Bet Shemesh e os monges trapistas
As fotografias não são do referido monastério
A
música que nos penetrava o ouvido e invadia a alma parecia conhecida somente
por Deus, o dono do louvor e da consagração dos monges recolhidos no meio das
montanhas geladas de Bet Shemesh, paradoxalmente, traduzido por
Casa do Sol, do hebraico! Trata-se de uma comunidade de homens e mulheres
de várias partes do mundo que ali oferecem a Deus o louvor de suas
maravilhas. Eram as vésperas solenes da solenidade do Batismo do
Senhor! Um dos monges já havia nos advertido sobre as 15 leituras que
seriam feitas. Que não nos surpreendêssemos.
O
Batismo do Senhor nos lembra que o Filho de Deus, Jesus Cristo, assumiu nossa
carne mortal, contaminada pelo pecado, e entrou na fila dos pecadores
para restituir-lhes a graça sobrenatural perdida pela desobediência de Adão.
Isso aconteceu nas terras de Israel, às margens do Rio Jordão, cujas
águas ele santificou pelo seu Batismo. Ele não precisava, mas quis
levar sobre Si todas as consequências de nossos pecados, como diz o profeta
Isaías, 'Eram as nossas dores que ele carregava'. Num ambiente sombrio,
marcado pela penumbra própria de um lugar de oração, poucas e fracas luzes
elétricas parecem mergulhar nosso espírito num mosteiro de tempos passados,
longe dos rumores estonteantes da modernidade. Cada uma das monjas,
fechada dentro de seu hábito, coloca-se no seu canto, ladeado por duas
paredes, faz sua leitura no canto coral sob a luz de velas. No centro,
uma bacia de água recorda a solenidade rezada, e o bom odor do incenso
invade o espaço com as lufadas de fumaça que percorre a capela. No
presbitério, debaixo de um pequeno baldaquino, repousa a mesa
do altar sobre o qual foram colocadas duas velas, a Sagrada Escritura
aberta, certamente em árabe, com uma grande cruz, e debaixo a luz como a
do sacrário. Antes das leituras previstas, recebemos uma vela acesa
no círio pascal também exposto para a ocasião. Na frente do círio, um
ícone do batismo do Senhor, com outros dois grandes ícones que
flanqueavam as duas extremidades da capela antes do presbitério. Na
verdade, tudo muito bem preparado e disposto para o louvor e a adoração daquele
que é o Senhor de todos. Depois de quase uma hora de cânticos, deu-se início às
leituras. Sem instrumentos musicais ou microfone, a nitidez do som
repercutia transparente na projeção acústica. Depois das vésperas,
segiu-se a adoração ao SS. Sacramento, num hóstia que maior nunca vira
antes. Cristo Eucarístico estava imensamente presente entre nós. Sua
grandeza extrapolava-se da própria Eucaristia.
Qual
reflexo de uma mentalidade bem pagã como vivemos nos tempos atuais, até que
poderíamos nos perguntar sobre o verdadeiro sentido de tantas vidas perdidas,
ou melhor, derramadas diante do Senhor? Sempre foi assim ao longo dos
séculos e assim será até à eternidade. Deus mesmo arrancando para Si, no meio
do mundo caótico em que vivemos, o louvor e a ação de graças de pessoas
consagradas por meio do Filho no qual ele depositou, com autoridade
própria, todo o seu bem querer.