A Hora de Neymar Júnior
Nunca
fui fanático por futebol, de modo que pouquíssimas vezes, sentei-me diante de
um televisor para assistir a uma partida. Claro que quando se trata da Copa do
Mundo ou das Olimpíadas, ainda arrisco fixar-me diante da tela para acompanhar
os lances mais importantes e os comentários feitos durante o jogo. Todavia, nem
por isso eu sou contra quem torce pelo seu time e tem verdadeira “devoção” pelo
espetáculo de luzes e cores, com todas as gritarias da torcida, honrando o seu
clube e torcendo pelos respectivos jogadores. Aliás, de tanto gostar do
fenômeno futebolístico, fiz questão de aprender uma frase atribuída ao poeta
brasileiro Carlos Drummond de Andrade: “Bem-aventurado os que não entendem nem
aspiram entender de futebol, porque deles é o reino da tranquilidade”. De fato,
uma afirmação que poderia depor quanto às verdadeiras raízes de quem vive no
considerado país do futebol. Mas, questão de gosto não se discute, dizem.
Quando por ventura, sou abordado sobre o time pelo qual torço, eu respondo,
rapidamente: “Eu torço pelo botafogo!”. E logo acrescentou: “Porque era o time
de Cristo!”. De fato, ele não disse que viera “botar fogo” no mundo...
De
ter visitado algum estádio de futebol, lembro-me de que estive apenas em dois,
passeando. O antigo Maracanã, no Rio de Janeiro, agora, reformado para a Copa
de 2014, visitei-o em 1992, logo depois da Eco 92. Mais recentemente, no ano
passado, estive em frente ao Mané Garrincha, que estava em reforma e fora
inaugurado com a partida do Brasileirão entre Santos e Flamengo no dia 26 de
maio de 2013, por sinal, jogo de despedida de Neymar, que foi comprado pelo
Barcelona. Fora disso, a verdade é que eu nunca me senti atraído por multidões.
Tenho medo de grandes aglomerações. Mesmo se forem de atividades religiosas, frequento
poucas. Quando morava em Roma, houve muitas canonizações e beatificações
presididas pelo então Papa João Paulo II. Quantas oportunidades! Quantos
convites, todos recusados. Para não dizer que “não falei das flores”, como reza
o poema, fui apenas ao aniversário de 25 anos de Pontificado do Papa João Paulo
II. Não é todo dia que um papa comemora 25 anos de pontificado. Também, teria
sido uma covardia, morando ali, sabendo de tantas pessoas que gostariam de
estar no meu lugar, faltar ao histórico acontecimento. Então, fui. Mas, com uma
condição que me impus: “Deixar o recinto, logo depois da homilia! [que,
iniciada pelo aniversariante, já ofegante e falando com dificuldade, teve a
leitura concluída pelo então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que
estava ao seu lado, o Cardeal Ratzinger, que mais tarde virou o Papa Bento
XVI]”. Depois de um evento como aquele, voltar para casa seria um verdadeiro
inferno, com tanta gente, tentando deslocar-se pela Cidade Eterna. Fiz uma cara
de doente, e fui embora. Pensava que se, por ventura, alguém me barrasse na
saída, teria de dar alguma explicação. Certamente, isso seria feito por um dos
policiais que, de plantão, acompanhavam qualquer movimento suspeito. Saindo, vi
pelos telões espalhados pela Praça do Vaticano, a imagem isolada da única
pessoa que se distanciava da multidão pelos corredores ali colocados para
organização da missa. Todos de frente para o altar, e eu cada vez mais longe de
lá. Deu tudo certo. Subi ao ônibus, e acompanhei o final da celebração pela
televisão. A digressão foi apenas para confirmar que também nunca tive coragem
de ir a um estádio de futebol em momentos de partidas. E difícil será alguém me
encontrar no meio de uma multidão. E se isso acontecer, será em um dia de
milagrosa raridade. Mas, voltemos à “hora de Neymar Júnior”.
Tem
razão quem chora deixando as lágrimas teimosas rolarem, livremente, no rosto
emocionado por saber ter realizado um sonho. As conquistas de uma vida não
acontecem de um dia para outro, embora os talentos precoces possam contrariar a
lucidez da argumentação. A pequena planta das aspirações de felicidade e
realização cresce à sombra dos percalços e limitações temporais do existir. O
problema é que nem todo mundo tem as “ambições” alimentadas pela determinação e
coragem para enfrentar os desafios iniciais de um futuro promissor e feliz, não
obstante todos os obstáculos das sendas sinuosas e fascinantes do querer
humano. Mas não é somente a vontade determinante que carrega as pessoas para as
alturas de seus desejos de realização. Ao lado do espírito leviano de críticos
inoportunos e invejosos, que derramam suas frustrações na fantasia do discurso,
estão a competência e a habilidade de quem já nasceu gênio, e que, ao longo da
própria carreira histórica, demonstrou-se capaz de desenvolver as habilidades
adquiridas. Como afirmei sobre Justin Bieber – um talento mirim que, já quase
adulto, parece estar se perdendo nas malhas da fama e das arbitrariedades do
desequilíbrio pessoal – “há pessoas que se incomodam com a velocidade
inesperada do sucesso alheio, sem, nem sequer, permitir-se a dignidade de
descobrir o caminho percorrido pelas pessoas até chegarem aonde chegaram. Fama
e dinheiro não caem do céu nem se aliam à imbecilidade dos incompetentes”. No
caso de Neymar Júnior, sei que os holofotes se projetaram sobre ele mais do que
qualquer outro jogador que, também habilidoso, tenha conseguido vitórias para o
seu time. Todo mundo sabe, por exemplo, que o Santos não é nenhuma unanimidade.
Mas que o moleque tem talento, isso ninguém pode negar. E não é de agora que
clubes europeus esticam os olhos sobre ele. Então, chegou a sua hora! Chegou a
hora de Neymar da Silva Santos Júnior. Com sua saída dos Santos, dizem os
narradores esportistas, chega ao fim a “era Neymar” no time. Ele, que foi
considerado pela imprensa internacional, o “rei do século XXI”, evidentemente,
em alusão ao conhecido “rei Pelé”, com quem tantas vezes ele foi comparado.
Aos
21 anos de idade, assinou o contrato com o time espanhol do Barcelona no dia 27
de maio. Noventa mil pessoas são esperadas para sua apresentação na Espanha.
Azul e grená – “a cor vermelho-castanho da granada” – serão as cores festivas
da nova etapa de sua vida. O menino santista levantará voo para a Europa, terra
de grandes sonhadores, de notáveis conquistadores. O coração de quem parte para
terras estrangeiras parece pequeno demais diante da grandeza do universo
cultural, antropológico e social que o acolhe na imensidão de suas vagas
étnicas e milenares. Que ele faça bonito por onde for e volte como prometeu,
para alegrar os olhos da torcida brasileira que muito se encantou com as
estripulias de sua meninice franca e despretensiosa na firmeza engenhosa do
caráter de sua personalidade.