quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Uma carta para o Menino Jesus!


Uma carta para o Menino Jesus 

 



Amado Menino Jesus, desculpa-me o que eu vou dizer-te, mas, parece-me que Papai Noel é muito mais importante que o Senhor. Aliás, até percebemos que ele é mais conhecido do que tua pessoa! Viste quantas crianças escrevem para ele por ocasião do dia de teu nascimento? Viste quantos pedidos são dirigidos a ele que os atende com muita disposição e boa vontade? Tenho certeza de que ele faz muitas crianças alegres e felizes com a fantasia que os adultos lhes apresentam no embalo das festas natalinas e de final de ano. Ele se faz presente em muitas festas, distribuindo presentes, doces e brinquedos às crianças – é verdade que algumas também se assustam com ele, choram, e querem manter distância; ele desce de helicóptero e traz o saco cheio de ilusões passageiras, que se acabam quando os brinquedos se quebram ou são destruídos. Presentes são apenas presentes! Presentes são reflexos de alegrias importantes para quem os recebe, mas se acabam logo. A sensação de vazio, às vezes, começa depois que abrimos o invólucro e nos frustramos com a surpresa de papai Noel. Até nos presépios, que deviam ser somente teus, manifestando a grandeza simples e a sublimidade de tua chegada, Papai Noel ocupa um lugar de destaque. Mas não te preocupes, menino Jesus! 

 


Sim, menino Jesus, depois do Natal, papai Noel desaparece, os presentes se gastam, e vamos ter de esperar mais um ano, a fim de que ele nos visite novamente! Mas tu, não! Desde que tu nasceste que tua presença é uma constante na vida dos homens e da humanidade cansada de seus projetos vãos, construídos longe de tua visibilidade, como se algo pudesse estar oculto a teus olhos. Tu permaneces conosco para sempre, até a consumação dos séculos, conforme tua promessa (Mt 28,20). Tu permaneces presente, consolando nossas tristezas, curando nossas feridas, aliviando nossas dores, tornando pleno nosso vazio interior, alimentando nossos sonhos, enchendo de entusiasmo nossas esperanças... Portanto, se ninguém quis escrever-te eu estou te escrevendo, também, para pedir presentes. Presentes daqueles que Papai Noel não pode oferecer, porque não são presentes comprados em supermercados, nem nas lojas enfeitadas com brilhos e luzes; nem podem ser oferecidos em circuitos de filantropia e confraternizações que se escondem sob o pretexto de tua festa ou de teu nascimento ou, talvez, de teu aniversário, como imaginam alguns. Mais do que teus presentes, gostaríamos de tua presença perene em todas as dificuldades do mundo, do mundo das pessoas que sentem verdadeira necessidade de Ti e de teus auxílios: no mundo das crianças, que passam fome e não têm um lugar tranquilo e seguro para morar e dormir, com suas famílias; do mundo dos velhinhos, abandonados pelos seus e jogados nas periferias da indiferença, sendo tratados como inúteis e descartáveis; no mundo dos acometidos por doenças graves, incuráveis, e que, na maioria das vezes, não têm um tratamento digno de seu sofrimento e de sua agonia; no mundo dos meninos de rua, que têm o frio como cobertor e as estrelas como véu para o aquecimento de seus sonhos e ideais de realização; no mundo dos que choram sozinhos, sem companhia nem alento, a impossibilidade de suas esperanças; no mundo dos desesperados, que se debatem à porta da vida, sem encontrar a direção certa, o rumo a seguir, o caminho de saída para suas dores, suas aflições e suas incertezas; no mundo dos torturados pela dúvida, que obscurece o espírito e deprime a mente, projetando-os no giro interior da depressão permanente; no mundo dos encarcerados, prisioneiro de sua história pessoal, mas também vítimas da brutalidade do sistema, que pune os mais fracos e indefesos, deixando livres corruptores acima do bem e do mal; no mundo do violentados pelas injustiças institucionalizadas, mediante o cinismo e a arrogância dos ditadores, que se impõem à vida alheia; no mundo dos tristes e acabrunhados com o peso da vida; no mundo dos trabalhadores explorados, sem salário justo.  



Por tudo isso, permanece conosco, ó Menino Jesus, no Natal, na comemoração de teu nascimento, mas também durante todos os dias do Ano Novo, e até o fim de nossa vida. Permanece conosco a fim de que a verdadeira luz do mundo, que és tu, ilumine toda a nossa vida, todo o nosso ser, pois as luzes que o mundo acende na escuridão de suas buscas não acendem nossa interioridade nem aquecem o coração sedento de Ti somente. Assim, ó Menino Jesus, que teu caminho seja o caminho dos homens; que tua verdade seja a verdade dos homens; que tua vida seja a vida dos homens; que tua luz penetre todos os corações, recobrando-lhe o sentido profundo da esperança que teu nascimento quis despertar em todos; que teu amor seja o amor entre os homens, que partilham as mesmas dores, as mesmas lutas, as mesmas dificuldades, os mesmos sonhos, os mesmos ideais. Por isso, reconhecemos que o natal não é Natal se não tem o teu nome; que a felicidade não é Felicidade se não tem o teu nome; que a paz não é Paz se não tem o teu nome; que a justiça não é Justiça se não tem o tem nome; que a fraternidade universal não será possível se estivermos longe de Ti e separados uns dos outros, contrariando teus ensinamentos. 

 


Ah, Menino Jesus, se o Senhor não puder atender todos os pedidos, poderias pedir auxílio a Papai do Céu, pois, tenho certeza de que, com tua ajudinha, Ele ficaria muito contente em atender todas as nossas solicitações. Por tudo, enfim, muito obrigado, Menino Jesus. E que todos os homens sejam contaminados pela expressão máxima de tua bondade para com todos, de tua especial predileção pelos pobres e sofredores do mundo inteiro, especialmente, daqueles que vivem em nosso derredor, sob o alcance do nosso olhar humilde e despretensioso. Amém.