Santo Agostinho e As Confissões
Na
frágil estampa de nossa solícita memória, há figuras extraordinárias que são
evocadas em determinadas circunstâncias de nossa vida. Por exemplo, o estudo da
Patrística aborda a caravana dos padres e escritores mais ilustres do Ocidente,
entre os quais se destaca Santo Agostinho, o Bispo de Hipona, que merece
especial relevo e inestimável apreciação e consideração. Esse farol debaixo do
véu espesso das obscuridades e incertezas de seu tempo, já iluminou o coração
de muitos filhos da Igreja, e ainda vai projetar, talvez, sem o saber, o manto
de sua luz sobre a história da humanidade ao longo dos séculos, como um facho
luminoso, cujo alcance acompanha, indeterminadamente, a linha incomensurável do
tempo nas mínimas categorias de segundos, minutos, horas, dias, noites, anos,
séculos. E o clarão de sua luminosidade chegou até nós, tendo já decorrido
pouco mais de uma década do início do terceiro Milênio.
Portanto,
a seguir desenvolvemos uma reflexão oportuna, de modo a oferecer uma visão, sem
dúvida parcial e incompleta, da vida desse Santo, mas que coloca em meritório
destaque umas de suas obras mais influentes e mais lidas, em todos os séculos: As Confissões. Segundo Daniel Rops, “são
uma das cinco ou seis obras que desejaríamos ver sobreviver a todos os desastres
da história. Esta obra chama-se simplesmente As Confissões”. Será,
pois, à mercê dessa embevecida obra que se descortinará o horizonte das
perspectivas norteadoras do presente desabotoar de ideias. Assim, com o esmero
de uma aplicação condigna à elaboração e desenvolvimento desse intento, convém
salientar que a delimitação que leva a termo nosso objetivo – o de uma reflexão
simples, mas digna de nota – está sob a dependência das coordenadas limítrofes
do título a cujo mérito se deve, satisfatoriamente, a conclusão da disquisição
a respeito das Confissões de Santo
Agostinho, fio condutor que enfatiza, de modo considerável, três temas
principais: A Biografia do Santo, um
de seus livros mais importantes, sobretudo, por apresentar um novo estilo de
literatura, As Confissões, e uma
meditação, breve, mas bem acentuada, na temática do Homem que se abre para Deus, enquanto busca de realização plena na
intimidade com o Bem Supremo, num processo de crescimento espiritual rumo à
conversão, conforme o próprio exemplo de Santo Agostinho. Com efeito, é o que
constatamos na leitura das páginas, às vezes, difíceis, às vezes, deleitáveis,
de sua obra As Confissões. É, pois,
justamente, daí que vamos haurir, paulatinamente, argumentos que confirmem, de
modo categórico, a convicção profunda da referida constatação. Feitas tais
considerações, basta-nos torcer para que na leitura subsequente – com os textos
que virão depois – seja verificada a concretização do projeto inicial, a fim de
que tudo seja ad maiorem Dei gloriam
– para a maior glória de Deus – à mercê de quem se encontra a possibilidade da
realização de todos os nossos sonhos, de todos os nossos projetos, sem nos
esquecer dos riscos que envolvem e amortecem a plenitude da realização dos
mesmos.
Inicialmente,
talvez, assalte-nos o espírito uma pergunta, querendo roubar a tranquilidade
aparente de nossa consciência revolta: “Por que uma biografia?”. Certamente,
não precisamos de muitas excogitações para encontrar uma resposta simples e
segura a tal questionamento. O fato é que a biografia introduz-nos – pelo conhecimento
e pela inteligência – no mundo de um passado remoto que a história se encarrega
de tornar presente pelo vigor borbulhante da crista das vagas que se debatem,
incansavelmente, contra os muros da memória, cuja penumbra, qual figuras que se
levantam das sombras dos séculos, faz-nos distinguir civilizações que, na
vulnerabilidade inexorável do tempo, nasceram, cresceram, existiram, mas também
agonizaram seu último suspiro e morreram, deixando-nos resquícios
incontestáveis de sua existência geográfica e histórica.
Desse
modo, no piscar de olhos da biografia, entendemos o personagem estudado – no
caso, Santo Agostinho – as inquietações mais profundas de seu espírito e de sua
época; mergulhamos no seu tempo e nas especulações que envolveram todo o seu
ser. Quem foi Santo Agostinho? Onde ele viveu? Por que caminhos intelectuais
andou e etc.? São perguntas que não podem fugir da esfera da vida de alguém a
quem queremos conhecer melhor e mais profundamente.