Estresse Informativo ou fastio webiano?
Na
era digital, com o avanço galopante da tecnologia moderna, vivemos verdadeiro
tsunami de informações instantâneas, que estão assoberbando nossa capacidade de
apreensão e triagem em relação ao que ler ou acolher como relevante. São tempos
de estresse informativo, com acentuada dependência tecnológica digital. E,
então, basta um apagão momentâneo do efeito dos aplicativos, e o caos se
instala dentro no circuito da nossa maníaco-compulsão interativa nas redes
sociais.
Senhoras
do cotidiano, as informações chegam instantaneamente, varrendo o controle e o
equilíbrio da curiosidade. Paramos tudo e nos voltamos aos imperativos das
máquinas ao alcance da mão. Perdemos a concentração, nos dispersamos na atenção
ao essencial, e corremos, infrenes, pressurosos, na aceleração pisada pelas
novidades. Saímos do eixo gravitacional de nós mesmos, de nossa substância, das
motivações mais sublimes de nossa própria identidade, abraçada pela
convivência. Fugimos do âmago fundamental do que somos e permanecemos à
superfície das frivolidades do inconsciente.
Em
algumas postagens, percebemos repetições irrefletidas de pensamentos alheios, e
nem paramos para refletir se são verdadeiros, se valem a pena ser “copiados” e “colados”.
Quando não plagiamos, cinicamente, as ideias os outros. Simplesmente,
reproduzimos a intenção malevolente de terceiros e não ponderamos a
importância, ou não, do conteúdo ali depositados. Somos vorazes na repetição do
que os outros querem nos fazer ver, sem a possibilidade da discussão dialética
de sua veracidade. Desse modo, acabamos nos tornando reprodutores mecânicos,
autômatos da inspiração alienígena.
A
tecnologia está nos emburrecendo!
Pensemos, por exemplo, nos números de telefones que guardamos na memória!
Fiquei assustado! Não consegui lembrar nem dez números. Antigamente, o gesto
repetivo de pressionar a tecla dos aparelhos analógicos nos permitia gravar e
registrar na mente os algarismos mais frequentemente indigitados. Na
hodiernidade, isso está cada dia mais esporádico e difícil. Tudo está
memorizado nos aparelhos tecnológicos, na memória externa, e o mesmo acontece
em relação às investidas do saber. Tudo está depositado, ali, nos sítios
informativos de todo tipo de conhecimento. Sem falar das assinaturas em
aplicativos ou de outros expedientes de interesse da freguesia. Basta a
inscrição para que automaticamente cheguem até as malhas da comunicação as
notificações. São informações tão saturadas de conteúdos variados que não
estamos dando conta de tudo isso. Assim, conectados, se não formos vigilantes,
perderemos muito tempo precioso garimpando coisas que podem nos informar, mas não
nos formam, não acrescentam nada à essência do que já somos. Trata-se de uma
perda de tempo desorganizado, sem proveito nenhum.
Não
obstante todos os benefícios das redes sociais, elas ainda têm causado muita
dependência tecnológica e, em certo sentido, também está desumanizando as
pessoas, sobretudo, quando se age como se do outro lado da tela fria não
houvesse uma pessoa, de carne e osso, plena de sensibilidade e sentimentos. É
quando aparecem os xingamentos, os desabafos sentimentais, as ironias dialéticas,
as provocações inconvenientes, enfim, as hostilidades patrocinadas pela aparente
distância das vítimas das “turbulências afetivas”. Mas depois dos excessos, vem
o fastio. Eu chamá-lo-ia de “fastio webiano”. Os sinais de cansaço começam a aparecer.
Pelo que percebemos, aos poucos, menos pessoais estão frequentando as redes
sociais. Encontro-me entre elas. Saí definitivamente do Facebook! A intenção é a
de priorizar outros aspectos mais importantes e substanciais do que me
interessa no momento, não somente de formação acadêmica, mas também de avanços
pessoais no equilíbrio das pesquisas e investigações. Muitos amigos também
estão nessa de um tempo de repouso ou descanso do Facebook. Pode até parecer um
contrassenso, andar na contramão da modernidade. Contudo, um pouso de deserto
pode ajudar-nos a nos conectar mais com nós mesmos no frescor e no aconchego do
oásis interior, tanto quanto em relação às pessoas que nos cercam, com as quais convivemos diariamente. Menos tempo nas redes, mais tempo nas teias diretas dos relacionamentos.
Se
antes a vida estava exposta à infinidade de curiosos, críticos e censores, sem
falar daqueles com quem se tornou impossível dialogar, tão penetrados de
ideologias nocivas, facínoras ou homicidas, destruidoras até de bonitas
amizades, agora, fora dessa dimensão da virtualidade tecnológica, que reine a
paz e a tranquilidade, longe dos holofotes indiscretos dos fofoqueiros de
plantão, dos invejosos e dos maledicentes. E o que dizer, então, dos
carniceiros, para os quais “besteira pouca é bobagem?”. Se a desgraça posta nas
redes sociais não for imensa, bem catastrófica, ninguém demonstra interesse, de
modo que ficamos expostos aos abutres necrofágicos da sociedade.
Quanto
ao mais, a vida real mostrará melhor os amigos de verdade que colecionamos
durante a existência. Esses saberão onde, quando e como tempestivamente nos
encontrar. (PGRS).