Ciao, Bento
XVI!
Ciao, Bento XVI!
Todos nós ficamos surpresos e, por que não o dizer, tristes com a sua decisão
de renúncia. Mas nem por isso o senhor será menos amado, admirado e agradecido
por todo o bem que fez pela Igreja de Cristo, desde quando, lá no fundo do
horizonte de sua existência cristã, decidiu consagrar toda a sua vida a Cristo
e às necessidades temporais da Igreja peregrina. Sua fadiga incansável pelo bem
da Igreja será reconhecida por Aquele que, um dia, dir-lhe-á: “Muito bem, servo
bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegar-te
[participar da alegria] com o teu senhor!” (Mt 25,21). Será o último convite de
Cristo a indicar-lhe o caminho do prêmio eterno, como para todos aqueles, que,
a exemplo de São Paulo, combateram o bom combate, terminaram a sua carreira,
mas guardaram a fé, esperando, com perseverança, a coroa da vitória que o Justo
Juiz concederá aos que lhe foram fiéis até o fim, no dia de sua manifestação
final (2Tm 4,7-9).
Sua renúncia é o retrato vivo de uma
Igreja com rosto humano e, portanto, administrada na terra por homens a quem o
próprio Cristo confiou o poder das chaves (Mt 16,13-19). Tal autoridade
reflete, mesmo se no turbilhão das vicissitudes do redemoinho do mundo, a
supremacia do próprio Cristo que lhe confiou tão grave e comprometedora
responsabilidade, a fim de que confirmasse os seus irmãos na fé.
Em muitas reportagens que vi televisivas
ou não, por meio dos tabloides da imprensa mundial, sua imagem foi apresentada
de costas para o público, como se o desprezo do mundo golpeasse-o até esses
momentos mais extremos de sua generosidade e entrega pela Igreja e por todos os
homens de boa vontade, que encontraram na plasticidade espiritual de seus
discursos – mensagens, homilias, encontros com autoridades do mundo inteiro, políticos,
religiosos, sacerdotes, crianças, jovens e velhos – um raio de luminosidade
para suas buscas e incertezas, para as dúvidas do espírito e as angústias da
alma. O legado espiritual de seu pontificado e ministério petrino não se
apagará da memória do tempo da Igreja de Cristo, que seguirá sua missão,
conduzida pelo Santo Padre, eleito em breve – cujo nome desconhecemos, mas Deus
o conhece – e guiada pela mesma e permanente assistência do Espírito Santo.
Na solidão e na dor de seu silêncio
orante, estaremos sempre unidos, amando a Igreja de Cristo, que pede a cada um
de seus seguidores mais próximos a coragem da Cruz. Não da cruz que nos humilha
e nos mata. Nem da cruz que arranca de nossos farrapos humanos o grito, quase
desesperado, da prostração. Mas da cruz que ilumina todas as trevas do nosso
vazio interior, projetando nele a própria luz de Deus, que nos reanima em cada
nova etapa do “sim” mais radical a Deus, que nos conhece profundamente. Da cruz
que, mesmo mergulhando nosso espírito em todo tipo de aparentes contradições,
abre-nos na carne ferida pelo pecado a própria Ressurreição de Cristo. Aquela
que Cristo quis garantir-nos, confirmando que a vida eterna existe, que a
convivência com o Amado será plena de glória e imortalidade no céu.
Bom saber que, dentro de pouco mais de
dois meses, saberemos que estará bem perto do coração da Igreja, dentro do
Vaticano, realizando o extraordinário serviço de oração e intercessão pela
Igreja do Senhor. Mesmo se “escondido do mundo”, distante dos olhos indiscretos
e de línguas peçonhentas, protegido dos inimigos implacáveis que continuarão
existindo dentro e fora da Igreja, seu coração seguirá o ritmo solene das
delicadezas divinas para com a Igreja inteira, que continuará singrando os
caminhos do mundo contemporâneo com a mesma força e ousadia de sempre,
porquanto levada pelas mãos de seu próprio Senhor fundador, Cristo Jesus. Ciao, Bento XVI! Até a eternidade.