Participa do meu Sofrimento
Gostaria
de ter encontrado esse título em latim, mas, ou eu não entendi bem ou o texto
latino não corresponde ao que consegui perceber na tradução. Então, resolvi
deixá-lo em português mesmo, embora o termo grego seja interessante, sobretudo,
quanto ao verbo usado por São Paulo no texto original: synkakopathéō. Ele aparece somente duas vezes em todo o Novo
Testamento e significa “sofrer com” (2Tm 1,8; 2,3). O sofrimento é sempre um
incômodo na vida de qualquer pessoa.
Quem
não tem medo do sofrimento? Quem não se angustia percebendo sua alma ser
invadida pelas dilacerações do corpo e do espírito? Quem consegue manter a
serenidade quando perseguido injustamente por causa da verdade da pregação do
Evangelho de Cristo? Esse rastro de perturbação psicológica e espiritual também
esteve presente na vida de São Paulo. Mas ele o aceitou, de maneira
incondicional, com muita lucidez e convicção, por causa de Cristo e da pregação
de sua boa nova. Do cárcere, cujas trevas também se projetam na noite escura do
sofrimento da alma, São Paulo escreve a Timóteo: “Não te envergonhes, pois, de
dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participa do meu sofrimento [synkakopathéō] pelo evangelho, confiando
no poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com vocação santa, não em virtude
de nossas obras, mas em virtude de seu próprio desígnio e graça” (2Tm 1,8-9).
São Paulo usa o imperativo aoristo ativo na comunicação com seu dileto
interlocutor: “Participa do meu
sofrimento pelo evangelho!” Na gramática grega, o aoristo é um tempo para o
qual não existe nenhum correspondente em língua portuguesa, o que pode
dificultar a compreensão do termo, que significa “não delimitado”, “indefinido”.
Segundo os gramáticos, “essencialmente, o aoristo não tem significado
temporal”.
Assim,
quando o cálice da dor enche e transborda dentro do coração humano, nada como
podermos contar com o apoio de um amigo, a quem poder confiar os rebordos
aflitivos de sua interioridade! Não é para consolar-nos, mas para sabermos que
não estamos sozinhos na tortura sofrida pelas exigências das certezas mais
profundas da existência. São Paulo sofre por saber estar palmilhando a estrada
da verdade de Cristo, de quem se tornou prisioneiro por toda a vida.
Do
mesmo modo como ele está sofrendo por Cristo, ele pede a Timóteo que não se
envergonhe de Cristo nem do seu testemunho em razão do mesmo Cristo; que o depoimento
dos dois não seja motivo de ruborização para o discípulo a quem ele escreve com
o alfabeto de Deus, tingido de fidelidade e perseverança, não obstante tudo.