A Capela de Nossa Senhora
da Medalha Milagrosa - Paris
da Medalha Milagrosa - Paris
São Vicente de Paulo
No vai e vem dos
reveses da existência, um dia, Catarina tem um sonho, por meio do qual ele vai
descobrindo o sentido de sua vida. Parece estar rezando e vê um sacerdote idoso
que reza a missa, com os paramentos sagrados. Depois, ele a chama, e ela foge
assustada, mas o sonho a persegue. Encontrando-se à cabeceira de um doente, o
velho padre também se apresenta, dizendo-lhe: “Minha filha, é bom tratar dos
doentes. Agora foges de mim, mas um dia serás feliz por vir a mim. Deus tem os
seus desígnios sobre ti, não o esqueças!”. Com vontade de trabalhar com as
Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, depois de uma visita ao Hospício de
Moutiers-Saint-Jean, falou ao seu pai, Pedro Labouré, e recebeu uma resposta ríspida
e seca: “Não te deixo ir!”. Obediente ao pai, logo depois, seguiu para Paris
onde iria trabalhar no restaurante de seu irmão, que embora se fosse muito bem
acolhida não se sentia à vontade com o ambiente aristocrático. Sabendo da
existência de uma casa das Filhas da Caridade em Paris, quis fazer-lhe uma
visita e, para sua surpresa, deparou-se com o quadro do fundador, São Vicente
de Paulo (1581-1660), que reconheceu ser o padre idoso visto no sonho. Quatro
dias depois da chegada de Catarina ao seminário, o corpo de São Vicente de
Paulo foi transladado numa grande procissão, saindo da Catedral
Notre-Dame-de-Paris, onde estava exposto desde o dia 10 de abril de 1830, em
direção à Capela dos Lazaristas, na Rue
de Sèvres, onde continua exposto até hoje. Seu coração encheu-se de alegria
e paz, na certeza de que então poderia confiar à Superiora seu desejo de
consagração. E ela passou a morar na Rue
de Bac, número 140, no dia 21 de abril de 1830, quando tiveram início as
aparições de Nossa Senhora.
Santa Catarina Labouré
Na aparição do
dia 27 de novembro daquele ano, entre outras coisas, uma voz disse a Catarina:
“Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo [o da aparição, com raios que se
desprendiam das mãos da Virgem simbolizando as graças derramadas sobre quem as
pedisse]. Todas as pessoas que a trouxerem ao pescoço receberão grandes graças;
as graças serão abundantes para os que a trouxerem com confiança”. Apesar das
resistências colocadas pelo Padre Aladel, o Arcebispo de Paris, Monsenhor
Quélen, reconhecendo que nada se opunha à fé, autorizou a cunhagem da “Medalha
Milagrosa”, que começou a ser distribuída em 1832. Catarina morreu no dia 3 de
janeiro de 1877. Em 1933, o Cardeal Arcebispo de Paris, Vernier, solicitou a
exumação na presença de dois médicos, da Superiora Geral da Congregação e de
outras testemunhas, com o intuito da beatificação. Seu corpo foi encontrado do
mesmo jeito de quando fora enterrada. Desde então, seu corpo repousa na Rue de
Bac, cujo relicário encontra-se no mesmo lugar onde Nossa Senhora lhe apareceu.
Ela fora canonizada pelo Papa Pio XII, no dia 27 de julho de 1947. Foi ele quem
a reconheceu como “a Santa do Silêncio”.
Impressionante
como os canteiros dessas vidas santas continuam tão pertos de nós! São Vicente
de Paulo, Santa Catarina Labouré, entre tantos outros espalhados no nosso meio
e pelo mundo afora, ainda são testemunhas de que Deus continua agindo e
manifestando sua presença no seio da humanidade, como Ele sempre o fizera ao
longo da difícil escalada dos séculos. Hoje, vivemos tão mergulhados no fastio
da ausência de Deus, do Deus cujo nome parece que temos até vergonha de
Nominá-lo, que podemos mesmo imaginar que Ele se ausentou do nosso meio. Tropeçamos
nos sinais de Sua presença, mas não queremos dar o braço a torcer. Volta-me
novamente à baila um pensamento de Bento XVI, que, na verdade, é um
questionamento. Ele fala da sede que carregamos dentro do coração, do desejo
ardente que sentimos de ver a sua “Face”, como a saudade que queima pela
carência do Absoluto: “O silêncio de Deus, o eclipse de Seu rosto é, por si
mesmo, castigo. É claro que, ao eclipsar-se Deus, pode o pecador experimentar
um ilusão de segurança – ‘Deus parece não existir de todo!’. Pode-se
tranquilamente viver sem Ele, contra Ele, de costas voltadas para Ele – assim
parece... É justamente essa segurança do ímpio que constitui a sua mais
profunda desgraça. Num tempo de silêncio de Deus, num tempo em que a Sua face
parece ter-se tornado irreconhecível, não deveríamos refletir – e com algum
alarme! – sobre o significado do ocultamento de Deus? Não deveríamos
perspectivar tal ocultamento como o verdadeiro destino a que o mundo fica
condenado, e, nessa medida, invocar a Deus mais estridentemente e com maior
insistência para que mostre a Sua face? Em situação como esta, não será a busca
de Sua face tão urgente?”.
Joseph Ratzinger - Bento XVI
Quem dera que os
frêmitos do coração do Papa atingissem os bordos do mundo oco que busca a Deus
sem querer reconhecê-Lo como o Único Bem Supremo que corresponde a todas as suas
necessidades e anelos mais profundos! O Papa intenciona traduzir, de modo clamoroso
e áspero, a insensatez que invade o espírito do homem que se pensa senhor de si
mesmo, de seu destino mais elevado, garimpando nos porões do seu cosmo interior
a essência de sua imagem perdida longe de seu Criador. Apenas quando o homem voltar-se
totalmente para o seu Senhor, é que ele, então, reencontrará o brilho de sua face
luminosa refletida do próprio rosto de Deus. Até lá, Deus continuará esperando-o, amorosamente.
O retorno do Filho Pródigo