Pe. Luiz Lemper
e o sonho Missionário
(1937-2020)
Ninguém
sabia, mas eu vou dizer: Eu teria sido o primeiro vigário paroquial do
Pe. Luiz Lemper, assim que fui ordenado sacerdote em 1998. Digo isso para
recordar, com gratidão a Deus o dom de sua existência no primeiro ano de seu
falecimento. Na verdade, aportando em terras brasileiras em 1974, quando eu
tinha apenas 4 anos de idade, vindo da Alemanha, seu apostolado se desenvolveu
na grande e imensa dimensão territorial da Arquidiocese de Aracaju, que se
estendia desde a Praia 13 de julho à região sul da Capital, como Atalaia,
Farolândia, Santa Tereza, Santa Maria, Mosqueiro, Robalo, Terra Dura, entre
outras naquela direção. Era a Igreja menina da Arquidiocese que se tornava mãe
de muitas paróquias sob o olhar sereno e evangelizador de seu pastoreio. Desse
modo, foi que aquelas freguesias de sua missão se tornaram também focos de
evangelização e centros comunitários de experiências eclesiais.
O fato é que as vicissitudes
da Igreja particular de Aracaju havia inicialmente me indicado para ser o seu
vigário paroquial. Contudo, os ventos da história fizeram-me desembarcar em
Rosário do Catete. Na ponta daqueles acontecimentos estava o então pároco da
catedral, o Pe. Gilson Garcia, que era o elo mais imediato da comunicação
arquidiocesana, porque o summus episcopus
estava viajando. De fato, eu ainda era diácono e, um dia, fui à Catedral
Metropolitana para participar da Santa Missa, que seria presidida pelo, então,
Cônego Gilson Garcia de Melo. Na catedral, na hora do abraço da paz, ele se
dirigiu a mim e me disse, sem cerimônia: “Paz de Cristo, meu Pároco!”. Claro que
entendi o recado, e pensei: “Ele é filho de Rosário do Catete. Logo, não seria
novidade nenhuma eu ir trabalhar naquela cidade do interior do Estado”.
Evidentemente, essa ideia me veio porque, em outra ocasião, ele me havia feito
um questionamento suspeito, a pedido do Arcebispo, que se encontrava na Europa
e lhe pediu que me consultasse: “O que você acharia se fosse trabalhar numa
pequena cidade do interior do Estado? Ou será que você só poderia se sentir bem
no meio da intelectualidade?”. Sobre o ambiente “da intelectualidade”,
compreendi que ele se referia ao Seminário Maior, que deveria ser um ambiente
de cultura, um laboratório de intelectualidades, enquanto casa de formação,
onde eu havia morado durante onze anos, quatro em Aracaju e sete em Brasília,
antes de tornar-me sacerdote. Dentro do espaço dialético, aconteceu um fato
curioso: o Chanceler do Arcebispado telefonou-me para dizer que eu não iria
mais para a Terra Dura, conforme a solicitação do Arcebispo. Destarte, mesmo
ciente de que não iria mais para aquela localidade, fui conversar com o Padre
Luiz Lemper para ver as questões sobre o dia da apresentação e dos trabalhos na
Paróquia. Isso aconteceu pelo fato de que ele era membro do Conselho
Presbiteral da Arquidiocese e não sabia das mudanças acontecidas nem eu poderia
contar-lhe, a fim de evitar desnecessários aborrecimentos. Diante das novas
conjunturas daquele momento, no dia 21 de fevereiro, fui empossado em Rosário
do Catete.
Em Aracaju, existe um
conjunto com o seu nome: Conjunto Padre Luiz Lemper. Trata-se de uma digna
homenagem ao grande empreendedor da evangelização numa vasta região da
arquidiocese.
Segundo o Pe. Videlson Teles,
o sonho missionário do Pe. Luiz Lemper nasceu com a ordenação sacerdotal, por influência
de uma amigo franciscano, Frei Afonso Schumaker, também sacerdote, que viria às
Terras de Santa Cruz. Filhos da mesma cidade e povoado germânico. No entanto, por
exigência do seu bispo, a concretização aconteceu dez anos depois, quando,
enfim, ele pôde aportar em terras latino-americanas. Veio, então, para o Brasil,
vivendo as estações missionárias em Aracaju. Chegou de navio, ao Rio de Janeiro.
Aqui fora acolhido por Dom Luciano Duarte (1925-2018), que possuía uma visão eclesiológica
mais universal dos desafios pastorais. Ao chegar, assumiu a Igreja São Pedro e São
Paulo, no Bairro Praia 13 de Julho. Como missionário, abriu o caminho das paróquias
abraçadas pela extensão territorial até o Mosqueiro, que hodiernamente contempla muitas paróquias. Trabalhou também para os pobres, construindo casas;
contribuiu na formação de leigos e leigas, sobretudo catequistas; edificou a
casa de retiro da Santíssima Trindade no Povoado Areia Branca, onde são realizados
encontros de formação e retiro espiritual para vários grupos eclesiais. Ao longo
desse tempo, demonstrou-se incansável no pastoreio por onde passava. Para muito
do sonho missionário de construção e edificações de capelas e igrejas, ele
contou com a ajuda de recursos financeiros trazidos da Europa. Foi um homem de Deus,
de oração, bastante presente na vida das comunidades. No final dos seus dias,
foi transferido para sua terra natal, em 2014, onde viveu a última etapa de sua
vida terrestre. Faleceu, portanto, em 2020.
Na verdade, a Igreja no Brasil
sempre foi muito bem assistida e favorecida com a presença de muitos sacerdotes
estrangeiros, num tempo em que as vocações sacerdotais e religiosas eram
escassas, também na Arquidiocese de Aracaju. Esses homens, com tantas mulheres também
generosas no âmbito da missão, precisam ser lembrados pela generosidade com que
entregaram sua vida às comunidades cristãs católicas. A memória deve ser um
tributo da consciência ao mérito dos aventureiros da cristandade. Mas
infelizmente nos esquecemos disso com facilidade. Inúmeros missionários na arquidiocese
deram a vida pelo chão batido da incipiência evangelizadora. Hoje, olhando o
horizonte eclesial que nos golpeia, não podemos nos esquecer de que seus
albores não foram frutos da nossa boa vontade ou doação exclusiva. A história é
um crescendo pela qual passamos, talvez, semeando a nossa colaboração, mas ela
segue adiante, vinda do ontem, contemplada no agora, que escoa para os atos
constitutivos do futuro. Ela não é mérito somente nosso. Seria egoísmo demais pensar assim. Os ciclos avançam linearmente na cronologia dos fatos, mas, cada
um, ao seu modo, ao nível de sua generosidade, põe os tijolos efetivos da construção
material e espiritual da Igreja viva do Senhor.
O Pe. Luiz Lemper é apenas um modelo, um exemplo, de tantos outros, italianos, franceses, belgas, austríacos, espanhóis et alii, que chegaram até nós atravessando por mares “nunca d’antes navegados”. Aqui, eles plantaram a marca da sua doação, da sua entrega ao serviço discreto da evangelização. A todos, enfim, na pessoa do sacerdote de quem fazemos tempestiva memória, o tributo de nossa gratidão, do nosso reconhecimento. (PGRS).