terça-feira, 26 de junho de 2012

O sorriso como terapia antiestresse!

                                   O SORRISO COMO TERAPIA ANTIESTRESSE

                                       

Uma das situações que mais gosto de presenciar quando ando na rua é ver pessoas sorrindo. Sorrindo de que, não sei. Pelos menos, o sorriso demonstra uma descarga de energias positivas que reanima o gosto pela própria vida, pela existência. Dizem que o homem é o único animal que rir, e rindo ele mostra o animal que é. Então, sorria, mesmo que você não esteja sendo filmando. Aliás, você já sorriu hoje? Sorria! Mesmo sem nenhuma motivação aparente, sorria mesmo assim.

Em 2011, alguns dias antes de Berlusconi deixar o cargo de Primeiro Ministro italiano, especialmente, diante da situação econômica grave e desastrosa em que se encontrava a Itália, dentro do contexto europeu, o humorista Fiorello iniciou seu programa solicitando à platéia que sorrisse. Que desse uma boa gargalhada, cada um imaginando alguma razão para tal ou mesmo sem razão nenhuma. Seria um esforço para não se estressar demais diante de circunstâncias incontroláveis pela razão humana.

O fato é que, se pensássemos bem, teríamos muitas razões para sorrir. Outro dia, em conversa com uma família, depois de muitas risadas, eu disse: “Vamos sorrir bastante para que os normais pensem que nós somos doidos, e os doidos pensem que nós somos felizes!” Ou seja, o importante é sorrir. Será, por exemplo, que uma criança tem alguma noção de seu sorriso? No entanto, quem pode não corresponder à façanha pueril da estampa de seus lábios que sorriem? Como poderíamos ler ou entender o gesto irrefletido de um bebê que se abre aos desconhecidos pelo encanto de sua expressão sorridente? Claro que o sorriso não deveria tirar a seriedade da vida e das responsabilidades que assumimos diante da sociedade. Não é verdade que quem rir muito ou é doido ou está bêbado! Na Idade Média, por exemplo, questionava-se se, por ventura, Cristo haveria sorrido. Então, nos mosteiros, o sorriso seria uma espécie de feitiço demoníaco que afastaria as pessoas da seriedade de seus compromissos ou dos propósitos de sua vida ou consagração.

Na Bíblia, o verbo “rir” aparece nos contextos mais variados possíveis. Eis algumas citações para o querido leitor se distrair: “Abrão caiu com o rosto por terra e pôs a rir, pois dizia a si mesmo: ‘Acaso nascerá um filho a um homem de cem anos [...]?’” (Gn 17,17); “Riu-se Sara no seu íntimo, dizendo: ‘Agora que estou velha e velho também está o meu senhor, terei ainda prazer?’” (Gn 18,12); “Abraão tinha cem anos quando lhe nasceu o seu filho Isaac. E disse Sara: ‘Deus me deu motivo de riso, todos os que o souberem rirão comigo’” (Gn 21,6); “O que habita nos céus ri, o Senhor se diverte à custa deles” (Sl 2,4); “O ímpio faz intrigas contra o justo e contra ele range os dentes; mas o Senhor ri às custas deles, pois vê que o seu dia está chegando” (Sl 37,12-13); “Porque vos chamei, e recusastes, estendi a mão e não fizestes caso, recusastes os meus conselhos e não aceitastes a minha exortação: por isso rirei da vossa desgraça, divertir-me-ei da vossa desgraça” (Pr 1,26); “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de chorar e tempo de rir” (Ecl 3,1.4); “Felizes vós, que agora chorais, porque havereis de rir” (Mc 6,21); “Todos choravam dela e batiam no peito por causa dela. Ele disse: ‘Não choreis! Ela não morreu; dorme. E caçoavam [riam-se] dele, pois sabiam que ela estava morta” (Lc 8,52). 

Como vimos acima, a Sagrada Escritura não se dispensa de anotar momentos de risos e alegrias, em que o próprio Senhor se apresenta como se ele se divertisse à custa das atrapalhadas humanas, ou das sendas desencontradas de sua pertinácia e obstinação em face de algumas circunstâncias da vida. Sabemos que não é fácil sorrir quando o mundo parece desabar em derredor de nós, quando o vento leste impetuoso do destino nos surpreende e arranca de nossa presença os entes queridos; quando os sonhos mais próximos de serem realizados vão pelo ralo; quando a dor e o sofrimento machucam as feridas da vida, as investidas de perturbações não esperadas; enfim, quando a casa pare cair sobre nós mesmos. Seria bom que as intempéries da vida não nos roubassem o sorriso dos lábios. Madre Tereza de Calcutá, por exemplo, dizia que o seu sorriso era um manto que encobria uma multidão de dores. O fato é que são raras as pessoas que sorriem sempre, encontrando, de igual maneira, uma motivação a mais para o não desalento, para a confiança, para a esperança, para o bruto desafio do existir.

Nesse sentido, lembro-me de um poema que escrevi para a Irmã Maria Alice Portela – in memoriam – cujo sorriso era perceptível mesmo em situações de tristeza e dor. Ei-lo, ao modo de homenagem, para apreciação do meu leitor: “O sorriso é a transparência nítida da alma que resplandece solene no brilho dos olhos, na expressão dos gestos ou no silêncio absorto da oração. Tudo isso é um pouco da exteriorização, não fingida, de quem tem a consciência da vida e a responsabilidade coerente de levar Cristo aos outros. E foi, pois, assim, com a tranquilidade de quem sorria, que ela viveu. E vivendo...  Devia tomar decisões sérias, e sorria! Sofria com as dificuldades da Congregação, e sorria! Era sensível ao sofrimento alheio, e sorria! Sentia o peso de uma despedida, e sorria! Amava sua vida de consagrada, e sorria! Acolhia a todos com alegria, e sorria! Colocava-se em oração diante de Deus, e sorria! Abria os braços ao acolhimento, e sorria!Percebia a grandeza da simplicidade de uma criança, e sorria! Acompanhava os irmãos no caminho do sacrifício, e sorria! Tornava-se o Cirineu de muitos de seus iguais, e sorria! Tinha sempre uma expressão de carinho nas palavras, e sorria! Partilhava a vida com entusiasmo, e sorria! Escrevia, com seriedade, verdades de suas profundas convicções, e sorria! Transmitia segurança, confiabilidade, sabedoria, e sorria! Sabia o valor perene das renúncias, e sorria! Tinha a simplicidade dos virtuosos, e sorria! Possuía o equilíbrio dos decididos, e sorria! Era amante da vida, das amizades, da grandeza da humanidade, e sorria! Contava anedotas com solenidade, e sorria! Plena de espiritualidade, era mestra da concretude espiritual, e sorria! E, sempre sorrindo, sorria, sorria, sorria, e sorria! ”

Sobre o sorriso, também há frases engraçadas, como uma que li, há pouco tempo: “Eu sorri para a vida, e ela me mandou escovar os dentes!”. Achei hilariante, tragicamente hilariante, porque é verdade que a vida não se alegra com o sorriso triste de quem não cuida bem dos próprios dentes. Aliás, você já perdeu quantos? Bons dentes na moldura de um sorriso amplia o raio da felicidade que se desprende dos lábios. Então, sorria, sempre!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A Caridade não pratica o mal!

                                       A CARIDADE NÃO PRATICA O MAL 
   
                                                        

O amor deve vencer os escombros da superficialidade de nossas atitudes e ações. Mais ainda, ele deve purificar o sentido errado que demos à plenitude de sua significação. Quantas vezes por dia trazemos nos lábios a palavra “amor” sem a devida correspondência à legítima revelação do que as intenções escondem por trás da hipocrisia de nossas satisfações!

Por que será que São Paulo diz que “quem ama o outro cumpriu a Lei?”. Ele mesmo dá-nos a resposta: “De fato, os preceitos: Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e todos os outros se resumem nesta sentença: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é a plenitude da Lei” (Rm 13,8-10). O amor é tão importante na convivência humana que Santo Agostinho ensina, sem medo de errar: “Ama e faze o que queres!”. O amor não pode errar, e é por isso que ele pode redimensionar todas as outras categorias dos sentimentos de nossa alma na justa medida de sua compreensão e aplicabilidade no circuito livre de nossas escolhas e manifestações de simpatia, de amizade, de amor, de afeição, de apreço merecido pelo outro. Mas, essa atitude deve ser trabalhada constantemente, tentando trazer à luz da consciência a necessidade do amadurecimento nas situações mesmas que vivemos.

Na vivência do amor cristão, somos intimados a superação dos conflitos próprios de nossa humanidade. O grande problema para a aceitação dos defeitos alheios é que, com frequência, colocamo-nos acima de quaisquer suspeitas. O evangelho de São João retrata isso de maneira extraordinária. Uma mulher surpreendida em adultério é levada até Jesus. Seus inimigos, “com os olhos injetados do sangue da ira”, levam-na diante dele dizendo que “a lei [de Moisés] manda apedrejar tais mulheres”. Como sempre, a atitude de Cristo é surpreendente, comovente. No início, ele parece fingir que não entendeu bem a questão, mas, com a insistência da provocação furiosa dos detratores, ele não deixou passar a oportunidade para mais uma lição de vida, para mais um ensinamento teológico, ético, do acolhimento misericordioso de Deus, em nome de quem ele age com autoridade divina: “Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”. É verdade, com que facilidade atiramos pedras sobre nossos irmãos!. Todavia, no caso do evangelho, cada um, olhando no mais profundo da própria consciência, foi saindo, “a começar pelos mais velhos” (Jo 8, 1-11).

A ponta aguda do ensinamento de Cristo mostra o quando somos intolerantes com os outros e clementes para com nós mesmos. Um pouco mais de reflexão pessoal poderá ser útil ao melhoramento e à abertura confiante e leal dos bons afetos que gostaríamos de dever condignamente aos transeuntes que flanam, livres e desimpedidos, pelos bulevares luminosos da existência.