segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Papa Francisco tinha razão!!


O Papa Francisco tinha razão!


 


O Papa Francisco tinha razão quando disse que, durante seus dias no Brasil, falaria, não somente para os jovens aqui presentes do mundo inteiro, mas, também, haveria de fazer discursos importantes “às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações”. De fato, ele cumpriu o seu programa franciscano à risca, com a ousadia e a veemência próprias de um latino americano. Ninguém ficou de fora! Nem mesmo os filhos da Igreja, especialmente, os ministros de todos os escalões da hierarquia eclesiástica, que não conseguem unir “palavra e ação” no mesmo pedestal do testemunho, que arrasta e atrai mais do que a dialética bonita e comovente de discursos que se dispersam na fumaceira da incoerência. Tanto quanto possível, farei ao meu leitor breve balanço de algumas expressões fortes de suas alocuções. 

 


No Santuário de Aparecida, ele pediu a Maria “para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno”; falou a todos que vivem a fé, especialmente, aos pais e mães de família, em meio às dificuldades: “Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros”; referindo-se aos jovens, o Papa afirmou que eles “não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo”. 


Na visita ao Hospital São Francisco de Assis, colocando em cena o Evangelho do Bom Samaritano (Lc 10,25-37), sua palavra foi de encorajamento aos que lutam junto de quem sofre as amarras da dependência química, no contexto do Brasil e do mundo: “Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os ‘mercadores de morte’ que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro”. Diante da indiferença com que, não raras vezes, distanciamos o olhar dos irmãos sofredores, o Santo Padre afirmou: “Penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre”. 

 


Na comunidade de Varginha, no Rio de Janeiro, na simplicidade de seus gestos e palavras, querendo, se possível, inclusive, pedir a todos um “copo d’água” ou mesmo “um cafezinho”, o Papa Francisco falou de acolhimento e solidariedade: “E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração”; “Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais!”; “Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano”. Também se referiu à corrupção que desanima os jovens diante da credibilidade dos políticos: “Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício”. 

 


Aos jovens argentinos, o Sumo Pontífice externou o desejo de como gostaria que fosse uma das consequências da JMJ: “Desejo dizer-lhes qual é a consequência que eu espero da Jornada da Juventude: espero que façam barulho. Aqui farão barulho, sem dúvida. Aqui, no Rio, farão barulho, farão certamente. Mas eu quero que se façam ouvir também nas dioceses, quero que saiam, quero que a Igreja saia pelas estradas, quero que nos defendamos de tudo o que é mundanismo, imobilismo, nos defendamos do que é comodidade, do que é clericalismo, de tudo aquilo que é viver fechados em nós mesmos. As paróquias, as escolas, as instituições são feitas para sair; se não o fizerem, tornam-se uma ONG e a Igreja não pode ser uma ONG”. Falou também da “cultura da eutanásia”, que despreza os velhos, reduzindo-os ao silêncio e à inoperosidade, e da exclusão dos jovens que não têm trabalho nem emprego, destacando “uma geração que não tem experiência da dignidade ganha com o trabalho. Assim, esta civilização nos levou a excluir os dois vértices [a juventude como esperança do porvir e a velhice como fonte de experiência e sabedoria] que são o nosso futuro”. 


Ainda, o Santo Padre abordou muitos outros temas, tais como, a importância da família, a capacidade de diálogo entre as substanciais correntes da constituição cultural, moral, religiosa, técnica e artística de um povo, o reforço da formação democrática, que favoreça e contemple o ser humano na dimensão integral do caráter de sua existência, permitindo-lhe, inclusive, manifestar suas expressões religiosas mediante a própria liberdade tutelada pelo estado dito laico; o Papa também insistiu na necessidade de “reabilitar a política”, no sentido de que ela “é uma das formas mais altas da caridade. O futuro exige também uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza”. Agora, depois de sua passagem pelo Brasil, esperamos que seus discursos não permaneçam lacrados e engavetados na preguiça da leitura, a fim de que sejam levadas à concretude tantas bonitas propostas de civilização e da possibilidade de estabelecimento da “cultura do encontro” onde todos somos iguais e lutamos pelos mesmos direitos patrocinados pela dinâmica social da convivência humana fraterna.


 




Uma semana historicamente... Diferente!



Com a presença do Papa Francisco no Brasil, a nação brasileira viveu uma semana intensa e historicamente... Diferente. Desde sua chegada até sua despedida, o Santo Padre mostrou a que veio, por meio de suas palavras, mas, sobretudo, pelos gestos simples e despretensiosos de proximidade com o povo de Deus e os jovens. Beijou muitas crianças, tomou chimarrão, tocou tambor, cumprimentou muitos idosos, distribuiu beijos aos transeuntes de Copacabana, abençoou cadeirantes, trocou solideis papais com as pessoas na rua, desceu inúmeras vezes do papa móvel, quebrou protocolo, visitou uma família, confessou alguns jovens... E, na despedida do Sumaré, já de dentro do helicóptero, desenhou o coração no ar como se dissesse “Brasileiros, eu amo vocês!” 


Um papa que mostrou ao mundo “como é elegante ser simples”, como dissera Renata Vasconcelos, jornalista da TV Globo. Promovendo a “cultura do encontro”, conclamou todos à disposição enérgica de colocar-se a serviço dos irmãos, cada um conforme suas possibilidades. Encontrou-se com o maior número permitido de pessoas, superando as barreiras do distanciamento, e dizendo: “Eu estou aqui, posso entrar?”! Ele pediu licença e a permissão para bater, “delicadamente”, à porta do coração de todos. Quem recusaria a presença do Papa peregrino no meio nós, não se abrindo à largueza de seu sorriso sincero, franco, desejoso do encontro olho no olho? Ele falou para todos: sacerdotes, bispos, seminaristas, religiosos, freiras, irmãos leigos, autoridades políticas, jornalistas, crianças, jovens, anciãos, pobres, ricos, doentes, pessoas fisicamente limitas, e, enfim, deixou seu recado para todos os homens de boa vontade que estiverem dispostos a ajudá-lo na superação de tantos males culturais que tornam a sociedade doentia e sem o alento necessário à urgência da reestruturação de seus pontos nevrálgicos, vulneráveis. 

 


Ele foi embora com saudade e deixando saudade, mas levou consigo a convicção de que a experiência valeu a pena. Ele que reconheceu com muita simplicidade retornar a casa sentindo mais a suavidade da alegria do que o peso do cansaço. De fato, foram dias desafiadores e fatigantes. Por meio da figura do Papa Francisco e de tudo o que ele disse e fez, com normal naturalidade, mas também das pessoas que ele conseguiu reunir em torno de si, vimos uma Igreja viva, ressuscitada em Cristo. Ao contrário do que alguns pensam, tentando atribuir à Igreja do Senhor vicissitudes temporais aos modismos das épocas, ela não vive de invernos nem de primaveras, mas da perenidade da juventude eterna de seu fundador, Cristo Ressuscitado. Ele é a seiva viva que alimenta a árvore frondosa de nossa esperança, desafiando os tempos e as vontades humanas, para romper o véu dos séculos e conduzir-nos à plenitude da Igreja triunfante no Céu, onde Cristo, Cordeiro Imaculado, Morto e Ressuscitado, já está à nossa espera.