quinta-feira, 18 de julho de 2024

 

O timoneiro mudando a posição da vela

 


Mudar a posição da vela é mudar também a direção do barco. Essa é, pois, uma das maiores responsabilidades dos timoneiros quando pressentem a necessidade de mudança em relação à pressão do vento. Certamente, a navegação sempre foi um fascínio dos velejadores no horizonte, não só das conjunturas dos ventos e das águas, mas também na esperança de novas descobertas. Talvez tenha sido por causa dessas circunstâncias, adversas e surpreendentes, que Cneu Pompeu Magno (106-48 a. C.) afirmara: “Viver não é preciso; navegar é preciso!” De algum modo, segundo a literatura moderna, essa frase foi popularizada e atribuída a Fernando Pessoa (1888-1935), poeta, filósofo e escritor português. Contudo, independentemente de quem tenha sido o autor, eis, então, uma bela metáfora existencial para muitas realidades humanas e, igualmente, eclesiais.

Na Igreja de Cristo, o simbolismo da relação entre o timoneiro e a barca tem muito a nos ensinar. Com efeito, foi dela que o próprio Senhor se serviu para imprimir um caráter temporal e divino, eterno, à sua missão no mundo. E foi, justamente, lá, à beira do Lago de Genezaré, onde ele começou chamando seus primeiros apóstolos. “Vinde após mim, e vos farei pescadores de homens!” (Mt 4,19). Portanto, foi naquele contexto que a barca de Pedro se tornou protótipo da Igreja. E ele mesmo, o Senhor, colocara-o como o primeiro timoneiro da embarcação que é a Igreja, que vai singrando, tempo adentro, tempo afora, sobre as águas impetuosas do mundo em direção ao porto seguro da eternidade. Como escrevera um autor moderno: “Bendita és a Igreja de Cristo, imagem do céu projetada na terra! A poeira de vinte séculos de caminhada não apaga o esplendor de tua face divina. Tu és bendita, hoje e sempre, porque em Ti está Deus, que não morre; está a palavra de Deus, que não passa; está o Reino dos céus que caminha para a sua plenitude. Assim como as olimpíadas passam de uma para outra a tocha viva que acende os ânimos, tu transmites, de geração em geração, a luminosa chama da Fé, até o fim dos séculos. E, quando findar o tempo, a mesma fé abrirá um caminho de luz que nos levará ao esplendor da claridade total, que nos emana da Face do Pai”. (Pe. Luiz Chechinato). De fato, a Igreja do Senhor, que planta suas raízes nesse mundo, possui um futuro de glória perene no Reino dos céus. No entanto, até chegar lá, como uma barca, ela precisa de rumo e direção, conforme soprarem os ventos e desatarem as borrascas de seus desafios e de suas consolações durante a travessia, ainda que nela pareça “entrar água por todos os lados”, como rezava, então, o Cardeal Joseph Ratzinger,  futuro Papa Bento XVI, na via-sacra do Coliseu em 2005.

Ao longo dos séculos, a realidade mística da figura da Igreja de Cristo tomou proporções cada vez mais profundas e firmes na certeza inabalável da promessa do Senhor: “... e as portas do inferno (hades) nunca prevalecerão contra ela”. (Mt 16,18). Constituída de homens, pobres e mortais pecadores, as águas do mundo – suas procelas, suas ideologias, suas heresias, sua teimosia burra em afastar-se de Cristo – não poderão, jamais, fazer submergi-la, porque o próprio Senhor é o timoneiro, supremo e por excelência, da embarcação que é a sua Igreja. No entanto, ele quis precisar e confiar aos Apóstolos a continuidade do serviço da evangelização no mundo, para converter os homens e atraí-los a si. É, pois, o que acontece em todas as dioceses do mundo inteiro através da sucessão apostólica dos bispos. Evidentemente, em proporções menores e à mercê da medida limitada de sua extensão territorial, mas com vislumbre na mesma essência divina e eclesial de todos os tempos, inclusive com todos os bispos da Igreja em união com o Santo Padre – Petrus hodiernus – o Papa Francisco.

Aqui, na Arquidiocese de Aracaju, não poderia ser diferente! Ou seja: nesses últimos tempos, depois de alguns meses de Sede Vacante, a Igreja Particular de Aracaju acolheu Dom Josafá Menezes da Silva, no dia 25 de maio recente. Ele veio, nomeado pelo Papa Francisco, a fim de dar seguimento aos trabalhos apostólicos da missão evangelizadora da Igreja no território da Arquidiocese. Assim, com serena tranquilidade, sem a pressa da urgência febril dos incautos, ele tem assumido o apostolado com firmeza e magnitude. Na verdade, a estrutura espiritual e psicológica das pessoas, sobretudo no que concerne às tarefas que lhes são confiadas – também na Igreja – revela a grandeza de sua estatura. Dessarte, enfronhando-se de corpo e alma nos trabalhos pastorais, conforme as exigências de cada momento, a Igreja cresce e se manifesta, luminosamente, viva e dinâmica aos olhos do mundo. E ainda: não é a nossa própria luz que deve ganhar força, mas a luz de Cristo, que deve resplandecer, sempre com maior intensidade, sobre a vida de todos os cristãos. Com efeito, a egolatria, não apenas não faz bem à Igreja, mas também torna as pessoas cegas e bobas, quase idiotizadas.

Nesse sentido, e consoante as necessidades sinalizadas pela direção dos ventos, o timoneiro vai mudando a posição da vela, no intento de que a barca da Igreja de Aracaju receba novos ares e avance em águas mais profundas. E, mesmo que a calmaria seja aparente, com sobriedade e paciência, na perseverança, com eutimia e paz na alma, o Arcebispo não promete “fazer maravilhas”, mas promete “trabalho”, como enfatizou na segunda reunião geral com o seu clero, no dia 17 de julho de 2024. Eis, portanto, o âmago administrativo e funcional para os novos tempos na Arquidiocese de Aracaju. Enfim, alea jacta est (a sorte está lançada), mesmo se também devemos nos lembrar de que alea non facit omnia (a sorte não decide tudo)! Quer dizer: Deus e os fatos precisam, de igual modo, da colaboração e da boa vontade de todos, tanto dos clérigos quanto dos leigos, unidos ao seu pastor maior, o Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju, Dom Josafá Menezes da Silva. (Dr. PGRS).