Olhar contemplativo sobre
a agonia de Cristo
a agonia de Cristo
O
olhar contemplativo sobre a agonia de Cristo deve fazer-nos pensar no modo como
nos abrimos ou nos fechamos à graça de tão sublime mistério redentor. Não por acaso
a teologia moderna ainda nos chama a atenção para os rebordos mais profundos da
mística cristã diante de Jesus moribundo, mas também diante de tudo aquilo que
ele experimentou e viveu, assumindo a nossa própria carne, como condição
fraterna e solidária às consequências de todas as nossas rebeldias e
iniquidades.
A
crucifixão por si mesma, com todos os traços da crueldade que envolve a vítima
em seus tormentos, já fala piedosamente ao nosso coração. Como descreveu Don
Chino Biscotin, o condenado à crucifixão era atormentado por sofrimentos
indizíveis, que, com base em percepções médicas, não é difícil conjecturar: uma
sede ardente, causada, entre outras coisas, pelas hemorragias, fortíssima dor
de cabeça, acompanhada por acessos de febre, sensações de angústia que
provocava tremores e soluços, além das dores causadas pelas feridas de todo
tipo e pela perfuração dos pregos, que, conforme a maneira como eram fixados,
lesionavam nervos muito sensíveis, de modo que qualquer pequeno movimento
poderia ocasionar dores horríveis. Portanto, a morte de Cristo, provavelmente,
foi causada pela particular posição à qual o crucificado foi constrangido a
permanecer. Com o peso do corpo caído sobre as pernas e pendido dos braços, a
respiração se torna dificílima e dolorosa. Então, o condenado é constrangido a
encontrar apoio nos pregos que fixam os pés e, com dores atrozes, tenta
solevar-se, a fim de poder respirar mais livremente. Como Jesus agonizou na
cruz durante três horas, segunda a narrativa bíblica, esse fenômeno se repetiu
várias vezes, porquanto basta somente alguns minutos de suspensão para que
ocorra a dispnea, isto é, a dificuldade de respiração. O fim de sua existência
deve ter chegado, quando ele não teve mais forças para conseguir solevar-se
novamente, e a asfixia provocou um estado de choque, seguido por um colapso
cardiocirculatório. Na verdade, tudo isso é um pouco da pobreza do esforço
humano que tenta se aproximar do sacrifício de Cristo no monte Calvário, a fim
de usufruir dele, mais do que consolações para suas próprias dores,
reconhecimento e gratidão pela generosidade da entrega do Senhor.
Enfim,
a humanidade sofredora de Cristo, projetada na nossa, deve conduzir-nos, pelo
testemunho de sua cruz, a progredirmos espiritualmente na direção da estatura
do Homem Perfeito, que é o próprio Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Desse modo,
o mistério de sua via-crúcis produzirá os efeitos desejados por Deus e anelados
pela nossa sede de eterna plenitude.