Uma manjedoura cheia de graça
Uma manjedoura cheia
de graça! Também não poderia ser diferente. O cocho no qual é colocado o feno e
o capim para alimentar os animais, tornou-se o lugar do pequeno menino nascido
em Belém – em hebraico “Betlehem” que
significa “casa do pão” – não para ser capim, mas alimento vivo que sacia a
fome de eternidade que o homem carrega dentro de si pela vida afora. A saudade
de Deus é preenchida somente por Deus.
Daí a expressão de
Santo Agostinho, logo no início, na primeira página de suas “Confissões”:
“Fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em
ti”. É por isso que ele veio ao nosso encontro, buscando-nos onde quer que nos
encontremos perdidos no espaço físico, espiritual ou interior de nós mesmos. O
sonho de Deus chega carregado de Si próprio na manifestação plena de sua
extraordinária e frágil pequenez. Nasce como criança, vinda do seio de uma
mulher, arrebentando os portões do mundo, com a grandeza de sua presença
inaudita.
Na manjedoura de Belém
está a paz que o homem procura para as guerras; a harmonia para o caos cósmico
e universal; a felicidade plena para os infelizes; o calor humano para os frios
e indiferentes; a esperança viva para os desesperados; a serenidade para os inquietos
e agitados; a salvação para os perdidos; a consolação para os sofredores; a
calmaria interior para os injustiçados; a fortaleza para os fracos; a graça
redentora para os pecadores; a cura definitiva para as feridas da alma; a
vitória para o fracasso; a verdadeira vida para a morte; a coragem do amor sem
limites para os indecisos. Na manjedoura repousa a esperança do mundo
adormecido em sua insensibilidade doentia. Nela está a libertação de todos os
opróbrios.
Eis, pois, a grandeza
de Cristo, o menino de Belém, luz que ilumina as trevas de todos os povos,
acobertando os séculos com sua luminosidade infinita: “O povo que andava nas
trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam uma terra
sombria. Multiplicaste o povo, deste-lhe grande alegria; eles alegram-se na tua
presença como se alegram os ceifadores na ceifa, como regozijam os que repartem
os despojos. Porque o jugo que pesava sobre eles, o bastão posto sobre os seus
ombros, a vara do opressor, tu os despedaçaste como no dia de Madiã. Com
efeito, todo calçado que pisa ruidosamente no chão, toda a veste que se revolve
no sangue serão queimadas, serão devoradas pelo fogo. Porque um menino nos
nasceu, um filho nos foi dado, ele recebeu o poder sobre os seus ombros, e lhe
foi dado este nome: Conselheiro-maravilhoso, Deus-forte, Pai-eterno, Príncipe
da paz, para que se multiplique o poder, assegurando o estabelecimento de uma
paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, firmando-o,
consolidando-o sobre o direito e sobre a justiça. Desde agora e para sempre, o
amor ciumento do Senhor dos Exércitos fará isso”. (Is 9,1-6).
Contemplando a
manjedoura do menino-Deus, nascido em Belém, devemos recordar a bondade
misericordiosa do Senhor que, do alto de sua Transcendência e inacessibilidade,
chega ao nosso meio e se permite ser tocado pelas nossas feridas mais
profundas. Mais do que isso: “Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez
pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus”.
(2Cor 5,21). A estrela de Natal que brilha no horizonte de nossa existência não
tem nada a ver conosco e, no entanto, veio na intenção de que sejamos
restaurados nele. Ou seja: Cristo nasce para o mundo, a fim de que nós possamos
nascer para os céus.
Ó pobre criança de
Belém, teu nascimento enche de luz todos os caminhos dos homens e do mundo
inteiro. Assumindo a nossa humanidade, tu nos revestes com a glória de tua
divindade. Carregando em Ti todas as mazelas de nossos pecados, tu nos devolves
a graça perdida no Paraíso. Espoliado de tudo, até de tuas vestes, totalmente
despido das riquezas humanas, que a ferrugem pode corroer, tu nos ensinas onde
podemos encontrar a verdadeira dignidade, depois de todos os ultrajes sofridos
pela injustiça dos homens. Tocando com tua humanidade todas as angústias do
tempo e dos séculos, tu nos educas para a serenidade perene das consolações
eternas. Enfim, chorando como todos os homens, tu nos mostras a compaixão
divina por nossas fragilidades.
Muito obrigado, Jesus,
porque no teu Natal tu continuas “nascendo no coração das pessoas de boa
vontade, nos gestos de amor e partilha, nos povos que buscam a fraternidade e a
paz”. Amém!