Corpus Christi – o milagre de uma Presença
A cada instante do
ciclo da história da humanidade, o milagre de sua Presença acontece pelas mãos
de todos os sacerdotes que, obedientes à sua Palavra, celebram a Eucaristia. E,
hoje, no dia da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, isso se
realiza com devoção e adoração especiais ao Santíssimo Sacramento – o Sacramento
dos Sacramentos. É um dia de louvor, de adoração, de pedidos, de gratidão, de
reconhecimento da verdade do Senhor que prometeu estar conosco “todos os dias
até o fim do mundo”. (Mt 28,20).
São as últimas palavras
do Evangelho de São Mateus. Cristo desaparece, a fim de permanecer para sempre
conosco. E ele foi buscar, ali, nos bens da natureza, os instrumentos de sua
permanência entre nós. Um pedaço de pão, “fruto da terra e do trabalho humano”,
e um pouco de vinho, “fruto da videira e do trabalho humano”, como o padre
reza, silenciosamente, antes da consagração desses elementos primordiais, a
“matéria” para a celebração do Santo Sacrifício da Missa. Com o milagre da
transubstanciação das espécies do pão e do vinho, o Senhor vem e permanece no
meio de nós, na discrição de sua Presença. E ainda queremos ver milagres! Que milagre
maior do que esse pode existir sobre a face da Terra? Aquele mesmo Jesus de
Nazaré, que cresceu no santo lar de Maria e José; que caminhou entre os homens,
realizando curas e manifestando sinais do Reino; que atraiu o amor de alguns e
o ódio de outros; que chamou um punhado de discípulos e apóstolos para estarem
consigo; que lhes ensinou as coisas do Reino de seu Pai eterno; que foi
perseguido, torturado e morto; que ofereceu seu corpo e seu sangue como cordeiro
imolado, vítima de expiação por nossos pecados todos; que nos comprou com o seu
sangue redentor para o nosso retorno à amizade com Deus, nosso Pai-Criador; enfim,
que ressuscitou ao terceiro dia. Assim, depois de sua ressurreição alegrou aos discípulos
com sua presença viva.
No livro dos Atos dos Apóstolos,
São Paulo nos apresenta uma bela síntese da história da salvação, segundo os
acontecimentos da revelação bíblica, que culminaram na Encarnação do Filho de Deus,
o Messias, prometido e esperado pelas nações do mundo inteiro. Com efeito, Deus “suscitou-lhes
Davi como rei, e dele deu testemunho: Encontrei Davi, filho de Jessé, homem
segundo o meu coração, que em tudo fará a minha vontade. Da sua descendência,
conforme a promessa Deus fez surgir a Israel um Salvador, que é Jesus. [...]. Pois
os habitantes de Jerusalém e seus chefes cumpriram, sem o saber, as palavras
dos profetas, que a cada sábado são lidas. Sem encontrar nele motivo algum de
morte, condenaram-no e pediram a Pilatos que o mandasse matar. Quando, pois,
cumpriram tudo o que estava escrito a seu respeito, retiraram-no do madeiro e o
depuseram num túmulo. Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos, e por muitos
dias apareceu aos que com ele tinham subida da Galileia para Jerusalém, os
quais são agora suas testemunhas diante do povo”. (At 13,22-31).
Esse é o mesmo Jesus Cristo
presente na Eucaristia que adoramos! Aquele por quem “todas as coisas foram feitas”
(Jo 1,3); “o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as
coisas, nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis” (Cl 1,15-16); o “herdeiro
de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos” (Hb 1,2); Aquele “por quem tudo
existe e para quem caminhamos" (1Cor 8,6). Sim, Ele é o mesmo Jesus que está ao
alcance de nossas mãos, dos nossos olhos e do nosso coração, nosso alimento de
vida eterna. Ele, sim, é o dono do mundo, independentemente de o aceitarmos ou não.
Ele é o antídoto contra nosso orgulho, nossa arrogância, nossa soberba, nosso
indiferentismo e o nosso egoísmo. Por isso, no dia de Corpus Christi, todos
nós somos chamados à humildade, ao reconhecimento do nosso Criador e Salvador, à
adoração, à gratidão por seu imenso amor e misericórdia. Dobrar os joelhos diante
dele significa também curvar o espírito à sua onipotência e majestade infinita.
E mesmo quando tudo ao nosso redor parecer o caos, a derrota, o fracasso, o desequilíbrio
interior ou mesmo exterior – como vemos no descontrole implacável da natureza
sobre nós – Ele ainda é o Senhor absoluto de tudo e de todos. A Ele o louvor, a
reverência, a prostração da alma em adoração.
De lá, na humildade dos sacrários das nossas Igrejas – mas também no templo do nosso corpo onde habita o Espírito Santo de Deus pela graça dos Sacramentos que celebramos e recebemos – está o Senhor da Eucaristia a esperar-nos, a acolher-nos, a olhar-nos no mais profundo de nós mesmos. Que essa certeza alimenta a nossa esperança, anime nossos passos, alegre o nosso espírito, tranquilize nossas inquietações e nos devolva a eutimia, a paz da alma, porque, nele e com ele, estaremos sempre seguros, mesmo quando as tempestades da vida parecerem ameaçar-nos. Ele é o nosso porto seguro, o nosso descanso e o nosso consolo espiritual. Amém! (Dr. PGRS).