quarta-feira, 3 de julho de 2013

Padre Raul Bomfim Borges

Padre Raul Bomfim Borges
Cinquenta anos de ministério sacerdotal 



No próximo domingo, 7 de julho de 2013, o Pe. Raul Bonfim Borges completará cinquenta anos de exercício do ministério sacerdotal. Sim, foi, pois no dia 7 de julho de 1963, por coincidência um dia de domingo, que ele foi ordenado sacerdote na Catedral Metropolitana de Aracaju, pela imposição e oração consecratória do então Arcebispo Metropolitano, Dom José Vicente Távora. A celeridade do tempo não perdoa o desgaste normal das pessoas. Hoje, septuagenário, ele segue firme o sonho de sua consagração, ajudando aos padres da Região do Agreste, presidida pela na Igreja Santo Antônio e almas de Itabaiana. Nascido em São Cristovão, sendo filho de Francisco Borges Vieira e Otacília Bomfim Borges, sua personalidade reúne um complexo mundo de artes, que vão da pintura em telas ao encantamento das letras, sem falar do vasto universo cultural e histórico que envolveu os anos dourados de sua formação nos Seminários de Aracaju, João Pessoa e Fortaleza. Além dos títulos ainda não publicados, ele é autor de “Quadragésimas” e “Oferendas”. Muitos de seus poemas foram publicados em Minas Gerais, tanto no Jornal o Lutador quanto no Jornal Opinião. Quanto ao desenvolvimento de suas atividades pastorais, passou por Campo do Brito, Laranjeiras, Carira, Bairro Grageru, em Aracaju e Macambira.  Também passou uma temporada entre Minas Gerais e Rio de Janeiro. 

No momento, por ocasião de seu Jubileu de Ouro Sacerdotal, está presenteando os leitores com o título “Cartas para Francisco”. O pensamento é da Introdução do livro: “Embora o texto de “Cartas para Francisco” tenha sido escrito já há algum tempo, isto é, lá pelos escorridos anos de 2005, somente agora ele foi devidamente preparado para publicação. É, pois, a ocasião em que, pela graça do exercício do ministério sacerdotal que me foi confiado pela Igreja de Cristo, comemoro o cinquentenário – Jubileu de Ouro Sacerdotal – de minha entrega incondicional ao Senhor, desde quando, num momento histórico e singular da minha vida, fui ordenado sacerdote no dia 7 de julho de 1963. Foram, portanto, a imposição das mãos do Senhor Arcebispo Metropolitano, Dom José Vicente Távora, e a sua oração consecratória que confirmaram a generosidade de minha entrega pela aceitação da Igreja. A celebração da santa missa durante a qual fui ordenado sacerdote aconteceu numa manhã de domingo, às 9,30h, na Catedral Metropolitana de Aracaju”. Sem dúvida, o livro é um marco histórico para a posteridade, como afirma o Eclesiástico, quando devemos elogiar “os homens ilustres” (Eclo 44,1). É o sentido profundo da vida do consagrado, consciente de sua generosidade e entrega, às vezes, não respaldada pela gratidão nem pelo reconhecimento dos homens da terra, que planta sua alegria na certeza de que é o próprio Senhor quem nos chama e, portanto, também nos concederá a recompensa pela real condição de oferenda. Por certo, será um momento de retrospectiva e muitas boas lembranças, bordadas por acontecimentos saudáveis, garimpados na ladeira dos anos. Com efeito, na sua cabeça deve passar um filme retrospectivo na película voluntária e intuitiva de suas reminiscências mais recônditas e profundas. Talvez, ao ler esse texto, a subsequência tempestiva de minha oportuna alocução ajude-o a reencontrar alguns fios perdidos no tempo pelo cansaço da memória, que se distancia da vida interior pela dinâmica cronológica do esquecimento. De fato, não somos deuses, para podermos açambarcar, num único instante lúcido de recordações, toda a intensidade longínqua e remota dos anos de ouro de nossa existência. Somente o verdadeiro Deus, “o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó e de Jesus Cristo”, detém o poder e o privilégio de tão sonhada prerrogativa que, vez por outra, inquieta também os desejos humanos. Por isso que n’Ele está toda a claridade que ilumina os pontos obscuros da generosidade de intenções com que dispomos nossa vida consagrada diante de Deus. Com Pe. Raul, não poderia ter sido diferente. Sim, Deus sabe e conhece os trancos e barrancos da íngreme escalada da vida de quem resolve consagrar-lhe, com generosa fidelidade e alegria, o dom mais precioso da essência do existir, qual seja, a entrega da própria vida. Tudo isso visto pela ótica do próprio Cristo que disse: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes frutos, e para que o vosso fruto permaneça [...]” (Jo 15,16). De fato, quem poderia, com segurança e impoluível clareza de ideias, desvendar os mistérios dos encantos do Senhor pela criatura humana, a ponto de fazer-lhe tão audaciosa afirmação no contexto dos imperscrutáveis segredos das decisões divinas? 

É São Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo, quem o declara: “Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são insondáveis seus juízos e impenetráveis seus caminhos! Quem, com efeito, conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem se tornou seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe fez o dom para receber em troca? Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém!” (Rm 11,33-36). É verdade, nós não sabemos, mas Deus sabe por que o fez! E essa clarividência teológica, talvez, seja o único porto seguro da confiabilidade que nos permite dizer, como tantos outros disseram ao longo da história da humanidade: “Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim!” (Is 6,8). Trata-se, pois, da prontidão de espírito que invade a consciência do vocacionado que se deixa seduzir pelo Senhor que o chama. Com efeito, a voz operosa do Senhor é mais forte e mais potente do que todas as nossas vulneráveis resistências: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir; tu te tornaste forte demais para mim, tu me dominaste” (Jr 19,7). Quiça, nestas palavras misteriosas se encontre a quintessência, absolutamente necessária, à serenidade que devemos carregar conosco pelo tempo afora, do início até o fim, porque ninguém sobe a montanha da vida olhando diretamente no topo da própria existência. É preciso grimpá-la, ponto por ponto, degrau por degrau, maravilhando-se com a beleza de cada instante, sem descuidar do encanto que poderá despontar no horizonte desconhecido do objetivo que nos espera no término da subida. Para isso, contamos com a graça de Deus que vai caminhando conosco pelas novidades surgidas nas curvas da estrada. Desse modo, a vida vocacional se mistura com todas as outras correntes existenciais que nos fazem ser o que nós somos, de modo especial, pela gratuidade da misericórdia do Senhor, que nos chama a segui-Lo. 

Tudo isso pode ser resumindo pelo próprio pensamento do Pe. Raul, na mensagem final de seu livro “Cartas para Francisco”, quando ele oferece ao próprio Cristo os frutos do exercício de seu ministério sacerdotal: “Que seja ele mesmo, o Senhor, a colher os frutos sacerdotais do ministério que me permitiu realizar em favor de tantos irmãos e irmãs, por todos os lugares por onde passei durante os últimos cinquenta anos de minha existência. Muitos desses frutos já chegaram à maturidade espiritual da plenitude de seu Reino, cujo mistério só ele conhece pelo poder e pela autoridade que lhe são próprios. Portanto, ao lado dos rebentos de fecundidade da graça que o ministério sacerdotal também nos confere, porque agimos in Persona Christi – na Pessoa de Cristo – tomara que as ‘Cartas para Francisco’ também auspiciem tempos novos no coração dos leitores, pela germinação das sementes aqui plantadas como oferendas de gratidão por todas as maravilhas que o Senhor Todo-poderoso me concedeu viver e experimentar no florilégio de minhas ações sacerdotais”. 

Parabéns, Pe. Raul, e que Deus o conserve alegre pelo seu ser Sacerdotal e, ao mesmo tempo, fiel ao supremo dom da participação no Sacerdócio de Cristo que há em sua pessoa. Por tudo que viveu e experimentou da graça operante de Deus durante esses cinquenta anos, na sua vida e da vida dos irmãos, que o Senhor seja sua própria recompensa.