A JUC e o Padre Luciano Duarte
Memórias de uma fraternidade Cristã
Será lançado no próximo dia 7 de agosto, quinta-feira, às 18 horas, no Museu da Gente Sergipana, o livro “Memórias de uma fraternidade Cristã, a JUC e o padre Luciano Duarte”. Trata-se, pois, de uma obra de 610 páginas substanciosas, com testemunhos e reminiscências trazidos a lume por vários autores, de um tempo em que, no Estado de Sergipe, o interesse pelas coisas da alma e do espírito inquietava jovens estudantes em busca de alicerces fortes e valores perenes em relação às “sementes do Evangelho” plantadas no fundo de sua formação acadêmica, mas também espiritual.
À frente dos questionamentos e das provocações dialéticas que instigavam a curiosidade daquele grupo de docentes que formavam a JUC – Juventude Universitária Católica – estava o também jovem padre Luciano Duarte, hoje, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Aracaju. Entre tantas outras aspirações vocacionais de um consagrado que apenas se inscrevia nas fileiras da milícia de Cristo, o sonho do menino seminarista se concretizava, conforme a expressão de seus desejos de consagração. Foi, então, assim que ele se expressou mais tarde, conforme o depoimento encontrado no livro, como quando já pensava na aventura pastoral da Ação Católica: “Aprendi a amar a Ação Católica ainda no Seminário. Nestes anos indeléveis, passados à sombra do santuário, enquanto os estudos e a formação nos tomam todos os momentos, praz ao espírito abrasado do adolescente estender de quanto em vez os olhos ardentes sobre o mundo, sentir o farfalhar da messe redoirada, perscrutar os problemas angustiantes, imaginar remédios e curas. Reacender as chamas mortas. Selar de novo os antigos e sacrossantos compromissos perjurados. Fazer os cristãos viverem de tal modo que a sua vida, para os outros homens, seja uma coisa inexplicável sem Deus. Apontar aos homens a velha e amiga estrada abandonada. Ensinar que não se é cristão por se haver perdido, mas por se haver achado. Reafirmar a cada passo, a cada solicitação do mal, a cada tropeço nas escarpas da vida, reafirmar com São Paulo esta coisa formidável: ‘Eu sei em quem acreditei’ (2ª Tm 1,12). É isto a Ação Católica... Somente isso. Tudo isto (Seminarista Luciano José Cabral Duarte)”. De fato, a inquietação pelo apostolado, que deve geminar e fazer crescer no coração dos homens os frutos do canteiro dos benefícios espirituais divinos, aponta para o futuro cristão da inteligência arguta do consagrado.
Quem conheceu Dom Luciano José Cabral Duarte mais de perto, sobretudo, pela exposição intelectual de suas colocações aprimoradas pelas malhas das leituras e das disquisições investigativas de sua sede de saber, entende porque a fonte cristalina de suas buscas não se esgota nos limites cognoscitivos do pensamento. Com efeito, suas fronteiras avançam pelo tempo afora na consciência livre dos verdadeiros pensadores. Não por acaso, ele “convidava-nos a crer através da crença intrínseca e extrínseca da fé, inflamado pelo testemunho dos grandes vultos da humanidade que haviam encontrado em Jesus Cristo a única resposta às suas indagações. Assim é que Pascal, Paul Claudel, Jacques Maritain, Léon Bloy, Ernest Psichari, Bernamos, Simone Weil, Jean Guitton, passaram a ser o centro das nossas discussões, fortalecendo a aliança entre nós, na busca de um cristianismo autêntico” (Carmen Machado Costa). Portanto, de alguma maneira, o livro mostra rasgos da clarividência intuitiva do compromisso cristão com as exigências práticas do evangelho de Cristo. Tudo se fundamentava na convicção serena e segura de que “muita ciência aproxima o homem de Deus”, o que era uma aberta proclamação da verdade que se desprendia dos lábios do próprio padre Luciano Duarte. Por isso, as páginas da coletânea testemunhal dos vários autores, reverberam de modo nítido e consciencioso muitas informações derramadas pelo padre Luciano Duarte nos encontros com os seminaristas do Seminário Menor de Aracaju, com os quais ele também se entretinha relembrando fatos de seu labor pastoral quando era jovem padre. Fui testemunha daqueles encontros, e confesso que nossa cabeça ainda foi albergue de suas reminiscências, talvez, pueris para nossa percepção de adolescente, mas, certamente, verdadeiras no lastro tempestivo de suas lembranças.
Portanto, mesmo que os eventos narrados no livro estejam circunscritos numa cronologia narrativa determinada quanto aos acontecimentos, eles transbordam de eficácia e ensinamentos para as gerações posteriores que, de algum modo, também podem beber no sorvedouro das lições filosóficas e evangélicas do velho professor que fora aluno da Sorbonne de Paris.