O timoneiro mudando a posição da vela
Mudar a posição da vela é mudar também a
direção do barco. Essa é, pois, uma das maiores responsabilidades dos
timoneiros quando pressentem a necessidade de mudança em relação à pressão do
vento. Certamente, a navegação sempre foi um fascínio dos velejadores no
horizonte, não só das conjunturas dos ventos e das águas, mas também na
esperança de novas descobertas. Talvez tenha sido por causa dessas
circunstâncias, adversas e surpreendentes, que Cneu Pompeu Magno (106-48 a. C.)
afirmara: “Viver não é preciso; navegar é preciso!” De algum modo, segundo a
literatura moderna, essa frase foi popularizada e atribuída a Fernando Pessoa
(1888-1935), poeta, filósofo e escritor português. Contudo, independentemente de
quem tenha sido o autor, eis, então, uma bela metáfora existencial para muitas
realidades humanas e, igualmente, eclesiais.
Na Igreja de Cristo, o simbolismo da relação
entre o timoneiro e a barca tem muito a nos ensinar. Com efeito, foi dela que o
próprio Senhor se serviu para imprimir um caráter temporal e divino, eterno, à
sua missão no mundo. E foi, justamente, lá, à beira do Lago de Genezaré, onde
ele começou chamando seus primeiros apóstolos. “Vinde após mim, e vos farei
pescadores de homens!” (Mt 4,19). Portanto, foi naquele contexto que a barca de
Pedro se tornou protótipo da Igreja. E ele mesmo, o Senhor, colocara-o como o
primeiro timoneiro da embarcação que é a Igreja, que vai singrando, tempo
adentro, tempo afora, sobre as águas impetuosas do mundo em direção ao porto
seguro da eternidade. Como escrevera um autor moderno: “Bendita és a Igreja de
Cristo, imagem do céu projetada na terra! A poeira de vinte séculos de
caminhada não apaga o esplendor de tua face divina. Tu és bendita, hoje e
sempre, porque em Ti está Deus, que não morre; está a palavra de Deus, que não
passa; está o Reino dos céus que caminha para a sua plenitude. Assim como as
olimpíadas passam de uma para outra a tocha viva que acende os ânimos, tu
transmites, de geração em geração, a luminosa chama da Fé, até o fim dos
séculos. E, quando findar o tempo, a mesma fé abrirá um caminho de luz que nos
levará ao esplendor da claridade total, que nos emana da Face do Pai”. (Pe. Luiz Chechinato). De fato, a Igreja
do Senhor, que planta suas raízes nesse mundo, possui um futuro de glória
perene no Reino dos céus. No entanto, até chegar lá, como uma barca, ela
precisa de rumo e direção, conforme soprarem os ventos e desatarem as borrascas
de seus desafios e de suas consolações durante a travessia, ainda que nela
pareça “entrar água por todos os lados”, como rezava, então, o Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, na
via-sacra do Coliseu em 2005.
Ao longo dos séculos, a realidade mística da
figura da Igreja de Cristo tomou proporções cada vez mais profundas e firmes na
certeza inabalável da promessa do Senhor: “... e as portas do inferno (hades)
nunca prevalecerão contra ela”. (Mt 16,18). Constituída de homens, pobres e
mortais pecadores, as águas do mundo – suas procelas, suas ideologias, suas
heresias, sua teimosia burra em afastar-se de Cristo – não poderão, jamais,
fazer submergi-la, porque o próprio Senhor é o timoneiro, supremo e por
excelência, da embarcação que é a sua Igreja. No entanto, ele quis precisar e
confiar aos Apóstolos a continuidade do serviço da evangelização no mundo, para
converter os homens e atraí-los a si. É, pois, o que acontece em todas as
dioceses do mundo inteiro através da sucessão apostólica dos bispos. Evidentemente,
em proporções menores e à mercê da medida limitada de sua extensão territorial,
mas com vislumbre na mesma essência divina e eclesial de todos os tempos,
inclusive com todos os bispos da Igreja em união com o Santo Padre – Petrus
hodiernus – o Papa Francisco.
Aqui, na Arquidiocese de Aracaju, não poderia
ser diferente! Ou seja: nesses últimos tempos, depois de alguns meses de Sede
Vacante, a Igreja Particular de Aracaju acolheu Dom Josafá Menezes da Silva, no
dia 25 de maio recente. Ele veio, nomeado pelo Papa Francisco, a fim de dar
seguimento aos trabalhos apostólicos da missão evangelizadora da Igreja no
território da Arquidiocese. Assim, com serena tranquilidade, sem a pressa da
urgência febril dos incautos, ele tem assumido o apostolado com firmeza e
magnitude. Na verdade, a estrutura espiritual e psicológica das pessoas,
sobretudo no que concerne às tarefas que lhes são confiadas – também na Igreja –
revela a grandeza de sua estatura. Dessarte, enfronhando-se de corpo e alma nos
trabalhos pastorais, conforme as exigências de cada momento, a Igreja cresce e se
manifesta, luminosamente, viva e dinâmica aos olhos do mundo. E ainda: não é a
nossa própria luz que deve ganhar força, mas a luz de Cristo, que deve
resplandecer, sempre com maior intensidade, sobre a vida de todos os cristãos. Com efeito, a egolatria, não apenas não faz bem à Igreja, mas também torna as pessoas cegas e
bobas, quase idiotizadas.
Nesse sentido, e consoante as necessidades
sinalizadas pela direção dos ventos, o timoneiro vai mudando a posição da vela,
no intento de que a barca da Igreja de Aracaju receba novos ares e avance em
águas mais profundas. E, mesmo que a calmaria seja aparente, com sobriedade e
paciência, na perseverança, com eutimia e paz na alma, o Arcebispo não promete
“fazer maravilhas”, mas promete “trabalho”, como enfatizou na segunda reunião
geral com o seu clero, no dia 17 de julho de 2024. Eis, portanto, o âmago
administrativo e funcional para os novos tempos na Arquidiocese de Aracaju.
Enfim, alea jacta est (a sorte está lançada), mesmo se também devemos nos
lembrar de que alea non facit omnia (a sorte não decide tudo)! Quer dizer:
Deus e os fatos precisam, de igual modo, da colaboração e da boa vontade de
todos, tanto dos clérigos quanto dos leigos, unidos ao seu pastor maior, o Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju, Dom Josafá Menezes da Silva. (Dr.
PGRS).