Antes do natal, Já que o mundo não acabou...
O Natal é o
momento mais rico da esperança do Povo de Deus, porque, nele, resplandece para
todos os povos a Salvação que vem de Deus, Jesus Cristo, o Emanuel, o Deus
conosco. É, pois, assim, envolvido no mistério da Encarnação de Deus, que nos
preparamos para o gesto sublime da reconciliação que Ele nos traz, “cheio de
graça e de verdade” (Jo 1,14). Graça porque Ele é pura gratuidade. Verdade,
porque somente à luz de sua presença é que descobrimos quem nós somos de
verdade.
Se ele nos traz
a reconciliação com Deus, o Pai criador, é porque sua missão sinaliza algo que
também nós podemos fazer em relação aos nossos irmãos, sobretudo, quando somos
capazes de reconhecer que nos ferimos e nos machucamos reciprocamente nos
atropelos de nossa sede de realização e plenitude. Assim, no balanço reflexivo
do coração, ainda podemos buscar, antes que chegue o Natal do Senhor, consolo e
serenidade pela atitude do perdão, dado e recebido, pela generosidade do
acolhimento. Final de ano é um tempo propício para tal ato de reconhecimento e
abraço fraterno. Na verdade, cada um sabe o que seu coração desejaria para
encontrar o melhor remédio espiritual de suas feridas. Mas também vale a
vontade de reaproximação e amizade. No vai e vem da existência, quem possui o
brio em enxergar o valor do outro sabe quanto pesa o companheirismo sadio dos
amigos. Por isso que muitos relembram com saudade o tempo da convivência e a
necessidade do cultivo das boas relações humanas pela vida afora, do tempo de
estudos, da gestão no trabalho, das reminiscências da infância, e por aí vai a
saudade do que já passou e dos amigos que se distanciaram.
E mesmo quando,
por alguma circunstância, devêssemos tirar alguém da nossa lista, não
deveríamos pensar que o outro seja descartável como lixo que tiramos de nossa
cozinha, que apodrece no recanto da vida e é levado para o entulho da
indiferença. Mesmo quando nem tudo correspondeu aos anseios da liberdade que
procuramos diante do outro, ainda assim, a prudência aconselha discrição nos
ataques ofensivos da crítica impiedosa e destruidora dos afetos. De fato, as
pessoas podem ir embora da nossa vida, mas a tristeza fica acumulada no coração
doído pela tristeza da ausência. E, dependendo do grau de animosidade e
indisposição, gerados pelas turbulências relacionais, o tempo não cura a
cicatriz do desprezo, aumentando o abismo da separação e a melancolia da
impossibilidade do diálogo desejado...
Natal, com a
chegada de Deus entre nós, também é para tudo isso acima referido,
especialmente, porquanto dele aprendemos a singularidade de cada pessoa na
dispersão de suas incongruências existenciais. Pense nisso, e Feliz Natal a
todos os meus assíduos leitores, e um ano novo cheio de muita paz de espírito e
consolação divina.