Dom Josafá Menezes: uma luz no fim-início do túnel
No dia 25 de maio do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2024,
a Arquidiocese de Aracaju receberá mais um Pastor, quer dizer, mais um
Arcebispo. Sim, isso mesmo: um Arcebispo, que seja um Pastor! Fato é que
sombras e dificuldades de todo tipo se estenderam sobre a Arquidiocese de
Aracaju nos últimos tempos! Tempos tristes, sombrios e vácuos parecem ter
acobertado, como um véu de escuridão e incertezas, a conjuntura eclesial da
Igreja Particular de Aracaju, infelizmente! E não estou afirmando nenhuma
novidade, porque quem procura inserir-se eclesialmente no contexto em que vive,
sabe que luzes e trevas compõem a cotidianidade de qualquer instituição, seja
religiosa, seja civil, seja política, ou de quaisquer outras naturezas,
sobretudo por ser composta de homens, às vezes, frágeis, débeis, interesseiros,
egoístas, quando não, ególatras mesmo! Mas, no caso da Igreja, a
responsabilidade de um bispo assume um nível de coerência e adequação entre fé e
vida, que exigem outros parâmetros de grandeza de espírito.
Testemunhar a fé professada e viver segundo as suas exigências requer
mais do que boa vontade e espírito de sacrifício. Na verdade, requer uma
dinâmica de virtudes e submissão aos preceitos divinos, o que demanda, no
mínimo, retidão de consciência, volição ética e energia moral diante dos
próprios apelos da missão assumida na Igreja, e, claro, isso vale também para
os padres, os leigos, os religiosos, as religiosas, enfim, para todas as
pessoas de boa vontade que, pelo imperativo da caridade de Cristo, decidem-se
por se tornarem seus discípulos, respondendo ao doce convite do Senhor, que
diz: “Vem e segue-me!”. No entanto, é correto afirmar que, nem sempre, aquilo
que intencionamos fazer corresponde às exigências do que seria o ideal, como
nos ensina São Paulo: "Não faço o bem que quero, mas o
mal que não quero" (Rm 7,15), de modo que, em são juízo, todos estamos
sujeitos a isso, embora devamos nos esforçar para superar as fraquezas do
caráter propriamente humano e nos doar mais quanto ao combate das forças da
concupiscência que impera em nós, por causa do pecado. E disso todos nós somos
vítimas, embora uns mais conscientes do que outros. Assim, num contexto
profundo de vicissitudes pastorais e anelos de realizações mais profícuas,
diante de tudo o que vivemos nos últimos tempos, Dom Josafá vem como um sinal
de esperança para todos nós. Aliás, como afirmo na epígrafe do texto, “uma luz
no fim-início do túnel”, porque ele chega num momento em que as trevas que
pairaram sobre a conjuntura eclesial arquidiocesana ainda não passaram, e vão
permanecer sobre nós por algum tempo mais.
A claridade do dia não chega tão facilmente depois das densas trevas que
desafiam o sofrimento, as desilusões, as incongruências dos ideais da
evangelização, a expectativa dos bons cristãos – porque infelizmente também há
maus cristãos, que são contra testemunhos à própria fé – de modo que, tudo
isso, transformado em esperança de bons tempos, deve ajudar-nos ao
amadurecimento necessário à espiritualidade de uma Igreja que sofre no clero,
nas ovelhas, nas dimensões pastorais e na ação evangelizadora, nas comunidades
esparsas em sua circunscrição territorial e sobretudo espiritual, e assim por
diante. Às vezes, a noite precisar durar mais do que desejaríamos, a fim de que
possamos melhor identificar os pontos luminosos que anunciam a nova aurora. Deveras,
quando vivemos dias em terra arrasada e minada em todos os sentidos possíveis
das nossas esperanças, como numa guerra fria de interesses desencontrados e
mesquinhos, podemos evocar dramas proféticos de onde pode renascer a
reconstrução dos escombros deixados pelas intempéries do tempo ruim, que passa.
É quando o olhar tristonho do Senhor pousa sobre todos nós com desprezo:
“foi esta a Jerusalém que coloquei no meio dos povos e em torna dela, as
nações. Mas ela se rebelou contra as minhas normas, com uma perversidade maior
do que outros povos, e contra os meus estatutos, mais do que as nações que
estão em torno dela. Com efeito, os seus habitantes rejeitaram as minhas normas
e não andaram nos meus estatutos”. (Ez 5,5-6). E outras palavras terríveis o
Senhor derrama sobre a infidelidade de Jerusalém como expressão também da nossa
infidelidade ao Senhor dos Exércitos. E o próprio Senhor se coloca contra ela.
No entanto, Ele não é somente anúncio de desventura e destruição. Ele, de igual
modo, é mensageiro de tempos alvissareiros, de reconstrução, de paz, de
esperança, “sem visão vã nem presságio mentiroso”. (Ez 12,24). É o Senhor quem
promete e age na edificação de seu povo, com o auxílio dos Pastores que ele
coloca à sua frente, como modelo do rebanho e encorajador dos desaminados. A
tempestade deve estar passando ou, quiçá, apenas começando, sob o impulso de novos
tempos, que exigirão bravura e determinação, “coragem física e moral”, e
valentia, para enfrentar os ventos contrários do que poderia ter ficado para
trás, mas ainda nos assusta.
Dom Josafá Meneses da Silva, baiano, certamente um bom marisqueiro –
vindo da Arquidiocese de Vitória da Conquista, no Sul da Bahia – seguirá a
linha da sucessão apostólica na Arquidiocese de Aracaju, sendo o sétimo bispo e
quinto arcebispo da sede arquiepiscopal. Bem-vindo à Arquidiocese de Aracaju! Nas
mãos do Senhor estão os novos rumos da porção do rebanho de Cristo em uma parte
das plagas de Sergipe, seu novel berço de amor e evangelização para o povo de
Deus e também para o seu clero, com todos os padres – cada um na sua
singularidade pessoal – que, na expressão do Concílio Vaticano II, são os seus
“necessários cooperadores e conselheiros no ministério...” (Presbyterorum
Ordinis, n. 7). Nossa Senhora da Conceição nos ilumine, nos fortaleça e nos
guarde no seu amor maternal. Revela Domino opera tua, et dirigentur
cogitationes tuae! (Pr 16,3).
Pe. Gilvan Rodrigues dos Santos