Internacionalmente Conectados
Do ponto de
vista antropológico, com o apoio e a referência dos avanços tecnológicos e virtuais
das possibilidades de translado e comunicação, o processo migratório também se
ampliou, de modo que o mundo se tornou uma “aldeia global” como recentemente se
reconheceu. As distâncias se encurtaram, e as possibilidades que há não muito
tempo eram mais reduzidas agora abrem as portas do mundo ou do universo
multicultural a todos os povos. Hodiernamente, outras são, de fato, as
facilidades que motivam a imigração crescente e cada vez mais acelerada. Dois
autores modernos publicaram um livro intitulado Anthropology (Joy Hendry;
Simon Underdown) no qual eles abordam, entre outras colocações,
o fenômeno antropológico na era da comunicação global. Por que as pessoas se
movem? Quais as causas culturais, pessoais ou de outros interesses que estão
por trás de sua sede de ir e vir buscando contanto com outros povos? E eles
apresentam, pelo menos, três modalidades de incitação do movimento em derredor
do mundo.
Primeiro, são
apresentadas as razões econômicas por meio das quais as pessoas buscam melhores
condições de vida em outros lugares. Em determinadas circunstâncias, as pessoas
se mostram com habilidades para oferecer benefícios como no caso da
“reciprocidade” em suas transações comerciais, mesmo que, em outros casos, com
o passar do tempo, isso possa gerar conflitos a nível local por conta da alta onda
de desemprego que afeta o contexto internacional. Tal intercâmbio cultura,
evidentemente, enriquece o outro lugar, dependendo daquilo que os povos levam
consigo para suprir as necessidades da permanência numa terra diferente da sua.
O veio cultural, social, religioso, histórico ou até mesmo folclórico de suas
tradições enquanto povo pode, inclusive, dar um panorama novo à identidade do
lugar.
A segunda
conjuntura de emigração apresentada pelos referidos autores, está relacionada à
dificuldade que as pessoas têm para viver em seu próprio país, por se
encontrarem no lado errado, oposto, à situação política que divide o povo, como
no caso de uma guerra civil, ou porque suas ideias são contrárias ao regime que
está no poder. Talvez, esse aspecto seja uma das chagas mais tristes da
sociedade moderna, de modo especial, pelo desrespeito à dignidade humana. O
mundo vive em ebulição, e o noticiário internacional sempre fala do desespero
dos que saem, sobretudo, de países pobres onde a ditadura esmaga as pessoas, levando-as
a fugirem em busca de abrigo, ou porque, com o elevado índice de pobreza e
miséria circundante, outra alternativa não têm senão forçar a porta da aflição
extrema em demanda de melhores condições de vida. No entanto, no percurso de
travessia, feito especialmente pelo mar, em embarcações precárias e lotada de
gente mais do que o suportável, acabam naufragando e muitos morrem antes de
chegarem à outra margem, à margem da esperança. A Itália, por exemplo, é um dos
países mais abertos e acolhedores da Europa no que concerne à chegada das
embarcações que se aproximam de seu litoral. É, pois, na Itália onde muitos
encontram apoio e asilo político, que é um direito internacional e deveria ser
concedido a todos, quando sentem sua vida terrivelmente ameaçada. A terceira e
última abordagem sobre o movimento dos povos refere-se ao fenômeno das viagens
feitas por um curto período, ou não, tendo como fundamento o trabalho ou o
estudo realizado em outro país. Geralmente, são os fatores econômicos que
favorecem tais possibilidades. Um ou outro membro da família pode viajar ao
exterior, talvez, enviando a economia de seus ganhos para casa, com a
finalidade de ajudar em algum propósito especifico como a compra de uma casa ou
o início de um negócio. Há também o caso dos filhos serem enviados para estudar
ou fazer o chamado “intercâmbio cultural” em outra nação, o que futuramente
poderá favorecer alguma vantagem em concursos ou mesmo quando eles estiverem
inseridos no mercado de trabalho.
Concluindo o
pensamento dentro do âmbito das migrações, eles abortam ainda a importância do turismo, visto como uma forma de
educação ou divertimento – “recreação” –para o movimento dos povos, mas também
enquanto reposta nova à mudança tecnológica. Segundo eles, as rápidas formas de
transporte se desenvolveram e abriram-se muito para o mundo de modo que, pelos
preços, muitas pessoas podem, pelos menos ocasionalmente, chegar a outros
lugares, mesmo com o impacto causado às populações que habitam o destino da
viagem. Desse modo, a antropologia do turismo focalizou os efeitos dessa enorme
indústria internacional, em níveis locais, procurando os benefícios econômicos,
mas também calculando o preço da mudança social e cultural.
A apreciação dos
sobreditos autores reflete muito bem o motivo pelo qual também Londres é
invadida por turistas do mundo inteiro. Aqui também é uma encruzilhada da
humanidade como disseram de Paris. E eu não me excluo do privilégio dos que
compõem o universo viandante desses pobres mortais.
Ao lado disso
tudo, ainda existe o fenômeno da cibernética moderna, cuja teia de comunicação
se estende por meios até pouco tempo inimagináveis. Os autores também falam do
assunto. Envolvido dentro das múltiplas modalidades das chamadas “redes
sociais”, o complexo mundo das ramificações dos sistemas de relações
interpessoais passa pelas máquinas da tecnologia moderna. Por exemplo, tudo
hoje pode se concentrar dentro de um simples aparelho telefônico, no caso, o
celular. Mesmo de longe, continuamos presentes na vida dos amigos, das pessoas
queridas, dos familiares, sem por isso, nos darmos conta de que nos afastamos
cada vez mais do tradicional jeito de nos comunicar com as pessoas. Basta
apenas percebermos o modo de como as pessoas se comportam nos lugares públicos ou
privados de posse de seus aparelhos, em casa, na rua, nos ambientes formativos,
nos hospitais, dentro dos transportes, no convívio social, nos relacionamentos
amorosos e, até mesmo, no face a face com outro, não perdermos um instante de
conexão com o dispositivo tecnológico ao alcance da mão e dos olhos.
Caminhando, comendo, dormindo ou acordado, ouvindo música e, às vezes, até
mesmo estudando, não desgrudamos o olhar da tela para vermos a novidade do
último recado ou da mais nova publicidade. A interação com a máquina parece
roubar-nos um pouco de nós mesmos e dos outros, o que pode repercutir na frieza
dos relacionamentos e no apreço devido ao outro. O interesse pela máquina deu
lugar à superficialidade e ao demérito em relação à presença das pessoas
circundantes.
Definitivamente,
a máquina se transformou em uma extensão do nosso corpo como já apregoava a
filosofia antropológica diante dos condicionamentos das coisas que tocamos com
muita frequência. Se o mundo já era velho para algumas pessoas, imaginemos
então para aqueles que desconhecem completamente o suporte irreversível que as
tecnologias modernas trouxeram para os tempos atuais. Atravessamos o mundo, mas
permanecemos internacionalmente conectados.