quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

 

O NATAL E A ESPERANÇA DA HUMANIDADE 

 


Chegando o Natal, e a esperança da Humanidade se acende numa vacina, testada e aprovada, para combater o covid-19 e reestabelecer os laços humanos de proximidade, de amizade, de afeto, de carinho. Infelizmente, nesses últimos tempos nebulosos da pandemia, arrastamos com o mundo inteiro a agonia da humanidade. Muitos morreram, e outros tantos ainda vão morrer por causa da peste moderna do coronavírus. Mas, e aí, com a chegada da vacina, será que melhoramos? Será que redescobrimos, no meio da tempestade mortífera, que ainda precisamos de Deus? Será que entendemos que somos vítimas de um vírus mais letal do que o covid-19? Será que aceitamos que a vacina que nos cura nada mais é do que um ligeiro afastamento da morte, que virá, mais cedo ou mais tarde? 

A morte é uma certeza vital da qual não poderemos fugir sempre. Mas o vírus do pecado, do afastamento de Deus, pode nos precipitar na morte eterna. Analogicamente, comparativamente, há um abismo de incompreensão entre o aqui e o além, entre a vida cósmica e a transcendente, mas essa verdade da nossa condição transitória nos foi revelada pelo mistério da Encarnação de Jesus, o Salvador da morte eterna. Vivemos nossa liberdade, seguimos nossas escolhas, teimamos em pensar que podemos decidir sobre o bem e mal, sobre a vida e a morte, sobre o certo e o errado, sobre a mentira e a verdade, etc., etc., etc. No entanto, quando o mal nos assombra em demasiado nível de espanto, de morte e de consequências trágicas, que não podemos controlar, rezamos a Deus e lhe pedimos inteligência e sabedoria para contornar os efeitos deletérios da nossa libertinagem. E, assim, depois do golpe da aparente superação do mal, efetivado pela ciência, concretizada numa vacina, talvez, voltemos a nos esquecer de Deus, do dono da História, do Senhor de Tudo e de Todos.

É verdade que a euforia do momento presente, que se alegra com a testagem de uma vacina, deve nos encher de esperança, de entusiasmo e de alegria. Mesmo assim, não podemos nem devemos nos esquecer dos que já pagaram o preço da morte que os precipitou, às vezes, precocemente, no "sono impossível". De fato, a nossa vida é tão cheia de altos e baixos nos movimentos da efemeridade, que até aquilo que, por um instante, pareceria a indicação de uma luz a seguir os passos na direção do horizonte, de repente, pode transformar-se na escuridão de novas incertezas. Porém, não obstante tudo, devemos permitir e ter a segurança existencial de que o Natal de Jesus, no nascimento do Filho de Deus entre nós, é a mais luminosa certeza de que Ele nunca nos abandonou. 

O Pe. Reginaldo Manzotti nos lembrou, com lucidez e fé, que o início da vacinação no Reino Unido começou, exatamente, do dia 8 de dezembro, quando a Igreja celebra, no mundo inteiro, o dia da Imaculada Conceição da Virgem Maria, isto é, d’Aquela em cuja pessoa não há mácula de pecado. "Tota pulchra es, amica mea, et macula non est in Te". (Ct, 4,7). Na proximidade do Natal, essa constatação também é profundamente significativa, não apenas para os cristãos, mas para todos os habitantes da terra sob a sombra tétrica da pandemia do Covid-19. Ou seja, Aquela que nos trouxe no seio virginal o Salvador do mundo, livrando-nos por sua Morte e Ressurreição da condenação eterna, por causa do pecado, segue intercedendo ao Filho em favor do povo sofrido no contexto pandêmico. Na verdade, não bastam somente as descobertas científicas no desejo de uma vacina, mas é preciso igualmente a iluminação divina, a fim de que o homem encontre o caminho da equalização entre os males que afetam o corpo e a eficácia do antídoto que combate sua destruição implacável. Desse modo, apesar da resistência agnóstica ou das barreiras ateístas que tentamos colocar diante da evidência dos fatos, sem Deus, a humanidade continuará cega, tateando, na escuridão de sua contumaz rebeldia e insubmissão, o vislumbre da salvação que não está em seu poder, que não é domínio de sua sabedoria. Por isso, apesar de todos os males causados pela pandemia e de todos os mortos por causa da virulência letal, devemos seguir apostando na bondade de Deus, na misericordia de Jesus, que nos salvou com sua Cruz, e na intercessão de Nossa Senhora, sob todos os títulos que ela comporta em todos os Continentes da Terra.

A celebração do Natal nos traz a luz de que precisamos para atravessar todas as trevas da humanidade; para superar todas as dores do mundo descaído pelo pecado; para curar todas as férias das relações humanas que nos separaram uns dos outros; para mergulhar, humildemente, nossa pequenez e insignificância na grandeza magistral do Menino de Belém, que nos arranca de nossas mesquinhezes e nos introduz no Reino Eterno de sua Redenção. Sim, não obstante toda a escuridão que enfrentamos no ano de 2020, marcado terrivelmente pela pandemia, acendamos as luzes da esperança naqueles que nos ajudaram e nos protegeram e estiveram à frente da batalha pestilenta, com altivez e coragem, tanto no hospitais quanto nos nossos lares, nos serviços emergenciais e em tantas outras dimensões da caridade fraterna que os motivou a não perder o brio de sua vocação e missão humanitária. Com efeito, neles, nós encontramos a manifestação do amor divino como reflexo de sua doação e generosidade em favor de todos nós.

Com certeza, diante do manto de misericórdia e de amor com que tantas pessoas de boa vontade se entregaram umas às outras, Deus estava lá, no esconderijo da caridade, a nos dizer que nem tudo estava perdido, que ainda podemos seguir em frente na confiança de sua bondade universal Salvadora. De fato, a Âncora da Salvação é a presença incondicional do Senhor que, na simplicidade de uma manjedoura, armou sua tenta no meio de nós, superando a noite de nossa escuridão com a luminosidade de sua Redenção. (PGRS).