terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Feliz 2014!


Feliz 2014! 

 


Chegar a 2014 não é somente uma graça dos deuses ou dos céus. É, acima de tudo, a manifestação plena de que a vida ainda rebenta no ser que nos habita pelo milagre, sempre renovado, da Criação divina, obra do Verdadeiro Deus criador, mesmo que a malícia de nossas razões tente dizer o contrário. Diante do mundo pequeno e mesquinho que vivemos em 2013, o momento é de amadurecida reflexão, a fim de que possamos superar os ditames da mediocridade que nos acompanhou durante o tempo que se foi. Sim, refletir sobre as águas passadas da existência na intenção de nos tornamos melhores nunca é demais. Os desafios do crescimento psicológico e espiritual, e em tantas outras dimensões importantes da vida – e desejo que cada um encontre os lados obscuros de sua personalidade, para colocá-los à luz de sua própria consciência – poderão ser os mesmos de toda a linha existencial do bem viver, mas devem ser também alcançados pela perspicácia da interioridade, que transcende o aqui e agora e nos projetam num futuro melhor, mais aprazível. 

 


O começo de um ano novo sempre é tempo de balanço sentimental, de revisão de vida, de exame de consciência, de esforço de melhoramento, o que começa na mudança de mentalidade, de superação dos preconceitos, de resolução dos conflitos relacionais e interiores. É tempo de se jogar com mais afinco e determinação da vontade diante dos sonhos e dos ideais alvissareiros de felicidade e paz, de saúde e prosperidade, não somente material, mas, sobretudo, de acolhimento festivo do lado bom da vida. Abramos bem os olhos em 2014, para percebermos que o preto e branco com que encaramos os descontroles da vida poder ser colorido com o otimismo da inteligência, que brilha radiante sobre o horizonte sombrio do pessimismo de outrora. Aprenda novas lições das tapas da vida, pois, delas, só não aprende quem for por convicção ou fingimento um verdadeiro idiota. Não se permita avançar na cronologia que emoldura sua existência sem colorir o máximo que puder os pontos obscurecidos de seus escombros espirituais, psicológicos, relacionais, e, assim, por diante. Seguir em frente deve ser o determinismo sincero das almas de boa vontade, que se abrem às aventuras inesperadas do porvir, do mundo desconhecido da aurora que se anuncia no próximo alvorecer. Fique mais atento quanto às ciladas da violência, que tira o sossego da tranquilidade do quotidiano. Na verdade, de quantas delas fomos liberados pela lei operosa da proteção divina, cujas mãos invisíveis nos protegem mais do que ousamos querer ou imaginar... Ciladas de todo tipo, trápolas do destino, feridas do tempo que nos prendem no calabouço dos sentimentos, armadilhas do coração, trincheiras da materialidade dos ventos corpóreos de nossas ações.

Tantas pessoas estiveram ao nosso lado, permanecem ou se foram... 

Mesmo aquelas que não pudemos encontrar, mas que, vez por outra, estiveram presentes no encontro ou reencontro dos pensamentos. 

Os que foram para o outro lado do horizonte relacional concreto do mundo em que vivemos; os que ofendemos;

Aqueles aos quais tivemos coragem de pedir perdão, mesmo sabendo que a indiferença seria, talvez, a resposta mais doída pelo descaso da grandeza do gesto. Alma que se liberta de si mesma caminha em direção ao outro. Pede desculpa, pede perdão, estende a mão, penetra, sem discriminação, o olhar ferido do irmão; 

Os que nos olharam com bondade e carinho, mesmo reconhecendo os defeitos e pecados de nossa humanidade ferida pela imperfeição que ainda não conseguimos alcançar... 

Os que nos feriram, mesmo sem intenção, embora o gesto isolado tenha sido o reflexo de pequenos sinais do desprezo de uma vida toda, que se acumulou no tangível universo de nossa sensibilidade, quase, sufocando-nos pela imensidão da tristeza... 

 


Façamos o balanço sentimental, mas sejamos honestos, a ponto de reconhecermos que também muitas coisas boas, na companhia de pessoas singulares, marcaram os traços cronológicos do ano que se finda; 

Que sementes boas foram plantadas no chão da realização de ideais adubados pela torcida feliz de companheiros e amigos fiéis, de todos os momentos, doces e salgados, de todas as horas da brevidade da VIDA...

Feliz 2014! 


Feliz 2014!

Com Jesus, José e Maria!

Com muita saúde, paz e alegria!

No desenrolar de cada dia!

Valeu 2013, durante o qual, chegando a 2014, todos nós fomos e somos vencedores! 

 




quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Uma carta para o Menino Jesus!


Uma carta para o Menino Jesus 

 



Amado Menino Jesus, desculpa-me o que eu vou dizer-te, mas, parece-me que Papai Noel é muito mais importante que o Senhor. Aliás, até percebemos que ele é mais conhecido do que tua pessoa! Viste quantas crianças escrevem para ele por ocasião do dia de teu nascimento? Viste quantos pedidos são dirigidos a ele que os atende com muita disposição e boa vontade? Tenho certeza de que ele faz muitas crianças alegres e felizes com a fantasia que os adultos lhes apresentam no embalo das festas natalinas e de final de ano. Ele se faz presente em muitas festas, distribuindo presentes, doces e brinquedos às crianças – é verdade que algumas também se assustam com ele, choram, e querem manter distância; ele desce de helicóptero e traz o saco cheio de ilusões passageiras, que se acabam quando os brinquedos se quebram ou são destruídos. Presentes são apenas presentes! Presentes são reflexos de alegrias importantes para quem os recebe, mas se acabam logo. A sensação de vazio, às vezes, começa depois que abrimos o invólucro e nos frustramos com a surpresa de papai Noel. Até nos presépios, que deviam ser somente teus, manifestando a grandeza simples e a sublimidade de tua chegada, Papai Noel ocupa um lugar de destaque. Mas não te preocupes, menino Jesus! 

 


Sim, menino Jesus, depois do Natal, papai Noel desaparece, os presentes se gastam, e vamos ter de esperar mais um ano, a fim de que ele nos visite novamente! Mas tu, não! Desde que tu nasceste que tua presença é uma constante na vida dos homens e da humanidade cansada de seus projetos vãos, construídos longe de tua visibilidade, como se algo pudesse estar oculto a teus olhos. Tu permaneces conosco para sempre, até a consumação dos séculos, conforme tua promessa (Mt 28,20). Tu permaneces presente, consolando nossas tristezas, curando nossas feridas, aliviando nossas dores, tornando pleno nosso vazio interior, alimentando nossos sonhos, enchendo de entusiasmo nossas esperanças... Portanto, se ninguém quis escrever-te eu estou te escrevendo, também, para pedir presentes. Presentes daqueles que Papai Noel não pode oferecer, porque não são presentes comprados em supermercados, nem nas lojas enfeitadas com brilhos e luzes; nem podem ser oferecidos em circuitos de filantropia e confraternizações que se escondem sob o pretexto de tua festa ou de teu nascimento ou, talvez, de teu aniversário, como imaginam alguns. Mais do que teus presentes, gostaríamos de tua presença perene em todas as dificuldades do mundo, do mundo das pessoas que sentem verdadeira necessidade de Ti e de teus auxílios: no mundo das crianças, que passam fome e não têm um lugar tranquilo e seguro para morar e dormir, com suas famílias; do mundo dos velhinhos, abandonados pelos seus e jogados nas periferias da indiferença, sendo tratados como inúteis e descartáveis; no mundo dos acometidos por doenças graves, incuráveis, e que, na maioria das vezes, não têm um tratamento digno de seu sofrimento e de sua agonia; no mundo dos meninos de rua, que têm o frio como cobertor e as estrelas como véu para o aquecimento de seus sonhos e ideais de realização; no mundo dos que choram sozinhos, sem companhia nem alento, a impossibilidade de suas esperanças; no mundo dos desesperados, que se debatem à porta da vida, sem encontrar a direção certa, o rumo a seguir, o caminho de saída para suas dores, suas aflições e suas incertezas; no mundo dos torturados pela dúvida, que obscurece o espírito e deprime a mente, projetando-os no giro interior da depressão permanente; no mundo dos encarcerados, prisioneiro de sua história pessoal, mas também vítimas da brutalidade do sistema, que pune os mais fracos e indefesos, deixando livres corruptores acima do bem e do mal; no mundo do violentados pelas injustiças institucionalizadas, mediante o cinismo e a arrogância dos ditadores, que se impõem à vida alheia; no mundo dos tristes e acabrunhados com o peso da vida; no mundo dos trabalhadores explorados, sem salário justo.  



Por tudo isso, permanece conosco, ó Menino Jesus, no Natal, na comemoração de teu nascimento, mas também durante todos os dias do Ano Novo, e até o fim de nossa vida. Permanece conosco a fim de que a verdadeira luz do mundo, que és tu, ilumine toda a nossa vida, todo o nosso ser, pois as luzes que o mundo acende na escuridão de suas buscas não acendem nossa interioridade nem aquecem o coração sedento de Ti somente. Assim, ó Menino Jesus, que teu caminho seja o caminho dos homens; que tua verdade seja a verdade dos homens; que tua vida seja a vida dos homens; que tua luz penetre todos os corações, recobrando-lhe o sentido profundo da esperança que teu nascimento quis despertar em todos; que teu amor seja o amor entre os homens, que partilham as mesmas dores, as mesmas lutas, as mesmas dificuldades, os mesmos sonhos, os mesmos ideais. Por isso, reconhecemos que o natal não é Natal se não tem o teu nome; que a felicidade não é Felicidade se não tem o teu nome; que a paz não é Paz se não tem o teu nome; que a justiça não é Justiça se não tem o tem nome; que a fraternidade universal não será possível se estivermos longe de Ti e separados uns dos outros, contrariando teus ensinamentos. 

 


Ah, Menino Jesus, se o Senhor não puder atender todos os pedidos, poderias pedir auxílio a Papai do Céu, pois, tenho certeza de que, com tua ajudinha, Ele ficaria muito contente em atender todas as nossas solicitações. Por tudo, enfim, muito obrigado, Menino Jesus. E que todos os homens sejam contaminados pela expressão máxima de tua bondade para com todos, de tua especial predileção pelos pobres e sofredores do mundo inteiro, especialmente, daqueles que vivem em nosso derredor, sob o alcance do nosso olhar humilde e despretensioso. Amém.






sábado, 30 de novembro de 2013

Carlo Acutis: quando Deus irrompe por dentro I


Carlo Acutis:
Quando Deus irrompe por dentro (I)




Nem sei se poderíamos falar de conversão quanto à vida de uma pessoa que, morrendo com fama de santidade, sempre teve o privilégio de experimentar, durante toda a sua existência, Deus mesmo irrompendo por dentro. De fato, a palavra conversão traz no bojo de seu significado a possibilidade constante, contínua do homem, por muito tempo e por toda a vida, em projetar o olhar na direção de Deus. No entanto, não é isso o que acontece quando nossos olhos se sentem tão atraídos e fascinados pelos ídolos desse mundo. Para lutar contra os imperativos profanos e mundanos que tentam afastar-nos de Deus e de sua graça santificante, é preciso muito discernimento interior, espiritual, acompanhado por firme e decisiva determinação da vontade. Talvez, tenha sido isso o que aconteceu ao “nosso amigo” Carlo Acutis, um jovem inglês, descendente de italianos, e criado na Itália, que morreu vitimado por uma leucemia, aos 15 anos de idade. Seu testemunho também serve como inspiração para nossa espiritualidade, sobretudo, reconhecendo que viver a santidade não é estar fora do mundo, mas é também não permitir que a essência da vivência cristã se torne prisioneira de suas armadilhas. 




Seu nome, Carlo Acutis, com certeza, pode não querer dizer nada ao meu leitor, pelo menos, por enquanto. A verdade é que comecei a admirar a vida desse jovem quando recebi um email que falava de sua vida de santidade e de sua morte prematura. Na ocasião, escrevi outro texto intitulado “Santidade não tem idade”, que pode ser encontrado nas malhas da internet, protegido pelo “tio Google”, como alguns costumam chamar o “motor ou o mecanismo de buscas” onde instalei meu blog. Carlo Acutis faleceu em 2006, na cidade de Milão onde sua família morava e onde ele frequentava a vida da comunidade paroquial e realizava seus estudos acadêmicos. Esse ano marcou profundamente a vida do Papa Bento XVI, que subiu mais alguns degraus no roteiro de sua via-sacra. Foi um tempo em que ele percorreu outras estações do caminho da cruz de seu pontificado. De fato, ele se viu acuado por todos os lados, tanto fora quanto dentro da própria Igreja. O escritor alemão, Andreas Englisch, tentou resumir aquele ano por meio de um discurso denso e pontual, pleno de vicissitudes e consequências amargas que, sem sombra de dúvidas, fizeram sangrar as feridas da alma e do coração de Bento XVI, especialmente, ao “interpelar os mais devotos” a posições mais coerentes com a própria fé abraçada, não somente como cristãos, mas, de igual modo, na coerência pastoral de movimentos dentro da Igreja e que pareciam destoar do conjunto sacro da Liturgia. Lendo seu livro, sinto-me quase como um dos personagens que integram a história, pois, 2006 foi o último ano de meus estudos na Itália, e a maioria dos protagonistas envolvidos é muito conhecida pela presença constante na imprensa e nos trabalhos e atividades do Vaticano. Aquele foi o ano do discurso em Regensburgo, que causou reação incendiária, de modo provocante, no meio muçulmano; de sua primeira encíclica, Deus Caritas est, que surpreendeu, inclusive, por tratar de um tema que não parecia de muito interesse para os que aguardavam suas palavras com tanto entusiasmo dentro do próprio Vaticano. O tema do “amor físico”, carnal, era de insuspeita possibilidade de argumentação pelo “sabichão” teólogo da Congregação para a Doutrina da Fé, que se tornara Papa, mesmo que ele tivesse recorrido a um segundo autor, o Cardeal Paulo Cordes, que o ajudou na elaboração do documento, o que também foi outra grande surpresa; tudo isso sem falar de outros problemas como os relacionados à Radio Vaticana, que passava por dificuldades financeiras, com 400 empregados de mais de sessenta países, produzindo programas em 38 idiomas diferentes; as dificuldades encontradas na Polônia, a terra do Grande Papa João Paulo II, em sua segunda visita internacional, tendo de apresentar-se para um discurso tão histórico quanto penoso às portas de Auschwitz, sobretudo, por ele ter sido acusado pelos inimigos de ter servido nas bases aéreas de artilharia do Nazismo, algo de que, quiçá, ele não poderia escapar como qualquer outro jovem alemão da época; as intrigas dentro do Vaticano, ainda reforçadas pela nomeação de um Cardeal que nunca fora Diplomata, “nem sequer falava inglês, imperdoável para um chefe do ministério do Exterior nos tempos atuais”, o Cardeal Chefe de Estado, Tarcísio Bertrone; a demissão do Porta-voz do Vaticano Joaquim Navarro Vaz; o caso Emmanuel Milingo, o Arcebispo “Louco da África”, que, sem culpa direta de Bento XVI, causou muitos males e danos à Igreja no mundo inteiro [conheço um sacerdote que deixou o ministério, que foi casado por ele, aqui no Brasil!]; e tantos outros fatos doloridos que poderiam ser citados. Pois bem, antes de morrer, o jovem Carlo Acutis ofereceu sua “passagem” pela Igreja e pelo Papa. Na verdade, um gesto de apoio e sustento espiritual em favor da Igreja inteira. Impressionante é saber da coragem dos santos que motivam também a vida dos chefes da Igreja de Cristo em momentos tão cruciais de sua história. Certamente, para um jovem arguto e inteligente, com sua vida espelhada no Evangelho e nos ensinamentos de Cristo, sintonizado com seus problemas mais prementes, enfrentando com serenidade os embates e a agonia da doença que cobrou o preço de sua existência, seu depoimento permanece oferecendo frutos à vida de quem o conhece mesmo se apenas pela sua simples, mas envolvente, biografia. Seu corpo repousa num túmulo em Assis, a cidade de São Francisco, um santo de quem ele era devoto e de quem aprendeu a simplicidade de vida na obediência aos ensinamentos de Cristo e de seu Evangelho. Nesse topônimo, ele esteve várias vezes, passando férias em uma casa da família. É um lugar agradabilíssimo, onde eu já estive três vezes. Cercado de montanhas na região da Úmbria, a sensação de paz que acompanha o turista parece revelar a presença do santo caminhando entre nós, como se não tivesse morrido. 




É, pois, assim, contemplando a vida desse jovem, que eu gostaria de refletir sobre a necessidade de conversão de todos os discípulos de Cristo. Escrever sobre conversão não é difícil. Difícil é converter-se, de fato. Cada um coloque o dedo nas feridas de sua própria consciência, sem intencionar querer julgar os outros. A grande graça todos nós já recebemos pelo santo Batismo, que nos mergulhou na própria morte e ressurreição de Jesus de Nazaré. Por ele, recebemos a chamada “graça santificante”, que nos identifica com ele. É São Paulo quem o afirma em sua teologia: “Pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 8,4). Daí por que “se nos tornamos uma só coisa com ele por morte semelhante à sua, seremos uma coisa só com ele também por ressurreição semelhante à sua, sabendo que nosso velho homem foi crucificado com ele para que fosse destruído esse corpo de pecado, e assim não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6,5-6). E “não servir ao pecado” significa fazer de tudo para que sejamos agradáveis a Deus, à maneira de Jesus, que foi obediente até a morte e morte de Cruz (Fl 2,6-11). Portanto, não podemos esquecer-nos de que é a graça de Cristo que trabalha em nós, e que todo esforço na direção da vida de santidade é fruto de sua graça operante. Como afirma a reflexão da Igreja, ela “é um dom, mas simultaneamente uma conquista”. É, pois, dentro da dinâmica da “conquista” que assume valor e significado o processo de conversão do homem. Deus indica o caminho e oferece o tempo da conversão, mas é preciso que ele se decida. No entanto, qual é, então, “o tempo da conversão”?