Quando dois Papas se encontram
Há
muito pouco tempo, há menos de meses, quem poderia imaginar que presenciaríamos
o histórico fato de dois papas se encontrarem? Foi somente o Papa Bento XVI
anunciar que renunciaria ao Pontificado no dia 28 de fevereiro de 2013, para o
coração dos cristãos e dos curiosos do mundo inteiro excogitar a
extraordinariedade do acontecimento. Um fato nunca noticiado em quase
seiscentos anos. Já do dia doze de março, antes mesmo que o mundo conhecesse o
novo Romano Pontífice, o Papa Francisco, eles já tinham trocado algumas
palavras por telefone, linha direta da Capela Sistina para Castelgandolfo, onde
se encontrava o Papa Emérito.
No
encontro, acontecido na manhã do sábado dia 23 de março de 2013, o Papa
Francisco, que chegou de helicóptero em Catelgandolfo, presenteou Bento XVI com
um ícone de Nossa Senhora da Humildade, enfatizando o grande testemunho que o
Papa Bento XVI dera durante o seu Pontificado, inclusive, com a renúncia,
depois de reconhecer que suas forças haviam diminuído nos últimos tempos, de
modo que gostaria de deixar o posto ao seu Sucessor mais jovem e com mais energias
para a missão. Dois Papas que se olham nos olhos e se consideram irmãos: “Somos
irmãos”, afirmou o Papa Francisco. Durante o encontro, tiveram uma conversa
reservada de 45 minutos, trocaram presentes e almoçaram juntos. Depois do
almoço, fizeram breve passeio pelos jardins internos de Catelgandolfo. Enquanto
isso, para variar, os jornalistas, sempre indiscretos, com línguas ervadas de
sucos dialeticamente venenosos, tentavam sugerir os temas discutidos pela
histórica reunião dos papas. Os problemas recentes que afetaram a vida da
Igreja e o Pontificado de Bento XVI. Os casos de pedofilia, o roubo dos
documentos pontifícios, que foram publicados em forma livro, a situação
administrativa do Banco do Vaticano, entre outros temas correntes, ao sabor do
palpite de repórteres e vaticanistas, tudo deixou em suspense o verdadeiro
conteúdo da conversa.
Pelo
menos, o encontro serviu para fazer calarem as línguas maldosas que imaginaram
que Bento XVI criaria dificuldades desnecessárias ao novo Papa, com estilo totalmente
diferente do seu. Um latino americano e outro europeu. Quantas comparações já
não foram feitas entre os dois! Ninguém é igual a ninguém, pois cada ser humano
faz valer as características de sua história pessoal, de sua cultura, de seu
tempo, de suas percepções afetivas e dialéticas, enfim de tudo aquilo que
compõe o bojo formativo de sua personalidade. Claro que Jorge Mário Bergoglio,
atual Papa Francisco, não poderia mudar tão radicalmente seu jeito de ser,
simplesmente, porque fora eleito Papa. Muito pelo contrário, agora, seu estilo
de pastor torna-se mais evidente e claro porque diante dos holofotes
indiscretos do mundo inteiro. A simplicidade de seus gestos não é fruto do
desejo instantâneo de aparecer ou de querer ser aplaudido por ninguém. Lembro-me
de que, antes das últimas eleições na Itália, um jovenzinho jornalista
criticava, abertamente, o Primeiro Ministro Mário Monti por exibir ostentação ao
ser católico, sempre indo as Igrejas e sendo fotografado pelos paparazzi de plantão.
Sua resposta não poderia ter sido mais serena: “Eu não tenho culpa se em
qualquer lugar onde me encontro sempre tem alguém querendo fotografar-me! Nunca
chamei ninguém para me acompanhar”. O mesmo acontece com todos os Papas, embora
o serviço fotográfico seja especializado e reservado uma equipe do Vaticano. O fato
é que, como reza a filosofia, “agere
sequitur esse!” [“o agir segue o ser”]. Trata-se de uma máxima filosófica
para determinar o fundamento metafísico da pessoa humana na sua essência
existencial. Isso para dizer que a pessoa que virou Papa não abandona, como por
uma cisão radical de comportamento, os trejeitos próprios de seu caráter,
intrinsecamente, pessoal.
Daí
as comparações costumeiras entre um papa e outro, embora, ninguém se engane, pois
apenas os estilos são diferentes. Portanto, seja quem for, venha de onde vier, o
Papa será sempre o guardião do depósito da Fé confiado por Cristo à sua Igreja.
Mudam-se os acidentes que constituem o ser da pessoa, mas não muda a essência do
que a Igreja de Cristo proclamou e proclamará ao longo dos séculos, da “perene
e imutável” verdade do Evangelho de Jesus. O
resto nada mais é do que reflexo do que o mundo sempre viveu distante dos
ensinamentos divinos, com espírito de soberba, arrogância, libertinagem, busca de
si mesmo e autossuficiência. Mas sem Deus não somos nada. É, pois, esse o
grande desejo de Cristo e de sua Igreja, isto é, a insistência no fato de que o
homem redescubra os valores da importância de Deus na constituição de todos os
seus sistemas temporais de realização e autêntica plenitude. Quanto a isso, nenhum
Papa poderia jamais dizer o contrário, porque já não mais seria o legítimo representante
visível da Igreja do Senhor. Viva a Igreja de Cristo! Vivam os Papas!!