segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Estresse informativo ou fastio webiano?


Estresse Informativo ou fastio webiano?

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Na era digital, com o avanço galopante da tecnologia moderna, vivemos verdadeiro tsunami de informações instantâneas, que estão assoberbando nossa capacidade de apreensão e triagem em relação ao que ler ou acolher como relevante. São tempos de estresse informativo, com acentuada dependência tecnológica digital. E, então, basta um apagão momentâneo do efeito dos aplicativos, e o caos se instala dentro no circuito da nossa maníaco-compulsão interativa nas redes sociais.
Senhoras do cotidiano, as informações chegam instantaneamente, varrendo o controle e o equilíbrio da curiosidade. Paramos tudo e nos voltamos aos imperativos das máquinas ao alcance da mão. Perdemos a concentração, nos dispersamos na atenção ao essencial, e corremos, infrenes, pressurosos, na aceleração pisada pelas novidades. Saímos do eixo gravitacional de nós mesmos, de nossa substância, das motivações mais sublimes de nossa própria identidade, abraçada pela convivência. Fugimos do âmago fundamental do que somos e permanecemos à superfície das frivolidades do inconsciente.
Em algumas postagens, percebemos repetições irrefletidas de pensamentos alheios, e nem paramos para refletir se são verdadeiros, se valem a pena ser “copiados” e “colados”. Quando não plagiamos, cinicamente, as ideias os outros. Simplesmente, reproduzimos a intenção malevolente de terceiros e não ponderamos a importância, ou não, do conteúdo ali depositados. Somos vorazes na repetição do que os outros querem nos fazer ver, sem a possibilidade da discussão dialética de sua veracidade. Desse modo, acabamos nos tornando reprodutores mecânicos, autômatos da inspiração alienígena.
A tecnologia está nos emburrecendo! Pensemos, por exemplo, nos números de telefones que guardamos na memória! Fiquei assustado! Não consegui lembrar nem dez números. Antigamente, o gesto repetivo de pressionar a tecla dos aparelhos analógicos nos permitia gravar e registrar na mente os algarismos mais frequentemente indigitados. Na hodiernidade, isso está cada dia mais esporádico e difícil. Tudo está memorizado nos aparelhos tecnológicos, na memória externa, e o mesmo acontece em relação às investidas do saber. Tudo está depositado, ali, nos sítios informativos de todo tipo de conhecimento. Sem falar das assinaturas em aplicativos ou de outros expedientes de interesse da freguesia. Basta a inscrição para que automaticamente cheguem até as malhas da comunicação as notificações. São informações tão saturadas de conteúdos variados que não estamos dando conta de tudo isso. Assim, conectados, se não formos vigilantes, perderemos muito tempo precioso garimpando coisas que podem nos informar, mas não nos formam, não acrescentam nada à essência do que já somos. Trata-se de uma perda de tempo desorganizado, sem proveito nenhum.
Não obstante todos os benefícios das redes sociais, elas ainda têm causado muita dependência tecnológica e, em certo sentido, também está desumanizando as pessoas, sobretudo, quando se age como se do outro lado da tela fria não houvesse uma pessoa, de carne e osso, plena de sensibilidade e sentimentos. É quando aparecem os xingamentos, os desabafos sentimentais, as ironias dialéticas, as provocações inconvenientes, enfim, as hostilidades patrocinadas pela aparente distância das vítimas das “turbulências afetivas”. Mas depois dos excessos, vem o fastio. Eu chamá-lo-ia de “fastio webiano”. Os sinais de cansaço começam a aparecer. Pelo que percebemos, aos poucos, menos pessoais estão frequentando as redes sociais. Encontro-me entre elas. Saí definitivamente do Facebook! A intenção é a de priorizar outros aspectos mais importantes e substanciais do que me interessa no momento, não somente de formação acadêmica, mas também de avanços pessoais no equilíbrio das pesquisas e investigações. Muitos amigos também estão nessa de um tempo de repouso ou descanso do Facebook. Pode até parecer um contrassenso, andar na contramão da modernidade. Contudo, um pouso de deserto pode ajudar-nos a nos conectar mais com nós mesmos no frescor e no aconchego do oásis interior, tanto quanto em relação às pessoas que nos cercam, com as quais convivemos diariamente. Menos tempo nas redes, mais tempo nas teias diretas dos relacionamentos. 
Se antes a vida estava exposta à infinidade de curiosos, críticos e censores, sem falar daqueles com quem se tornou impossível dialogar, tão penetrados de ideologias nocivas, facínoras ou homicidas, destruidoras até de bonitas amizades, agora, fora dessa dimensão da virtualidade tecnológica, que reine a paz e a tranquilidade, longe dos holofotes indiscretos dos fofoqueiros de plantão, dos invejosos e dos maledicentes. E o que dizer, então, dos carniceiros, para os quais “besteira pouca é bobagem?”. Se a desgraça posta nas redes sociais não for imensa, bem catastrófica, ninguém demonstra interesse, de modo que ficamos expostos aos abutres necrofágicos da sociedade.
Quanto ao mais, a vida real mostrará melhor os amigos de verdade que colecionamos durante a existência. Esses saberão onde, quando e como tempestivamente nos encontrar. (PGRS).