de edificação e construção do templo, descobri que a inspiração do nome do Bem-aventurado José de Anchieta para o padroeiro da comunidade veio de uma circunstância de doença do próprio construtor, o Pe. Balbino Marques, que também foi o engenheiro da edificação. Ele revelou que se encontrava gravemente doente em um hospital e ouviu pelo rádio que o Apóstolo do Brasil seria beatificado pelo Papa João Paulo II. Então, ele fez a promessa de que, se ficasse curado e restabelecesse logo sua saúde, onde quer que fosse mandado como pároco, construiria uma Igreja dedicada ao Beato, o que, de fato, aconteceu mais tarde. 



Para que houvesse a mudança do nome da Paróquia, de Beato para São José de Anchieta, o Arcebispo Metropolitano, Dom José Palmeira Lessa, expediu um Decreto assinado por ele e pelo Chanceler do Arcebispado, o Pe. Gilvan Rodrigues dos Santos, que, por sinal, também exerce a função de Vigário Paroquial na referida paróquia. Parte do Decreto dizia: “Pelo presente ato, decretamos que a Paróquia do Bem-aventurado José de Anchieta, no Conjunto Augusto Franco, Bairro Farolândia, na Arquidiocese de Aracaju-SE, criada pelo meu venerável predecessor, Dom Luciano José Cabral Duarte, em 21 de setembro de 1984, a partir do dia 3 de abril de 2014, passa a chamar-se Paróquia São José de Anchieta, por ocasião da canonização desse Apóstolo do Brasil, conforme Decreto assinado por sua Santidade, o Papa Francisco, no Vaticano, no dia 3 de abril de 2014”. 

Em virtude da ocasião, o Bispo de Palmares, Dom Henrique Soares da Costa, despedindo-se ainda de seu tempo como Bispo Auxiliar de Aracaju, presidiu à Santa Missa em ação de graças, na Igreja Matriz do Conjunto Augusto Franco, na véspera do dia 3 de abril. A missa foi concelebrada pelo Pároco, o Vigário Paroquial, o Pe. Gilvan Rodrigues dos Santos, e o sacerdote redentorista, o Pe Carilho, que visitava a comunidade.





No dia 24 de abril de 2014, o Papa Francisco celebrou missa em Ação de Graças pela canonização do santo jesuíta. A celebração aconteceu na Chiesa di Gesù – Igreja de Jesus – em Roma. Trata-se de uma das mais antigas igrejas dos jesuítas no coração da Cristandade. Durante a homilia, o Romano Pontífice asseverou: “São José de Anchieta soube comunicar o que ele mesmo experimentara com o Senhor, aquilo que tinha visto e ouvido dele; o que o Senhor lhe comunicava nos seus exercícios. Ele, juntamente com Nóbrega, é o primeiro jesuíta que Inácio envia para a América. Um jovem de 19 anos... Era tão grande a alegria que ele sentia, era tão grande o seu júbilo, que fundou uma Nação: lançou os fundamentos culturais de uma Nação em Jesus Cristo. Não estudou teologia, também não estudou filosofia, era um jovem! No entanto, sentiu sobre si mesmo o olhar de Jesus Cristo e deixou-se encher de alegria, escolhendo a luz. Esta foi e é a sua santidade. Ele não teve medo da alegria”. E continuou: “São José de Anchieta escreveu um maravilhoso hino à Virgem Maria à Qual, inspirando-se no cântico de Isaías 52, compara o mensageiro que proclama a paz, que anuncia a alegria da Boa Notícia. Ela, que naquela madrugada de Domingo sem sono por causa da esperança, não teve medo da alegria, nos acompanhe no nosso peregrinar, convidando todos a levantar-se, a renunciar às paralisias para entrar juntos na paz e na alegria que nos promete Jesus, Senhor Ressuscitado”.



Tanto tempo decorrido, depois da presença de São José de Anchieta na evangelização do Brasil, sobretudo, dos povos indígenas, para os quais ele escreveu a primeira gramática em tupi-guarani, que ele continue motivando cada cristão a ser missionário em sua própria terra, em cada lar, em cada família, a fim de que o fruto do sacrifício de sua vida derramada em favor dos irmãos seja “semente de novos cristãos”, filhos da Igreja do Senhor e homens de boa vontade na confraternização contínua dos povos do Brasil.