Cristo, a fonte viva do amor comum de todos
Ainda
no primeiro pensamento de João Paulo II aos sacerdotes, em 1979, ele
continuava: “Portanto, a vós todos, que, em virtude de uma graça especial e por
singular doação a nosso Salvador, suportais ‘o peso do dia e o calor do sol’
(cf. Mt 20,12), entre os múltiplos cuidados do serviço sacerdotal e pastoral,
estão voltados o meu pensamento e o meu coração, desde o momento em que Cristo
me chamou a esta Cátedra, sobre a qual um tempo Pedro deveu, com sua vida e sua
more, responder até o fim à pergunta: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do
que estes?’ (cf. Jo 21,15s)”.
É
o pensamento do Papa que voa de sua preocupação e pousa sobre cada um dos
homens da terra que se dispuseram a responder, com liberdade interior e por
especial dom e vocação, ao radicalismo do mais exigente amor, aquele que leva
alguém a dar a sua vida “pelos amigos”, a exemplo do próprio Cristo (cf. Jo
15,13). Feliz e bela inspiração teve o Papa João Paulo II naquela ocasião do
início de seu Pontificado! Dedicar um pouco de suas elucubrações, falando
diretamente ao coração dos sacerdotes, como um pai abre seu coração aos filhos,
tendo ciência de que as tempestades do espírito também se formam sobre a vida
dos consagrados do Senhor, desabando em suas inquietações pastorais cotidianas
de todo tipo, repercutindo, inclusive, em conjunturas pessoais que afetam o
próprio zelo pastoral pela comunidade que lhe fora confiada pela Igreja de
Cristo por meio da pessoa do seu bispo.
Na
sua exposição, o Beato João Paulo II faz referência a muitos documentos que
enriquecem a tradição bimilenar da Igreja sobre a importância da vida
sacerdotal ao longo da história. No entanto, o que o move, de maneira mais
espontânea e concreta, como ele mesmo o reconhece, é a fonte viva do amor comum
de todos – Bispos e Sacerdotes – em relação a Cristo e à sua Igreja. Amor que
nasce pela graça da vocação sacerdotal, amor que é o maior dom do Espírito (cf.
Rm 5,5; 1Cor 12,31; 13). Segundo ele, o Concílio Vaticano II aprofundou a
concepção do sacerdócio, apresentando-o no conjunto de seu magistério como
expressão das forças interiores, dos dinamismos pelos quais se configura a
missão de todo o Povo de Deus na Igreja.
Referindo-se
ao “Povo de Deus”, o Beato João Paulo II fez questão de, logo no início de sua
alocução, relembrar aos sacerdotes a diferença essencial que existe entre o
“sacerdócio comum dos fiéis” e o “sacerdócio ministerial”, que somente os
padres, legítima e validamente ordenados, recebem pelo Sacramento da Ordem.
Para isto, ele recorre, de maneira particular, à nova luz trazida pelo Concílio
Vaticano II. Tal distinção é, profundamente, essencial, a fim de que possamos
vislumbrar, em tons mais evidentes, a riqueza do Sacerdócio de Cristo, e do
qual estão revestidos os consagrados do Senhor.