Padre Raul Bomfim Borges
Cinquenta anos de ministério
sacerdotal
No
próximo domingo, 7 de julho de 2013, o Pe. Raul Bonfim Borges completará
cinquenta anos de exercício do ministério sacerdotal. Sim, foi, pois no dia 7
de julho de 1963, por coincidência um dia de domingo, que ele foi ordenado
sacerdote na Catedral Metropolitana de Aracaju, pela imposição e oração
consecratória do então Arcebispo Metropolitano, Dom José Vicente Távora. A
celeridade do tempo não perdoa o desgaste normal das pessoas. Hoje,
septuagenário, ele segue firme o sonho de sua consagração, ajudando aos padres
da Região do Agreste, presidida pela na Igreja Santo Antônio e almas de Itabaiana.
Nascido em São Cristovão, sendo filho de Francisco Borges Vieira e Otacília
Bomfim Borges, sua personalidade reúne um complexo mundo de artes, que vão da
pintura em telas ao encantamento das letras, sem falar do vasto universo
cultural e histórico que envolveu os anos dourados de sua formação nos
Seminários de Aracaju, João Pessoa e Fortaleza. Além dos títulos ainda não
publicados, ele é autor de “Quadragésimas” e “Oferendas”. Muitos de seus poemas
foram publicados em Minas Gerais, tanto no Jornal o Lutador quanto no Jornal
Opinião. Quanto ao desenvolvimento de suas atividades pastorais, passou por
Campo do Brito, Laranjeiras, Carira, Bairro Grageru, em Aracaju e
Macambira. Também passou uma temporada
entre Minas Gerais e Rio de Janeiro.
No
momento, por ocasião de seu Jubileu de
Ouro Sacerdotal, está presenteando os leitores com o título “Cartas para Francisco”. O pensamento é
da Introdução do livro: “Embora o texto de “Cartas
para Francisco” tenha sido escrito já há algum tempo, isto é, lá pelos escorridos
anos de 2005, somente agora ele foi devidamente preparado para publicação. É,
pois, a ocasião em que, pela graça do exercício do ministério sacerdotal que me
foi confiado pela Igreja de Cristo, comemoro o cinquentenário – Jubileu de Ouro
Sacerdotal – de minha entrega incondicional ao Senhor, desde quando, num
momento histórico e singular da minha vida, fui ordenado sacerdote no dia 7 de
julho de 1963. Foram, portanto, a imposição das mãos do Senhor Arcebispo
Metropolitano, Dom José Vicente Távora, e a sua oração consecratória que
confirmaram a generosidade de minha entrega pela aceitação da Igreja. A
celebração da santa missa durante a qual fui ordenado sacerdote aconteceu numa
manhã de domingo, às 9,30h, na Catedral Metropolitana de Aracaju”. Sem dúvida,
o livro é um marco histórico para a posteridade, como afirma o Eclesiástico,
quando devemos elogiar “os homens ilustres” (Eclo 44,1). É o sentido profundo
da vida do consagrado, consciente de sua generosidade e entrega, às vezes, não
respaldada pela gratidão nem pelo reconhecimento dos homens da terra, que
planta sua alegria na certeza de que é o próprio Senhor quem nos chama e,
portanto, também nos concederá a recompensa pela real condição de oferenda. Por
certo, será um momento de retrospectiva e muitas boas lembranças, bordadas por
acontecimentos saudáveis, garimpados na ladeira dos anos. Com efeito, na sua
cabeça deve passar um filme retrospectivo na película voluntária e intuitiva de
suas reminiscências mais recônditas e profundas. Talvez, ao ler esse texto, a
subsequência tempestiva de minha oportuna alocução ajude-o a reencontrar alguns
fios perdidos no tempo pelo cansaço da memória, que se distancia da vida
interior pela dinâmica cronológica do esquecimento. De fato, não somos deuses,
para podermos açambarcar, num único instante lúcido de recordações, toda a
intensidade longínqua e remota dos anos de ouro de nossa existência. Somente o
verdadeiro Deus, “o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Jesus Cristo”, detém
o poder e o privilégio de tão sonhada prerrogativa que, vez por outra, inquieta
também os desejos humanos. Por isso que n’Ele está toda a claridade que ilumina
os pontos obscuros da generosidade de intenções com que dispomos nossa vida
consagrada diante de Deus. Com Pe. Raul, não poderia ter sido diferente. Sim,
Deus sabe e conhece os trancos e barrancos da íngreme escalada da vida de quem
resolve consagrar-lhe, com generosa fidelidade e alegria, o dom mais precioso
da essência do existir, qual seja, a entrega da própria vida. Tudo isso visto
pela ótica do próprio Cristo que disse: “Não fostes vós que me escolhestes, mas
fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes frutos, e para
que o vosso fruto permaneça [...]” (Jo 15,16). De fato, quem poderia, com
segurança e impoluível clareza de ideias, desvendar os mistérios dos encantos
do Senhor pela criatura humana, a ponto de fazer-lhe tão audaciosa afirmação no
contexto dos imperscrutáveis segredos das decisões divinas?
É
São Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo, quem o declara: “Ó abismo da riqueza, da
sabedoria e da ciência de Deus! Como são insondáveis seus juízos e
impenetráveis seus caminhos! Quem, com
efeito, conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem se tornou seu conselheiro? Ou
quem primeiro lhe fez o dom para receber em troca? Porque tudo é dele, por
ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém!” (Rm 11,33-36). É verdade,
nós não sabemos, mas Deus sabe por que o fez! E essa clarividência teológica,
talvez, seja o único porto seguro da confiabilidade que nos permite dizer, como
tantos outros disseram ao longo da história da humanidade: “Eis-me aqui,
Senhor, envia-me a mim!” (Is 6,8). Trata-se, pois, da prontidão de espírito que
invade a consciência do vocacionado que se deixa seduzir pelo Senhor que o
chama. Com efeito, a voz operosa do Senhor é mais forte e mais potente do que
todas as nossas vulneráveis resistências: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me
deixei seduzir; tu te tornaste forte demais para mim, tu me dominaste” (Jr
19,7). Quiça, nestas palavras misteriosas se encontre a quintessência,
absolutamente necessária, à serenidade que devemos carregar conosco pelo tempo
afora, do início até o fim, porque ninguém sobe a montanha da vida olhando
diretamente no topo da própria existência. É preciso grimpá-la, ponto por ponto,
degrau por degrau, maravilhando-se com a beleza de cada instante, sem descuidar
do encanto que poderá despontar no horizonte desconhecido do objetivo que nos
espera no término da subida. Para isso, contamos com a graça de Deus que vai
caminhando conosco pelas novidades surgidas nas curvas da estrada. Desse modo,
a vida vocacional se mistura com todas as outras correntes existenciais que nos
fazem ser o que nós somos, de modo especial, pela gratuidade da misericórdia do
Senhor, que nos chama a segui-Lo.
Tudo
isso pode ser resumindo pelo próprio pensamento do Pe. Raul, na mensagem final
de seu livro “Cartas para Francisco”,
quando ele oferece ao próprio Cristo os frutos do exercício de seu ministério
sacerdotal: “Que seja ele mesmo, o Senhor, a colher os frutos sacerdotais do
ministério que me permitiu realizar em favor de tantos irmãos e irmãs, por
todos os lugares por onde passei durante os últimos cinquenta anos de minha
existência. Muitos desses frutos já chegaram à maturidade espiritual da plenitude
de seu Reino, cujo mistério só ele conhece pelo poder e pela autoridade que lhe
são próprios. Portanto, ao lado dos rebentos de fecundidade da graça que o
ministério sacerdotal também nos confere, porque agimos in Persona Christi – na Pessoa de Cristo – tomara que as ‘Cartas para Francisco’ também auspiciem
tempos novos no coração dos leitores, pela germinação das sementes aqui
plantadas como oferendas de gratidão por todas as maravilhas que o Senhor
Todo-poderoso me concedeu viver e experimentar no florilégio de minhas ações
sacerdotais”.
Parabéns,
Pe. Raul, e que Deus o conserve alegre pelo seu ser Sacerdotal e, ao mesmo
tempo, fiel ao supremo dom da participação no Sacerdócio de Cristo que há em
sua pessoa. Por tudo que viveu e experimentou da graça operante de Deus durante
esses cinquenta anos, na sua vida e da vida dos irmãos, que o Senhor seja sua
própria recompensa.