O Conclave que elegeu o Papa
Francisco
Doze
de março de 2013! Doze dias depois da renúncia de Bento XVI, dá-se início
à procissão de ingresso dos Cardeais eleitores na Capela Sistina onde acontece
o Conclave. São 16 horas e 30 minutos. Tudo é transmitido televisivamente. Mais
de cinco mil jornalistas credenciados pelo Vaticano estão presentes para
anunciar o evento em tempo real. Pela manhã, a já aconteceu a missa na intenção
de eleição do novo Papa – Pro eligendo Romano
Pontifice! A celebração foi presidida pelo Cardeal Decano, Ângelo Sodano.
Na
homilia, logo no começo, fez breve menção e agradecimento a Deus pela vida e
pelo pontificado de Bento XVI, temporariamente, residente no castelo de verão
dos papas, em Catelgandolfo. Um prolongado aplauso subiu da assembleia como
sinal de gratidão e reconhecimento ao inestimável serviço prestado à Igreja
pelo Papa Emérito. A reflexão do Cardeal Ângelo Sodano, biblicamente,
tranquila, conservou-se fiel às leituras, embora também tenha feito referências
a temas trabalhados catequeticamente pelos Papas João Paulo II e Bento XVI. No
contexto do discurso, enfatizou o quanto afirmara João Paulo II em sua
Encíclica Dives in Misericordia –
“Deus, rico em misericórdia”. E, em relação a Bento XVI, referiu-se à mensagem
da Quaresma para 2013, associando o “serviço da Palavra” à “caridade” realizada
em benefício dos irmãos.
Segundo
comentaristas internacionais, cada conclave é especial pelo fato de que envolve
questões diferentes e motivações impostadas pelas conjunturas do momento
histórica da Igreja e do mundo. Há os problemas religiosos, geopolíticos,
sociais, culturais, eclesiais e, assim, por diante. Quando morreu o Papa João
Paulo II, dentro e fora da Igreja, o clima era de choro e despedida com a morte
do Romano Pontífice. Suas exéquias foram, particularmente, emocionantes,
participada pelas autoridades mais poderosas do mundo e com a presença de
simples fiéis seguidores de Cristo. Um Papa que havia levado até às últimas
consequências a cruz de seu pontificado, tornando-se um ícone da perseverança
diante das próprias limitações físicas de sua pessoa. Nesse conclave, num
contexto totalmente adverso pelas circunstâncias, com o Papa Emérito vivo,
outras se demonstraram serem as preocupações, não somente dos cardeais, mas
também da pressão internacional, cujas interpretações estavam, supostamente,
inerentes ao próprio futuro da Igreja. Essa onda de descontentamento com os
recentes rumos da Igreja, abalada por escândalos de todo tipo, tais como a
pedofilia dos padres, o roubo de documentos pontifícios, cujo maior acusado foi
o mordomo do Papa, Paolo Gabriele, que ficou preso no Vaticano e foi perdoado
por Bento XVI, o problema do Instituto das Obras Religiosas (IOR) e a
deflagração do indecoroso comportamento de caráter homossexual, envolvendo uma
rede de prostituição dentro do Vaticano, como foi noticiado, o que seria um
verdadeiro descalabro moral e espiritual por trás das cortinas vaticanas.
Portanto, temas cujas discussões encheriam livros de curiosidades históricas e
mexeriqueiras para os inquisidores pós-modernos da própria Igreja de Cristo.
Treze
de março de 2013! O Conclave que elegeu o Romano Pontífice Francisco, cujo nome
de batismo é Jorge Mario Bergoglio, o então Cardeal de Buenos Aires, de 76 anos
de idade, foi o segundo do início do terceiro milênio, e durou 26 horas apenas.
Alguns momentos antes, pudemos perceber a presença de uma pomba sobre a chaminé
da Capela Sistina. Talvez, um sinal alvissareiro de que, em breve, teríamos a
novidade da eleição. Telefonei para minha mãe, falando do símbolo do Espírito
Santo, trazendo ao mundo a concretização de mais essa expectativa da Igreja de
Cristo, para cujo coração estavam voltados os olhares do mundo inteiro. Sim, o
Espírito Santo está acima do juízo final de Michel Ângelo, dentro da capela
Sistina, que acoberta a consciência e a visão de fé dos cardeais. E uma
expressão trazia o sentido da superficialidade dos homens na expectação do
resultado do conclave: “Os olhos humanos e artificiais pendurados em uma
chaminé”. Chega a noite, e o novo Papa ainda não fora eleito. Continuamos na
expectativa das surpresas do Espírito Santo. Em seguida, a boa notícia da
fumaça santa, branca. Um papa que surge da escuridão da noite em Roma e no
Vaticano. Tal simbolismo, talvez, traduza-se pelas conjunturas e dificuldades
que internamente a Igreja enfrenta nesse momento de sua história. A fumaça
branca começa a surgir no céu, às 19h07 minutos, horário local. É o vigésimo
terceiro Papa eleito no mês de março, segundo noticiário internacional. Seu
nome sai na quinta votação dos cardeais eleitores. Com o anúncio do “habemus papam”, feito pelo Cardeal
francês, Jean-Louis Tauran, o mundo inteiro ficou sabendo qual o semblante do
novo Papa que vem da Argentina.
Que
espetáculo ver a Praça do Vaticano “gremida”
– como dizemos em italiano – quer dizer, locupletada, apinhada de pessoas do
mundo inteiro. Bandeiras de todas as cores, algumas do Brasil, talvez, com
brasileiros esperando uma fumaça “verde-amarela”, brincou alguém, caso o Papa
viesse do Brasil. Mas ainda não foi a nossa vez. Foi a vez do Espírito Santo,
revelando ao mundo suas surpresas. De fato, seus mistérios impenetráveis e seus
caminhos misteriosos nunca poderão ser alcançados pelos homens, presunçosos e
autossuficientes. Guarda-chuvas de todas as cores, pois o tempo estava frio e
chuvoso, estampavam a alegria de tão festivo momento, sobretudo, para a Igreja
que o mundo continuará odiando e combatendo, implacavelmente, porque primeiro
odiou o seu próprio Senhor e Mestre. Foi Cristo quem o disse: “Se o mundo vos
odeia, sabei que, primeiro, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria
o que era seu; mas, porque não sois do mundo e minha escolha vos separou do
mundo, o mundo, por isso, vos odeia” (Jo 15,18-19). Uma palavra forte, que
projeta dardos de trepidação interior no mais profundo da alma dos seguidores
de Cristo.
E
a barca de Pedro continuará singrando os mares do mundo com as consolações de
seu Senhor e Mestre, que para cada novo tempo, revela os segredos de sua
vontade na eleição de homens sábios e humildes que se esforçam para seguir seus
passos pela vivência e anúncio do Evangelho de Cristo. O homem que assume o
pontificado sabe muito bem quais as cobranças e as exigências que o próprio
cargo lhe impõe quanto à missão de confirmar os seus irmãos na fé. O primeiro
Papa da América Latina, jesuíta, inspirado na simplicidade franciscana, que
usava transportes públicos e fazia sua própria comida em casa. Um Papa que pede
a benção do povo pela oração silenciosa. Um Papa que nos ajuda a rezar e a
fazer silêncio, atitudes de que o mundo moderno tem tanta necessidade para
reencontrar o caminho da paz e da fraternidade universal. Seu nome – Papa
Francisco – sinaliza tempos novos na Igreja de Cristo pelo simbolismo de seus
gestos e pela abertura franciscana que reacende os valores do pobrezinho de
Assis, São Francisco.