quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Bet Shemesh e os monges trapistas

Bet Shemesh e os monges trapistas
 As fotografias não são do referido monastério  
A música que nos penetrava o ouvido e invadia a alma parecia conhecida somente por Deus, o dono do louvor e da consagração dos monges recolhidos no meio das montanhas geladas de Bet Shemesh,  paradoxalmente,  traduzido por Casa do Sol,  do hebraico! Trata-se de uma comunidade de homens e mulheres de várias partes do mundo que ali oferecem a Deus o louvor de suas maravilhas.   Eram as vésperas solenes da solenidade do Batismo do Senhor!  Um dos monges já havia nos advertido sobre as 15 leituras que seriam feitas.  Que não nos surpreendêssemos. 

 

O Batismo do Senhor nos lembra que o Filho de Deus, Jesus Cristo, assumiu nossa carne mortal, contaminada pelo pecado,  e entrou na fila dos pecadores para restituir-lhes a graça sobrenatural perdida pela desobediência de Adão. Isso aconteceu nas terras de Israel,  às margens do Rio Jordão, cujas águas ele santificou pelo seu Batismo.  Ele não precisava,  mas quis levar sobre Si todas as consequências de nossos pecados, como diz o profeta Isaías, 'Eram as nossas dores que ele carregava'. Num ambiente sombrio, marcado pela penumbra própria de um lugar de oração, poucas e fracas luzes elétricas parecem mergulhar nosso espírito num mosteiro de tempos passados, longe dos rumores estonteantes da modernidade.  Cada uma das monjas, fechada dentro de seu hábito,  coloca-se no seu canto, ladeado por duas paredes, faz sua leitura no canto coral sob a luz de velas. No centro,  uma bacia de água recorda a solenidade rezada, e o  bom odor do incenso invade o espaço com as lufadas de fumaça que percorre a capela. No presbitério,  debaixo de um pequeno baldaquino,   repousa a mesa do altar  sobre o qual foram colocadas duas velas, a Sagrada Escritura aberta, certamente em árabe,  com uma grande cruz, e debaixo a luz como a do sacrário.  Antes das leituras previstas,  recebemos uma vela acesa no círio pascal também exposto para a ocasião.  Na frente do círio, um ícone do batismo do Senhor,  com outros dois grandes ícones que flanqueavam as  duas extremidades da capela antes do presbitério.  Na verdade, tudo muito bem preparado e disposto para o louvor e a adoração daquele que é o Senhor de todos. Depois de quase uma hora de cânticos, deu-se início às leituras.  Sem instrumentos musicais ou microfone,  a nitidez do som repercutia transparente na projeção acústica. Depois das vésperas,  segiu-se a adoração ao SS. Sacramento, num hóstia que maior nunca vira antes.  Cristo Eucarístico estava imensamente presente entre nós. Sua grandeza extrapolava-se da própria Eucaristia. 

 

Qual reflexo de uma mentalidade bem pagã como vivemos nos tempos atuais, até que poderíamos nos perguntar sobre o verdadeiro sentido de tantas vidas perdidas, ou melhor,  derramadas diante do Senhor? Sempre foi assim ao longo dos séculos e assim será até à eternidade. Deus mesmo arrancando para Si, no meio do mundo caótico em que vivemos,  o louvor e a ação de graças de pessoas consagradas por meio do Filho no qual ele depositou, com autoridade própria,  todo o seu bem querer.