O tempo entre 2017 e 2018...
O tempo corre infrene, sem deixar rastros, mas as pegadas de sua memória
permanecem aí no chão batido dos sentimentos, nas janelas floridas da alma, nos
caminhos luminosos da existência, nos sinais visíveis na esperança da
madruga. Tempo lacrimosamente chuvoso, copiosamente coberto por nuvens
plúmbeas de incertezas, tempestivamente frio na escuridão dos sonhos, mas
amplamente investido nas conquistas que valem a pena, na peleja dos ideais, no
combate pelas vitórias, na insistência feliz pela sobrevivência. Sim, queremos
continuar aqui, simplesmente vivendo, lutando, querendo o melhor para todos,
para os familiares e amigos, para a humanidade mesmo, que nos acoberta pelo
manto da fraternidade, da filadelfia. Somos sangue da mesma carne, feridas do
mesmo corpo, chagas das mesmas intolerâncias, tecido rasgado, esgarçado pelas
mesmas violências. Você é melhor que alguém? Quem é mais que você? Então,
estenda o olhar para os outros e se encontre neles, não seja indiferente, faça
um esforço além das empatias e simpatias, com menos alcance para a antipatia. A
estrada do tempo é o caminho luminoso de nossas boas ações em relação aos
outros.
O sentimento contrário à solidariedade cega as boas intenções do
espírito, limita o raio da caridade ou da filantropia, desbota o colorido das
lindas ações do coração. Escolha o lado certo do altruísmo, revista-se de
coragem para se colocar no lugar dos outros, sentindo suas alegrias e
tristezas, desilusões e frustrações, experimentando o orvalho doce das carícias
dos ventos emocionais, do orgulho de tantas presenças edificantes e
construtivas no circuito da existência. Vale o risco da ousadia, vale a
teimosia da vida em querer, sempre mais, o conforto social do consolo
igualitário da convivência com os menos afortunados da sociedade injusta,
ambiciosa, delinquente, que não enxerga além de seus interesses mesquinhos,
inescrupulosos, mesmo custando o preço da dignidade alheia. Ouvi de uma criança
de nove anos: “Eu também sou bondoso, porque fico triste quando, na rua, vejo
pessoas com necessidades... Pedi uma moeda ao meu pai [para doar], mas ele
disse que não tinha...”
A grandeza da educação começa na orientação correta do sentimento das
crianças, “porque a sua inocência [ainda] está cheia do Espírito de Deus”. Onde
estão os seus pais? Não basta cobrar da escola, do governo ou da própria
sociedade, se elas não encontram o testemunho e a motivação da bondade dentro
de casa, nos pais inclusive. Responsabilidade exigida é compromisso testemunhado...
Esse é o papel dos educadores informais, dos tutores do lar. Lamentar ou chorar
o sangue derramado na rua não é suficientemente digno quando nos furtados aos
deveres da formação doméstica de nossos filhos. Riqueza nenhuma é achada ou
encontrada de graça. Lembro o meu jovem pai quando eu ainda era criança, que
nunca nos permitiu guardar em casa nenhum objeto apanhado na rua... “Vá e deixe
lá onde você o encontrou!”. Tratava-se, pois, de um imperativo educacional,
formativo do caráter e da personalidade.
Eram ensaios de honestidade que perduram pela vida afora. Mas foi
preciso que ele estivesse atento aos deslizes inocentes dos filhos: “Isso não é
seu!”. E voltávamos ao mesmo local para devolver o achado, mesmo não sendo
roubado. O tempo também é o Senhor de nossas boas ações. Não mudaremos o mundo
se não nos transformamos a nós mesmos pelo lado de dentro do coração e da alma,
do ânimo intelectivo. E isso exige ciência e sabedoria, disposição de espírito
e espírito de sacrifício. Com efeito, quem se deixa transformar interiormente
perde um pouco de si mesmo em benefício do ganho dos outros e do seu
aperfeiçoamento. É o que diz o rifão corrente: “No pain, no gain!” – “Sem dores não há ganhos...” Mas isso também
deve ser fruto do amor a nós mesmos e aos outros, e, como assevera uma música
italiana “non c'è amore senza piccoli
dolori, che ci cambiano” – “não existe amor sem pequenas dores, que nos
modificam” (Gigi D'Alessio).
A experiência da vida dos grandes homens deve ser uma inspiração para os
pequenos, para aqueles cujas frestas da alma ainda não foram invadidas pela
perversidade de atos amadurecidos no turbilhão do querer apenas tirar
vantagens. A vida é o espelho de nossas bondades ou maldades. E essas precisam
ser vencidas no nascedouro da boa educação. Por isso, devemos educar nossos
filhos, inclusive, para que possam controlar os gastos com seus benefícios
pessoais como é o caso da mesada que alguns recebem. Eu nunca tive mesada, mas
meu pai me ofereceu mais do que isso. De fato, os filhos devem ser
comprometidos desde cedo com os custos pessoais, pelo valor da vida em suas
exigências primárias. Nada cai do céu gratuitamente e, por trás da riqueza dos
homens honestos há muito suor derramado, talvez, lágrimas vertidas e
sacrifícios imensos. Portanto, negociem com os filhos o gasto do que recebem,
motivando-os também à economia, à organização da casa financeira ao nível de
suas possibilidades. Negociar significa tirar do ócio, despertar o indivíduo da
preguiça moral diante de suas próprias responsabilidades, e as crianças já
podem aprender isso se lhes for ensinado.
A educação, no sentido amplo da acepção da palavra, também é a medida de
nossas ações boas ou más, e são elas que irão dar o norte producente ou
contraproducente como resposta aos desafios da vida quotidiana. Como escreveu
um autor moderno, as pessoas amam a luz ou as trevas, e é esse amor que vai
condicionar o comportamento das tomadas de decisão em suas escolhas. Enfim, que as flores do jardim da vida, das amizades, dos
encontros e reencontros, dos novos sonhos e das realizações continuem
vicejantes também em todo o ano de 2018...