Final de ano de 2014 / 2015
Nunca
sabemos ao certo em que direção as caravelas da vida irão nos conduzir pelas
rotas do mar da existência. O último dia de dezembro de 2014, eu estava em Jerusalém,
um lugar onde, ao contrário do que estava acostumado a ver, não fazia questão
de demonstrar que o resto do mundo, ou boa parte dele, se preparava para a
chegada do ano novo. Nem o natal recebeu tanto destaque como estamos acostumado
a perceber, por exemplo, no Ocidente. Mas cada povo com sua cultura. Na sala de
aula, uma professora fez questão de anunciar que não haveria réveillon em Israel, mas “ano novo” para
algumas pessoas. É que o ano novo deles é comemorado no mês de setembro.
Não
saí às ruas para conferir nada. Se as pessoas estavam reunidas em algum tipo de
comemoração; se alguns estrangeiros, inclusive do Brasil, sabiam que era o
último dia do ano. Fiquei em casa, sozinho, como estou acostumado a viver. Meu
Brasil distante, por certo, sempre com muita festa e feriado no dia primeiro de
janeiro. Aqui, tudo normal. Estudei nas vésperas as lições de hebraico,
respondendo a muitos exercícios para o dia seguinte, e me preparei para o
jantar de despedida de 2014. Com quem? Sozinho! Foi o primeiro final de ano que
passei curtindo a solidão de quem não tem nem sequer um vizinho no quarto ao
lado. Mas isso não é nenhum drama para quem está acostumado com as surpresas da
vida e os desafios que ela nos apresenta, conforme as escolhas que fazemos. Preparei
o jantar, acompanhado por um vinho israelense, comi um doce na sobremesa,
escrevi esse texto e vi um filme. Coisas da iniciativa de quem espera a chegada
de um novo tempo para novas criatividades.
Os condicionamentos da existência
precisam ser adaptados às novas realidades. Aqui, o mundo é mais judaico.
Calendário diferente, festas conotadas de alegorias e motivações, talvez, até
estranhas à euforia de um réveillon
como no Rio de Janeiro ou São Paulo, Paris ou Nova York, Londres ou Tóquio.
Portanto, nessas proximidades longínquas – com a permissão da aparente
contradição dos termos usados – as cores das festas daqui são diferentes das de
lá, e os fogos de artifícios que acendem o céu escuro, pipocando em noites de
“virada de ano” alhures, não tingem, nem de longe, a escuridão de Jerusalém com
um fio luminoso de sua claridade. Aliás, nesse exato momento, faltam cinco
minutos para os sinais da virada de ano aqui. Não sei o que vai acontecer. Paro
por uns instantes minha digitação. Vamos aguardar os acontecimentos. Enquanto
isso, na Europa, ainda falta mais de uma hora para a chegada do ano novo, por
causa do fuso horário. Apago a luz do quarto. Silêncio profundo... Voltarei
logo! Então, o ano novo aqui chegou acompanhado pelo profundo silêncio de minha
reflexão. Escutei, de longe, bem de longe, os pipocos de alguns fogos. Mas
parece que vinham do outro lado do Mar Mediterrâneo, da Europa mesmo. Nada
emocionante. Mundo estranho! Daqui, recebi somente os votos de uma amiga árabe
do curso de hebraico que me enviou pelo celular um “happy new year”!
No
mais, nada de extraordinário, como já haviam me advertido. Destarte, vamos
absorvendo culturas diferentes, e aprendemos que o nosso mundo não é o único
mundo possível sobre a face da Terra. E, como diria o filósofo, há mais coisas
entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia possa imaginar. Ponto, e
basta! Feliz 2015. O importante é que ele chegou no nosso calendário.
Bem-vindo,
2015. E que sejamos felizes...