São José na Liturgia da Igreja Católica
Sempre
pensei que a menção do nome de São José, o esposo de Maria, a mãe de Jesus,
fazia falta na Liturgia da Igreja. Com efeito, apesar da discrição com ele é
apresentado nas narrativas dos evangelhos de Mateus e Lucas, sua figura não
deixou de ser importante no seio da Sagrada Família de Nazaré. Silencioso,
nunca disse nada, nenhuma só palavra foi dita por ele no contexto em que ele
aparece envolvido no mistério da encarnação do Filho de Deus, Jesus, cuja
paternidade humana, mesmo se putativa, fora-lhe confiada.
Não que
a Igreja nunca tenha se interessado pelo alcance do testemunho espiritual de
homem “justo [e santo]”, como destaca o próprio evangelista Mateus (cf. 1,19).
Ou seja: “Por causa desta relação especial com Jesus e Maria, José sempre foi
muito venerado na Igreja. Pio IX, resumindo a herança dessa grande tradição,
proclamou-o patrono da Igreja Universal, e Leão XIII o indicava como modelo de
todas as famílias cristãs. Bento XV escreveu: ‘A casa divina, que José
governou... continha os princípios da Igreja nascente... Como consequência
disto o santo patriarca deve sentir como confiada a si, por especial razão,
toda a multidão dos cristãos’” (Enrico Peppe). E
ainda: “Pio XII o propôs como modelo par todos os trabalhadores e fixou o dia 1º de maio como festa de São José Trabalhador, que
‘enobreceu o trabalho humano, sustentado e animado pela convivência de Jesus e
Maria’ e ‘exercendo sua arte com empenho e virtudes admiráveis, tornou-se o
mestre de trabalho do Cristo Senhor que não desdenhou ser chamado filho do
carpinteiro’” (Enrico Peppe).
Seu
nome é citado 35 vezes em todo o Novo Testamento. Mas, claro que se trata
também de outros Josés, como José, irmão de Tiago (Mt 27,56) e José de
Arimateia (Mt 27,57; Mc 15,43.45). No entanto, na grande maioria das citações,
faz referência a “José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo”
(Mt 1,16). Com efeito, já são quase dois milênios de história do Cristianismo, e,
somente agora, no dia 20 de junho de 2013, por meio de um Decreto, emitido pela
Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, o seu nome foi
inserido nas orações eucarísticas II, III e IV do Missal Romano. A nota é da
própria Congregação: “Pelo seu
lugar singular na economia da salvação como pai de Jesus, São José de Nazaré,
colocado à frente da Família do Senhor, contribuiu generosamente à missão
recebida na graça e, aderindo plenamente ao início dos mistérios da salvação
humana, tornou-se modelo exemplar de generosa humildade, que os cristãos têm em
grande estima, testemunhando aquela virtude comum, humana e simples, sempre
necessária para que os homens sejam bons e fiéis seguidores de Cristo. Deste
modo, este Justo, que amorosamente cuidou da Mãe de Deus e se dedicou com
alegre empenho na educação de Jesus Cristo, tornou-se guarda dos preciosos
tesouros de Deus Pai e foi incansavelmente venerado através dos séculos pelo
povo de Deus como protetor do corpo místico que é a Igreja”.
E a mesma nota continua: “Na Igreja Católica os
fiéis, de modo ininterrupto, manifestaram sempre uma especial devoção a São
José honrando solenemente a memória do castíssimo Esposo da Mãe de Deus como
Patrono celeste de toda a Igreja; de tal modo que o Beato João XXIII, durante o
Concílio Ecumênico Vaticano II, decretou que no antiquíssimo Cânone Romano
fosse acrescentado o seu nome. O Sumo Pontífice Bento XVI acolheu e quis
aprovar tal iniciativa manifestando-o várias vezes, e que agora o Sumo
Pontífice Francisco confirmou, considerando a plena comunhão dos Santos que,
tendo sido peregrinos conosco neste mundo, nos conduzem a Cristo e nos unem a
Ele”.
Por fim, a mesma nota encerra sua argumentação,
afirmando: “Considerando o exposto, esta Congregação para o Culto Divino e
Disciplina dos Sacramentos, em virtude das faculdades concedidas pelo Sumo
Pontífice Francisco, de bom grado decreta que o nome de São José, esposo da
Bem-aventurada Virgem Maria, seja, a partir de agora, acrescentado na Oração
Eucarística II, III e IV da terceira edição típica do Missal Romano. O mesmo
deve ser colocado depois do nome da Bem-aventurada Virgem Maria como se segue:
na Oração Eucarística II: “ut cum beata Dei Genetrice Virgine Maria,
beato Ioseph, eius Sponso, beatis Apostolis”; na Oração Eucarística III:
“cum beatissima Virgine, Dei Genetrice, Maria, cum beato Ioseph, eius
Sponso, cum beatis Apostolis”; na Oração Eucarística IV: “cum beata
Virgine, Dei Genetrice, Maria, cum beato Ioseph, eius Sponso, cum
Apostolis”.
Por conseguinte, para todos os cristãos católicos
isso deve ser motivo de muita alegria, especialmente, para os homens que foram
considerados dignos de carregar consigo o homônimo de tão insigne defensor da
Família de Nazaré.