segunda-feira, 30 de março de 2015

O Pedro que existe em nós!


O Pedro que  existe em nós! 

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“Senhor Jesus, quantas vezes, também nós, por causa do medo e do sofrimento, somos alheios à verdade e coniventes com as injustiças desferidas contra os inocentes!!! Ajuda-nos a reconhecer em Pedro não apenas a fragilidade momentânea de nosso ideal frustrado e vencido pelo medo, mas, de igual maneira, ajuda-nos a encontrar na possibilidade da reconciliação, encorajada pelo arrependimento, o lugar da resposta amorosa de Deus, que insiste, traição após traição, queda após queda, no incondicional resgate dos que se reconhecem incapazes de corresponder ao escândalo da Cruz, mas, aceitam a aparente contradição de um Deus, misericordioso e bondoso, em seu mistério de Redenção, a tal ponto que manda o Seu Único Filho para ‘cobrir com o manto de sua misericórdia todos os nossos pecados...’ Amém!”



Santo Sepulcro


 Santo Sepulcro 


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S enhor Jesus, vivo e Ressuscitado,
A juda-nos a entender, na luminosidade da fé,
N ossa ontológica semelhança contigo, pois,
T oda a humanidade converge para o
O ntem de tua Ressurreição, que é sempre hoje.

S enhor Jesus, vida e Ressurreição;
E sperança inaudita da fé dos
P eregrinos, que em ti encontram a
U nidade perdida na desobediência
L eviana da autossuficiência.
C onduz-nos, teus irmãos, ao resplendor da
R essurreição, que só a “noite feliz”, no
O ntem eterno de Deus, que não termina, pôde testemunhar.

sábado, 21 de março de 2015

Peccavi Domino

Peccavi Domino


 

Davi, exposto à luz de sua própria insegurança, manifesta contrição e arrependimento. De fato, enquanto imaginamos que estamos alheios à notoriedade da escuridão de nossas faltas, a onisciência divina acende o farol de sua indiscrição sobre as nossas ações vergonhas. Quando não, Deus mesmo envia um mensageiro para despertar-nos do torpor espiritual que nos arranca do choque inevitável da publicidade de nossas fraquezas.
Ao imaginarmos faltas e pecados, defeitos e vícios, geralmente, sempre tentamos apontar alguém, cuja desonra humilhante foi descoberta. Ou seja, dificilmente, somos levados a pensar que a vergonha do outro é a nossa vergonha. Que o pecado do outro é o nosso pecado. Que a queda do outro é a nossa queda. Que a humilhação do outro é a nossa humilhação. Que a prostração do outro é a nossa prostração. Enfim, não somos muito solidários com as fraquezas alheias, e até corremos o risco de zombar dos nossos irmãos. Não aprendemos a chorar com os que choram (Rm 12,15). E mesmo se isso não é manifestado exteriormente, com maledicências e fofocas peçonhentas e mortíferas, no fundo do coração cochila, prestes a despertar, o sorriso satânico de nosso contentamento e desprezo pelo outro. Então, gritamos, euforicamente, a possibilidade de nossos atos insuspeitos: “Quem fez isso é digno de morte!” (2Sm 12,5). Sim, quantas de nossas maledicências já fizeram outros morrerem, por nos considerarmos melhores que os demais!
Davi faz a amarga experiência de reconhecer que está no centro do ardiloso e intencional apólogo de Natã, em que Betsabeia aparece como metáfora no pano de fundo do enredo: “Havia dois homens na mesma cidade, um rico e outro pobre. O rico possuía ovelhas e vacas em grande número. O pobre nada tinha senão uma ovelha, só uma pequena ovelha que ele havia comprado. Ele a criara e ela cresceu com ele e com seus filhos, comendo do mesmo pão, bebendo na sua taça, dormindo no seu colo: era como sua filha. Um hóspede veio à casa do homem rico, que não quis tirar uma das suas ovelhas ou de suas vacas para servir ao viajante que o visitava. Ele tomou a ovelha do homem pobre e a preparou para a sua visita” (2Sm 12,1-4). E o texto sagrado continua: “Davi se encolerizou conta esse homem e disse a Natã: ‘Pela vida de Iahweh, quem fez isso é digno de morte! Devolverá quatro vezes o valor da ovelha por ter cometido tal ato e não ter tido piedade’. Natã disse a Davi: ‘Esse homem és tu! Assim diz Iahweh, Deus de Israel: Eu te ungi rei de Israel, eu te salvei das mãos de Saul, eu te dei a casa de teu senhor, eu coloquei nos teus braços as mulheres do teu senhor, e te dei a casa de Israel e de Judá, e se isso não é suficiente, eu te darei qualquer coisa. Por que desprezaste Iahweh e fizeste o que lhe desagrada? Tu feriste à espada Urias, o heteu; sua mulher, tomaste-a por tua mulher, e a ele mataste com a espada dos amonitas’. [...] Davi disse a Natã: ‘Pequei contra o Iahweh!’ [Peccavi Domino!]” (2Sm 12,5-13).
O trágico acontecimento trazido a lume na consciência de Davi, conclui-se com a palavra do profeta Natã que garante o perdão divino e deixa o coração de Davi aberto às vicissitudes da conversão. Com efeito, Deus concede o perdão aos que se arrependem de suas faltas, pois a oração penitencial insiste no fato de que Ele não despreza um coração arrependido. Na verdade, “sacrifício a Deus é espírito contrito, coração contrito e esmagado, ó Deus, tu não desprezas” (Sl 50,19). Deus não se deixa vencer pela insistência de seu amor. O que lhe importa, acima de tudo, é o resgate do pecador, que rejeita o pecado, como Deus o faz, rejeitando-o, e se arrepende. No caso de Davi, que é o retrato vivo de cada pessoa que vem a este mundo, prevalece a misericórdia, depois da contrição e do arrependimento, acompanhados dos bons propósitos em mudar de vida.
Davi é perdoado, mas “a espada não mais se apartará da tua casa” (2Sm 12,10). Na reflexão de Bruna Costacurta, Deus entra em cena, e como protagonista revela a verdade sobre o pecado de Davi, e todas as suas consequências inevitáveis. A acusação vem por meio do profeta Natã, que foi enviado ao rei. Então, Davi percorre seu difícil caminho de tomada de consciência. Mas é uma estrada que deve conduzi-lo a colher o perdão divino e a sua consolação. A denúncia profética coloca diante do culpado a insensatez de seu mal, de maneira que, uma vez consciente, o pecador confesse e se deixe perdoar. A parábola contata por Natã a Davi, é o retrato de um mundo dividido entre ricos e pobres. Entre a ganância de uns poucos e a privação de uma grande maioria de necessitados. A riqueza pode fechar o coração humano a Deus e aos irmãos.
Segundo a sobredita professora Bruna Costacurta, para quem não tem muitos meios de sobrevivência, a ovelha conquistada pode representar toda a sua riqueza. E sobre ela vem derramada sua capacidade de acolhimento e de dom, através de uma relação toda particular. Afeiçoando-se ao animal com a uma pessoa, faz com que ele cresça em meio aos seus filhos, aumentando o círculo dos afetos, condividindo o pouco que tem, e ensinando a fazer o mesmo. Trata-se, pois, de uma pobreza vivida na dignidade, na mansidão e na abertura do coração. Inversamente, o rico tem o coração fechado. E, quando, inesperadamente, surge um hóspede, não é capaz de conceder nem um pouco de comida. Com efeito, o repasto preparado ao visitante serve para exprimir os sentimentos de acolhimento sincero. Manifesta alegria em abrir a casa, colocando à disposição do outro o que se tem. A divisão do alimento implica comunhão e amizade, demonstrando-se um dos modos mais significativos para dar as boas vindas àquele que se recebe como hóspede agradável. Quanto ao caso de Davi, há uma mentira monstruosa em relação à preparação da mesa para acolher quem chegou. A refeição que o rico oferece ao viajante de passagem não lhe pertence, foi tirada de um pobre. A condivisão da vida, entre o opulento possuidor e o hóspede, é expressa tolhendo do pobre sua única ovelha. Ainda segundo Bruna Costacurta, com a entonação de sua parábola, o profeta Natã queria consentir ao rei de sair de sua mentira e abrir-se à verdade, provocando-lhe a consciência da gravidade do pecado cometido e fazendo emergir o seu senso de justiça. Por conseguinte, a historieta serve para ajudar o outro a dar-se conta da própria realidade e a confrontar-se com ela. Portanto, superando a resistência inevitável de quem tem dificuldade em reconhecer-se em culpa e abatendo o esquema de suas pretensas justificativas, o conto profético atinge a consciência do pecador que, desconhecendo que o que está ouvindo diz respeito a si mesmo, reage conforme a verdade e, condenando o mal dos outros, condena-se a si mesmo. Finalmente, o intento da parábola de Natã alcança seu objetivo. Davi indigna-se, e isso o crucifica. A aplicação do profeta à sua história pessoal não deixa mais dúvida: “Esse homem és tu!”.
O reconhecimento de sua falta, levando-o à humilhação e à penitência, abre espaço para a reconciliação e o perdão gratuito de Deus, que, de braços abertos, sempre espera os filhos que tornam a casa, tendo perdido o dom precioso da paternidade por terras estrangeiras e distantes do carinho do Pai amoroso. Conscientes ou não, todos nós temos necessidade do retorno à consolação e à segurança do aconchego do colo divino.

A lucidez espiritual de Davi

A Lucidez espiritual de Davi

 

A história bíblica sobre Davi fala pessoalmente à consciência de todos os homens e mulheres de todos os tempos e épocas. Fala, também, de modo direto, sem desculpas ardilosas, à nossa própria consciência. Como diria, a minha professora de Sagrada Escritura da Gregoriana, em Roma, Bruna Costacurta, o pecado não cessa enquanto não for confessado. Sua espiral maligna desenvolve-se, implacavelmente, se não for detida no refúgio da lucidez espiritual do desejo sincero de conversão. Assim, o pecado de Davi começa a manifestar-se por meio da evidência de uma típica dimensão: a irresponsabilidade. Com efeito, os atos humanos, uma vez colocados na esteira do agir, permanecem lá. Não é possível voltar atrás ou apagá-los. Se forem atos perversos, o que se pode fazer é modificá-los, limitar-lhes os efeitos, mas o que foi feito permanece, e o homem é constrangido a enfrentar aquela realidade, mesmo se quisesse esquecê-la ou eliminá-la da própria vida. Se não reconhecemos diante de Deus os nossos pecados, não poderemos permitir que Ele refaça nosso caminho interior, reorientando para Ele toda a nossa vida. Mas é preciso que o façamos, com calma e serenidade, com espírito de confiança e abandono Àquele que nos conhece no mais profundo de nossas entranhas e no mais oculto de nossas dobras espirituais. Como já havia intuído Santo Agostinho: “Deus está mais íntimo de nós do que nós de nós mesmos!”.
Quando pensamos que ninguém vigia as nossas ações, Deus está vinte quatro horas no ar, talvez rindo das imbecilidades que cometemos no quarto escuro de nossa personalidade maquiavélica e astuciosa. Na Bíblia, encontramos muitas citações quanto ao olhar divino sobre o palco aberto do universo de nossas ações suspeitas, também flagradas pela luz inquieta e bruxuleante de nossa própria consciência. O belíssimo e comovente Salmo 138 revela-nos a grandeza de Deus que nos invade, misteriosamente, sem que nos demos conta nem o saibamos como. Parece até assustador a ideia de imaginar que Ele vela, de modo ininterrupto, sobre cada rasgo inconsciente e teimoso de toda a nossa existência: “Iahweh, tu me sondas e conheces: conheces meu sentar e meu levantar, de longe penetras o meu pensamento; examinas meu andar e meu deitar, meus caminhos todos são familiares a Ti” (Sl 138, 1-3). De fato: “É um saber maravilhoso, e me ultrapassa, é alto demais: não posso atingi-lo” (v. 6). Tomado por essa consciência da onipresença do Altíssimo, não é que o salmista – ou cada um de nós, por nossa vez – deva viver amedrontado como se um fantasma perseguisse nossos atos para nos punir. Nada disso! É, justamente, o contrário, pois a literatura salmíca indica-nos que o olhar divino vem ao encontro de nossa vida para nos ensinar a andar em seus caminhos: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração! Prova-me, e conhece minhas preocupações. Vê se não ando por caminho fatal e conduze-me pelo caminho eterno” (Sl 138,24). Deus não se alegra com o caminho torto ou errado de nossas decisões e escolhas, mas quer ver-nos trilhando o caminho de seus mandamentos, que sinalizam a estrada do bem, da verdade e da vida eterna, que Ele nos propõe com tanto primor, delicadeza, excelência e zelo. Comentando o Salmo 138, Santo Agostinho sustenta o seguinte: “O homem se senta quando se humilha pela penitência; levanta-se, contudo, quando se ergue pela esperança da vida eterna. Por este motivo, diz outro salmo: ‘Erguei-vos após terdes estado sentados, vós que comeis o pão da dor’ (Sl 126,2). Os penitentes comem o pão da dor; eles cantam em outro salmo: ‘minhas lágrimas noite e dia se tornaram o meu pão (Sl 41,4). Que significa então: ‘Erguei-vos após terdes estado sentados?’ Não vos exalteis, se não tiverdes sido humilhados. Muitos, de fato, querem erguer-se antes de terem estado sentados; querem parecer justos, antes de se confessarem pecadores”.
Portanto, não estamos distantes do intento penitencial do início dos propósitos da reflexão. Destarte, o bonito poema de Santo Agostinho nos lembra: “Quero recordar as minhas torpezas passadas, as corrupções de minha alma, não porque as ame, ao contrário, para te amar, ó Deus. É por amor do teu amor que retorno ao passado, percorrendo os antigos caminhos dos meus graves erros. A recordação é amarga, mas espero sentir tua doçura, doçura que não engana, feliz e segura, e quero recompor minha unidade depois dos dilaceramentos que sofri quando me perdi em tantas bagatelas, ao afastar-me de tua Unidade”.
Se Davi tivesse conhecido o pensamento contrito de Santo Agostinho, com certeza, teria aprovado a disposição da alma que se abre, penitencialmente, ao perdão divino, cuja experiência de gratuidade, ele foi constrangido a fazer. No fundo, isso revela que todos os homens são iguais, independentemente do momento histórico em que eles aparecem sobre o horizonte da terra. Alguns séculos são mais sombrios do que outros. As possibilidades se multiplicam no avanço e desenvolvimento das ciências. No entanto, suas angústias e sofrimentos, suas desilusões e temores, seus medos e esperanças, tudo revela o terreno seco e desafiador de sua vontade de plenitude.
De modo consequente, o fato é que também nós experimentamos os mesmos anelos de realização, e, depois de nós, as gerações futuras, talvez, mais abastadas materialmente, sentirão as mesmas necessidades do espírito, que não repousará tranquilo enquanto durarem os dias empoeirados de sua existência pelas encruzilhadas do mundo. Somente Deus é a fonte que os saciará, definitivamente, em todas as suas dimensões mais íntimas de felicidade verdadeira, autêntica.