quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Risco das Amizades...


O Risco das Amizades 





Quem não estiver disposto a correr o risco das amizades, esqueça a possibilidade de poder encontrar um verdadeiro amigo. Por ocasião do dia 20 de julho, consagrado como o Dia Internacional da Amizade, gostaria de refletir com meu querido leitor sobre os riscos que corremos para conseguir o amigo que seja o autêntico reflexo do que gostaríamos de perceber na simpatia do outro. Muitas vezes, o complexo mundo relacional afetivo esbarra nas incongruências das frustrações que podem, não apenas fazer-nos rever os critérios quanto aos amigos que escolhemos, mas, também, levar-nos a redimensionar todos os circuitos que envolvem a amizade com as pessoas. 


Infelizmente, temos de concordar com o fato de que os amigos – ou as pessoas – mudam de comportamento segundo seus interesses pessoais e egoístas. Desse modo, quando o ambiente relacional mina e deteriora o campo de suas intenções escusas e suspeitas, é melhor afastar-se, não considerando mais digna nem valiosa a presença do outro. Consequentemente, no intento de realizar a triagem necessária à limpidez da amizade, poderíamos fazer a “terapia do lixão”, um termo que criei e adotei em minha vida, a partir do verão europeu de 2003, quando completei 33 anos de idade. Eu estava na Alemanha, precisamente, em Bonn, a terra de Ludwig van Beethoven. Foi ao longo do Rio Reno, ao lado de um amigo brasileiro, que comemorei aquele aniversário, comendo um doce árabe, por sinal, horrível, muito açucarado. Quando estamos longe de casa, a saudade faz com que tragamos à mente a lembrança dos amigos que estão distantes, sobretudo, da família que nos cerca de carinho e atenção, pois, como já afirmaram, “a lembrança é uma forma de encontro”. Quantos encontros desse tipo não acontecem todos os dias dentro de nós, de modo especial, nas circunstâncias em que o afeto ferido por alguém ou de alguém atinge os portões da alma e precipita a pessoa na melancolia da solidão? E como é triste constatar que as pessoas não nos amam como pensávamos que nos amavam! Pessoas que nos suportam com cinismo e falsidade ou, pior, com mentiras e deboches. São os riscos das amizades. 



Também há pessoas que não nos fazem bem, pessoas cuja companhia nos deixa pior do que já somos. Ninguém merece isso! Às vezes, são pessoas azedas e não resolvidas, afetiva e emocionalmente, que despejam diante de nós as amarguras de suas frustrações. São pessoas insatisfeitas com elas mesmas, talvez, por não terem encontrado nenhum ponto de equilíbrio entre seus ideais e suas realizações. Pessoas que nos “puxam para baixo”, como dizem em psicologia. Numa palavra, pessoas que devem ser evitadas, se possível, a fim de que possamos conservar, de maneira mais prolongada, a eutimia, a autoestima e o amor próprio. Nesse sentido, é muito válido o balanço honesto e sincero que temos de fazer diante de pessoas mesquinhas e não verdadeiramente comprometidas com o nosso bem estar interior. É aí que entra o que chamei de “terapia do lixão”. Todo mundo sabe para que serve o “lixão”. Por exemplo, na Jerusalém da época de Cristo havia um vale chamado Geena, onde era queimado o lixo da cidade Santa. No Antigo Testamento, tratava-se de um termo geográfico que dividia a cidade das colinas do Sul e do Oeste. Depois, metaforicamente, ela se tornou símbolo do próprio “inferno” onde devem ser punidos os inimigos de Deus e de sua religião. Segundo a afirmação de um dicionário bíblico, “o vale tinha reputação má nos últimos tempos do AT, porque era a região do Tofet [do hebraico “crematório” ou “um lugar de sepultura”], um santuário cúltico onde eram oferecidos sacrifícios humanos (2Rs 23,10; 2Cr 28,3; 33,6; Jr 7,31; 19,2ss; 32,35). Às vezes, é denominado simplesmente o ‘vale’ (Jr 2,23). Por causa desse culto, Jeremias amaldiçoou o local e previu que seria um lugar de morte e corrupção (7,32; 19,6ss). O vale consta, não pelo nome, em Is 66,24, como um local onde os corpos dos rebeldes contra o Senhor deverão jazer. [...] No NT, a Geena é mencionada até sete vezes em Mt, três vezes em Mc, uma vez em Lc e uma vez em Tg. É um lugar de fogo (Mt 5,22; 18,9; Tg 3,6). O fogo é inextinguível (Mc 9,43). É um abismo no qual as pessoas são lançadas (Mt 5,29; Mc 9,45.47; Lc 12,5)”. Embora as imagens pareçam fortes, elas corroboram, de maneira fantástica, a ideia que fiz da intuição do “lixão”. Por isso que a referida “terapia” pode causar-nos tristeza, e dor, e sofrimento mesmo, sobretudo, pela coragem que devemos ter para desvencilhar-nos das amizades que não nos acrescentam nada mais positivo ao que já somos, podendo, inclusive, estragar os sentimentos de bondade que possuímos. 


Inicialmente, o processo é tão doloroso quanto termos de reconhecer que “amor que vai e não vem, não gera luz”, como sói afirmar uma amiga. Mas garanto que, depois de algum tempo, isso vai fazer-lhe muito bem. É quando, de repente, descobrimos que há pessoas que se comportam como se nunca fossem precisar de nosso auxílio. Pensam somente nelas mesmas, são egoístas, e descartam qualquer possibilidade de estender a mão ao outro, especialmente, na hora das dificuldades. É a própria Bíblia que o assevera: “Em todo o tempo ama o amigo e para a hora da angústia nasce o irmão” (Pr 17,17); e ainda: “O homem de muitos amigos deve mostrar-se amigável, mas há um amigo mais chegado do que um irmão” (Pr 18,24). No entanto, nem sempre é isso o que acontece na dinâmica relacional da convivência entre os amigos ou supostos amigos. Portanto, caro amigo leitor, amanhã, dia 20 de julho, fique alerta e tente descobrir ou redescobrir os verdadeiros amigos que sejam dignos de sua amizade e atenção. Separando o trigo do joio, com clareza de sentimentos e apreciação lúcida e serena de suas amizades, com certeza, você encontrará o caminho certo da “terapia do lixão” ou, quem sabe (?), do processo inverso, juntando os amigos no caldeirão afetuoso da simpatia recíproca. Pensando assim, nada mais eu poderia augurar-lhe senão um “Feliz dia internacional da Amizade!”