Uma carta para o Menino Jesus
Amado
Menino Jesus, desculpa-me o que eu vou dizer-te, mas, parece-me que Papai Noel
é muito mais importante que o Senhor. Aliás, até percebemos que ele é mais
conhecido do que tua pessoa! Viste quantas crianças escrevem para ele por
ocasião do dia de teu nascimento? Viste quantos pedidos são dirigidos a ele que
os atende com muita disposição e boa vontade? Tenho certeza de que ele faz
muitas crianças alegres e felizes com a fantasia que os adultos lhes apresentam
no embalo das festas natalinas e de final de ano. Ele se faz presente em muitas
festas, distribuindo presentes, doces e brinquedos às crianças – é verdade que
algumas também se assustam com ele, choram, e querem manter distância; ele desce
de helicóptero e traz o saco cheio de ilusões passageiras, que se acabam quando
os brinquedos se quebram ou são destruídos. Presentes são apenas presentes! Presentes
são reflexos de alegrias importantes para quem os recebe, mas se acabam logo. A
sensação de vazio, às vezes, começa depois que abrimos o invólucro e nos
frustramos com a surpresa de papai Noel. Até nos presépios, que deviam ser
somente teus, manifestando a grandeza simples e a sublimidade de tua chegada, Papai
Noel ocupa um lugar de destaque. Mas não te preocupes, menino Jesus!
Sim,
menino Jesus, depois do Natal, papai Noel desaparece, os presentes se gastam, e
vamos ter de esperar mais um ano, a fim de que ele nos visite novamente! Mas
tu, não! Desde que tu nasceste que tua presença é uma constante na vida dos
homens e da humanidade cansada de seus projetos vãos, construídos longe de tua visibilidade,
como se algo pudesse estar oculto a teus olhos. Tu permaneces conosco para
sempre, até a consumação dos séculos, conforme tua promessa (Mt 28,20). Tu
permaneces presente, consolando nossas tristezas, curando nossas feridas,
aliviando nossas dores, tornando pleno nosso vazio interior, alimentando nossos
sonhos, enchendo de entusiasmo nossas esperanças... Portanto, se ninguém quis escrever-te
eu estou te escrevendo, também, para pedir presentes. Presentes daqueles que
Papai Noel não pode oferecer, porque não são presentes comprados em
supermercados, nem nas lojas enfeitadas com brilhos e luzes; nem podem ser oferecidos
em circuitos de filantropia e confraternizações que se escondem sob o pretexto
de tua festa ou de teu nascimento ou, talvez, de teu aniversário, como imaginam
alguns. Mais do que teus presentes, gostaríamos de tua presença perene em todas
as dificuldades do mundo, do mundo das pessoas que sentem verdadeira
necessidade de Ti e de teus auxílios: no mundo das crianças, que passam fome e
não têm um lugar tranquilo e seguro para morar e dormir, com suas famílias; do
mundo dos velhinhos, abandonados pelos seus e jogados nas periferias da
indiferença, sendo tratados como inúteis e descartáveis; no mundo dos
acometidos por doenças graves, incuráveis, e que, na maioria das vezes, não têm
um tratamento digno de seu sofrimento e de sua agonia; no mundo dos meninos de
rua, que têm o frio como cobertor e as estrelas como véu para o aquecimento de
seus sonhos e ideais de realização; no mundo dos que choram sozinhos, sem
companhia nem alento, a impossibilidade de suas esperanças; no mundo dos
desesperados, que se debatem à porta da vida, sem encontrar a direção certa,
o rumo a seguir, o caminho de saída para suas dores, suas aflições e suas
incertezas; no mundo dos torturados pela dúvida, que obscurece o espírito e deprime
a mente, projetando-os no giro interior da depressão permanente; no mundo dos
encarcerados, prisioneiro de sua história pessoal, mas também vítimas da
brutalidade do sistema, que pune os mais fracos e indefesos, deixando livres
corruptores acima do bem e do mal; no mundo do violentados pelas injustiças
institucionalizadas, mediante o cinismo e a arrogância dos ditadores, que se
impõem à vida alheia; no mundo dos tristes e acabrunhados com o peso da vida;
no mundo dos trabalhadores explorados, sem salário justo.
Por
tudo isso, permanece conosco, ó Menino Jesus, no Natal, na comemoração de teu
nascimento, mas também durante todos os dias do Ano Novo, e até o fim de nossa
vida. Permanece conosco a fim de que a verdadeira luz do mundo, que és tu, ilumine
toda a nossa vida, todo o nosso ser, pois as luzes que o mundo acende na
escuridão de suas buscas não acendem nossa interioridade nem aquecem o coração
sedento de Ti somente. Assim, ó Menino Jesus, que teu caminho seja o caminho
dos homens; que tua verdade seja a verdade dos homens; que tua vida seja a vida
dos homens; que tua luz penetre todos os corações, recobrando-lhe o sentido
profundo da esperança que teu nascimento quis despertar em todos; que teu amor
seja o amor entre os homens, que partilham as mesmas dores, as mesmas lutas, as
mesmas dificuldades, os mesmos sonhos, os mesmos ideais. Por isso, reconhecemos
que o natal não é Natal se não tem o teu nome; que a felicidade não é Felicidade
se não tem o teu nome; que a paz não é Paz se não tem o teu nome; que a justiça
não é Justiça se não tem o tem nome; que a fraternidade universal não será possível
se estivermos longe de Ti e separados uns dos outros, contrariando teus ensinamentos.
Ah,
Menino Jesus, se o Senhor não puder atender todos os pedidos, poderias pedir
auxílio a Papai do Céu, pois, tenho certeza de que, com tua ajudinha, Ele ficaria
muito contente em atender todas as nossas solicitações. Por tudo, enfim, muito
obrigado, Menino Jesus. E que todos os homens sejam contaminados pela expressão
máxima de tua bondade para com todos, de tua especial predileção pelos pobres e
sofredores do mundo inteiro, especialmente, daqueles que vivem em nosso derredor,
sob o alcance do nosso olhar humilde e despretensioso. Amém.