domingo, 31 de dezembro de 2017

O tempo entre 2017 e 2018...

O tempo entre 2017 e 2018...



O tempo corre infrene, sem deixar rastros, mas as pegadas de sua memória permanecem aí no chão batido dos sentimentos, nas janelas floridas da alma, nos caminhos luminosos da existência, nos sinais visíveis na esperança da madruga.  Tempo lacrimosamente chuvoso, copiosamente coberto por nuvens plúmbeas de incertezas, tempestivamente frio na escuridão dos sonhos, mas amplamente investido nas conquistas que valem a pena, na peleja dos ideais, no combate pelas vitórias, na insistência feliz pela sobrevivência. Sim, queremos continuar aqui, simplesmente vivendo, lutando, querendo o melhor para todos, para os familiares e amigos, para a humanidade mesmo, que nos acoberta pelo manto da fraternidade, da filadelfia. Somos sangue da mesma carne, feridas do mesmo corpo, chagas das mesmas intolerâncias, tecido rasgado, esgarçado pelas mesmas violências. Você é melhor que alguém? Quem é mais que você? Então, estenda o olhar para os outros e se encontre neles, não seja indiferente, faça um esforço além das empatias e simpatias, com menos alcance para a antipatia. A estrada do tempo é o caminho luminoso de nossas boas ações em relação aos outros.
O sentimento contrário à solidariedade cega as boas intenções do espírito, limita o raio da caridade ou da filantropia, desbota o colorido das lindas ações do coração. Escolha o lado certo do altruísmo, revista-se de coragem para se colocar no lugar dos outros, sentindo suas alegrias e tristezas, desilusões e frustrações, experimentando o orvalho doce das carícias dos ventos emocionais, do orgulho de tantas presenças edificantes e construtivas no circuito da existência. Vale o risco da ousadia, vale a teimosia da vida em querer, sempre mais, o conforto social do consolo igualitário da convivência com os menos afortunados da sociedade injusta, ambiciosa, delinquente, que não enxerga além de seus interesses mesquinhos, inescrupulosos, mesmo custando o preço da dignidade alheia. Ouvi de uma criança de nove anos: “Eu também sou bondoso, porque fico triste quando, na rua, vejo pessoas com necessidades... Pedi uma moeda ao meu pai [para doar], mas ele disse que não tinha...”
A grandeza da educação começa na orientação correta do sentimento das crianças, “porque a sua inocência [ainda] está cheia do Espírito de Deus”. Onde estão os seus pais? Não basta cobrar da escola, do governo ou da própria sociedade, se elas não encontram o testemunho e a motivação da bondade dentro de casa, nos pais inclusive. Responsabilidade exigida é compromisso testemunhado... Esse é o papel dos educadores informais, dos tutores do lar. Lamentar ou chorar o sangue derramado na rua não é suficientemente digno quando nos furtados aos deveres da formação doméstica de nossos filhos. Riqueza nenhuma é achada ou encontrada de graça. Lembro o meu jovem pai quando eu ainda era criança, que nunca nos permitiu guardar em casa nenhum objeto apanhado na rua... “Vá e deixe lá onde você o encontrou!”. Tratava-se, pois, de um imperativo educacional, formativo do caráter e da personalidade.
Eram ensaios de honestidade que perduram pela vida afora. Mas foi preciso que ele estivesse atento aos deslizes inocentes dos filhos: “Isso não é seu!”. E voltávamos ao mesmo local para devolver o achado, mesmo não sendo roubado. O tempo também é o Senhor de nossas boas ações. Não mudaremos o mundo se não nos transformamos a nós mesmos pelo lado de dentro do coração e da alma, do ânimo intelectivo. E isso exige ciência e sabedoria, disposição de espírito e espírito de sacrifício. Com efeito, quem se deixa transformar interiormente perde um pouco de si mesmo em benefício do ganho dos outros e do seu aperfeiçoamento. É o que diz o rifão corrente: “No pain, no gain!” – “Sem dores não há ganhos...” Mas isso também deve ser fruto do amor a nós mesmos e aos outros, e, como assevera uma música italiana “non c'è amore senza piccoli dolori, che ci cambiano” – “não existe amor sem pequenas dores, que nos modificam” (Gigi D'Alessio).
A experiência da vida dos grandes homens deve ser uma inspiração para os pequenos, para aqueles cujas frestas da alma ainda não foram invadidas pela perversidade de atos amadurecidos no turbilhão do querer apenas tirar vantagens. A vida é o espelho de nossas bondades ou maldades. E essas precisam ser vencidas no nascedouro da boa educação. Por isso, devemos educar nossos filhos, inclusive, para que possam controlar os gastos com seus benefícios pessoais como é o caso da mesada que alguns recebem. Eu nunca tive mesada, mas meu pai me ofereceu mais do que isso. De fato, os filhos devem ser comprometidos desde cedo com os custos pessoais, pelo valor da vida em suas exigências primárias. Nada cai do céu gratuitamente e, por trás da riqueza dos homens honestos há muito suor derramado, talvez, lágrimas vertidas e sacrifícios imensos. Portanto, negociem com os filhos o gasto do que recebem, motivando-os também à economia, à organização da casa financeira ao nível de suas possibilidades. Negociar significa tirar do ócio, despertar o indivíduo da preguiça moral diante de suas próprias responsabilidades, e as crianças já podem aprender isso se lhes for ensinado.
A educação, no sentido amplo da acepção da palavra, também é a medida de nossas ações boas ou más, e são elas que irão dar o norte producente ou contraproducente como resposta aos desafios da vida quotidiana. Como escreveu um autor moderno, as pessoas amam a luz ou as trevas, e é esse amor que vai condicionar o comportamento das tomadas de decisão em suas escolhas. Enfim, que as flores do jardim da vida, das amizades, dos encontros e reencontros, dos novos sonhos e das realizações continuem vicejantes também em todo o ano de 2018...