NATAL E TRANSFORMAÇÃO GERACIONAL
O Natal chegando, e nós como iremos celebrá-lo? O
que iremos pedir ao Menino-Deus? O dom maior Deus já nos concedeu em sua
infinita misericórdia: A Salvação em Jesus, cujo nome significa justamente o “Salvador”.
Mas “salvador” de que mesmo? A humanidade, adormecida nos porões da ideologias
modernas, que foram construídas ao longo dos séculos, parece que já o esqueceu.
O homem não é o salvador de si mesmo, apesar de sua luta por emancipação.
Segundo relato bíblico, Deus nos salvou das garras do demônio tentador e de
suas investidas facínoras. Foi quando o “pecado” entrou no mundo pela
desobediência de Adão e Eva. “Pecado” se tornou uma palavra em desuso, e o
instinto das pessoas faz de tudo para tentar esquecê-la, mas não adianta. Ela
está aí diante de nossos olhos, garimpando o comportamento libertino de todos
nós. Recusamos aceitar que não somos criadores, mas criaturas. Criaturas
rebeldes, por sinal! Daí decorre todo tipo de rejeição aos mandamentos, à
atitude religiosa espiritual, ao desejo de superação de si mesmo em relação à
ruína das virtudes, ao melhoramento ético e moral, no sentido do progresso
ascendente no que concerne à vida na graça divina, à conversação e à santidade,
e assim por diante.
O mundo está profundamente marcado pela chamada “desorientação
ontológica” porquanto, desde as origens de nossa formação ou criação
civilizatória – sim, a civilização humana iniciou com Abel e Caim – perdemos o
rumo certo do equilíbrio espiritual ou psíquico interior, da intimidade com
Deus. Tudo isso exigido para nossa felicidade puramente humana, antes da queda.
De lá para cá, todos nós somos vítimas odontológicas da tragédia que trouxe
desarmonia entre o Criador e as criaturas, e entre as próprias criaturas. No
entanto, a chave de recuperação que Deus usou para reabrir o caminho da “reformatio harmoniae” – re-formação da harmonia – foi o envio do
seu Filho Eterno, Jesus Cristo, a fim de ligar de novo a criatura humana ao
Criador. E aqui está o segredo do Mysterium
que celebramos no Natal. Deus, em Jesus, reabre para todos nós a senda do céu.
Todavia, a salvação é um dom oferecido a todos, de modo que é preciso que nós o
queiramos, que nós o aceitemos. Ou seja, o caminho em direção ao inferno – que
existe, independentemente de o aceitarmos ou não – é uma escolha que fazemos
com nossas atitudes contrárias ao convite soteriológico de Deus. Santo
Agostinho é quem o afirma: “Quem te criou sem ti, não te salva sem ti”. Mas
será que nós queremos o céu? Ou preferimos a liberalidade de nossas
conveniências morais, espirituais, éticas, religiosas – criamos nossa própria
religião – etc.?
Então, o tempo do Natal é o momento em que devemos
colocar todas as nossas convicções na balança da ponderação, para decidirmos o
que realmente queremos para nossa felicidade, com Deus ou sem Deus. A decisão é
imperativamente nossa. Infelizmente, vivemos conjunturas sociais de um ateísmo
tão perturbador e estonteante que muitas pessoas pensam poder se liberar de
Deus, de seus juízos, de seu tribunal, diante do qual, um dia, deveremos
comparecer para a prestação de contas da nossa existência. E o tribunal de Deus
é insubornável Diante dele, nenhum álibi nosso será suficientemente
justificável. E não adiante tentarmos fugir, porque, mais cedo ou mais tarde,
todos os nossos esforços de autossuficiência e arrogância se demonstrarão
inúteis, não terão servido para nada. Talvez, por isso, diante das incertezas
ou de nossas próprias incongruências humanas, pensemos em poder zombar de Deus
e de seu Filho Jesus. Um comportamento aberrante e desrespeitoso que mancha de
ignomínia e indignação o devido respeito à liberdade religiosa. Acintes e
provocações desse tipo não melhoram em nada, por exemplo, o mesmo respeito que
muitos artistas tentam impingir dos outros em nome do que eles, alucinada e
cinicamente, consideram ser “cultura” ou “liberdade de expressão”. Mas, a seu
tempo, cada um pagará a sua conta, porque a história é implacavelmente
vingativa e, oportunamente, apresentar-lhes-á a devida conta.
Ninguém pense que Deus possa descer ao nível de
nossas mediocridades. Vez por outra, recebo mensagens equivocadas de pessoas
que imaginam que a Igreja do Papa Francisco está trazendo inovações, a ponto
de, por exemplo, mudar a doutrina da fé católica, escancarando as portas a todo
tipo de conveniências morais, espirituais, etc., segundo os gostos da
modernidade. Há inclusive quem deseja que, um dia, a Igreja de Cristo possa “ter
cara e pensamento condizentes com o século XXI”. Quem assim o espera, saiba que
se trata de um “desejo sem esperança”, para recorrer a uma frase de Dante
Alighieri na Divina Comédia. Nunca, jamais, a Igreja se tornará aliada do mundo
contra a riqueza de sua doutrina, com fundamentação nos Evangelhos. Isso não
significa dizer que não possamos fazer nossas escolhas, determinar nossas
orientações, afinal de contas, o mesmo Deus que nos criou livres, jamais se
colocará contra o dom da liberdade que também nos concedeu. Contudo, ninguém se
engane, pois ela também terá o seu preço, e a própria humanidade tem dado sinal
de cansaço.
Nossa humanidade é um cansaço crônico, histórico,
gravado pelas consequências da desobediência de Adão. Mas, a cada Natal, a
misericórdia divina vem nos advertir de que, não obstante tudo, ainda existe a
esperança da regeneração. O Emanuel, o Deus conosco não nos abandona, nem mesmo
quando parecemos à deriva, desorientados, sem bússola pelo mar agitado das
feridas mais profundas de nossas inquietações interiores. Transformando a cada
um de nós, ele também pode trazer a transformação
geracional dos povos, conforme os ditames de seu poder Salvador, porque ELE É O SALVADOR... (PGRS).
Feliz Natal, com Jesus, o Salvador!