quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

15 anos de Sacerdócio: Nos albores do minstério sacertotal

15 Anos de Sacerdócio  
Nos albores do Ministério Sacerdotal


Ainda dentro da comemoração dos meus 15 anos de exercício do Ministério Sacerdotal, segunda-feira próxima, dia 21 de janeiro, também gostaria de aproveitar a ocasião, para agradecer a Deus a possibilidade que me concedeu para poder amadurecer e tornar mais fecundo o ministério e o serviço à Igreja de Cristo em todos os lugares por onde passei ao longo desses quinze anos: Rosário do Catete, Carmópolis, General Maynard – meus primeiros amores sacerdotais – a Coordenação Pastoral Catequética na Arquidiocese e na equipe do Regional Nordeste III, a Reitoria do Seminário Menor “S. C. de Jesus”, o Economato e a Vice-reitoria do Seminário Maior “Nossa Senhora da Conceição”, da Província Eclesiástica de Aracaju e a Paróquia “Jesus Ressuscitado”, no Bairro Jardins. Em tudo, pudemos constatar que o Senhor, realmente, não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos. De fato, é a escola da fé e do abandono às moções do Espírito Santo que nos elege, chama e escolhe em Cristo, que nos permite jogar-nos na aventura vocacional da Igreja Santa do Senhor. Foi, pois, assim, que nos albores das primícias sacerdotais, o Senhor me concedeu a oportunidade de ganhar a amizade de tantos amigos e benfeitores.

Mais tarde, em 2002, o Senhor permitiu que eu me dirigisse à Cidade Eterna, Roma, a fim de aprofundar os estudos no intento de melhor e mais preparado poder servir à Igreja particular de Aracaju. Foi um tempo de ricas e inesquecíveis experiências pelo Velho Continente, morando no Pontifício Colégio Pio Brasileiro, nas proximidades do coração da Igreja de Cristo, que do Vaticano palpita e faz jorrar o sangue da energia evangelizadora para o mundo inteiro. Ali, podíamos ver o Santo Padre, o Papa, sempre que possível. As aulas na Pontifícia Universidade Gregoriana, os amigos vindos do mundo inteiro, as inquietações com as exigências dos estudos, o aprendizado de novas línguas, os desafios de viver num universo cultural tão cosmopolita e diversificado pelo mosaico pluricultural de tantas civilizações presentes no turismo da cidade, os finais de semana em Orbetello, as férias na Alemanha pelas terras de Beethoven, Martinho Lutero, Santa Edith Stein, Sebastian Bach, o divertimento com o cinema mudo de Bonn, os passeios ao longo do rio Reno, o primeiro contato com o Continente Africano pelas vielas do Togo e do Benin, a excursão pela terra de Cristo, a Palestina, do Norte ao Sul, o vislumbre do banho no Mar Vermelho e no Mar Morto, as noites no deserto do Neguev, o frescor das planícies verdes da Galileia, do Lago de Tiberíades, o Monte Tabor e o monte das Oliveiras, os dias na Cidade de Sião, Jerusalém, visitando os lugares santos, o Monte Calvário e o Santo Sepulcro, o Cenáculo de Jerusalém e o muro das Lamentações, a visita aos túmulos dos patriarcas e matriarcas do Povo de Israel, na gruta de Macpela, nas terras de Hebron, o esplendor do monte Hermão, nas fronteiras do Líbano, a ida à Cesareia Marítima, onde São Paulo ficou preso antes de viajar para Roma e à Cesareia de Filipe, o ambiente de suspeita terrorista vividos em Tel-aviv, as cidades de Paris e Londres, Greenwich, “onde começa o tempo” [“The time begins here!”], a estada em San José de Costa Rica, o agito das águas revoltas do Oceano Pacífico, enfim, tudo isso e muito mais reverberam em minha alma a grandeza dos caminhos do Senhor que me permitiu ir mais longe do que eu jamais teria ousado poder imaginar.

Numa palavra, em minha vida vocacional e sacerdotal tudo é fruto da gratuidade operosa do meu Senhor e meu Deus, que me chamou antes mesmo de me modelar no ventre de minha mãe, para usar a expressão do profeta Jeremias (Jr 1,5). Tudo em minha vida é graça do Senhor, embora eu tenha consciência de não responder condignamente à riqueza transbordante de seus dons divinos. Infelizmente, os limites vulneráveis da vontade muitas vezes condicionam o seguimento radical das pegadas do Senhor. Mas é preciso que nos esforcemos com convicção e maturidade espiritual no Senhor. Que ele continue derramando sobre nós as delicadezas de sua graça.

Durante esse tempo, muitas pessoas, entre parentes e amigos, desapareceram do horizonte de minha existência. Gostaria de poder declinar o nome de cada uma delas no rol de minhas reminiscências, para manifestar gratidão e reconhecimento a todas elas durante o tempo da minha formação, mas, sobretudo, da minha vida sacerdotal. No entanto, se eu pudesse falar-lhes, pessoalmente, dir-lhes-ia apenas que todas elas fazem parte da galeria da saudade presente nas paredes internas do meu coração.

Sei que a dinâmica da vida e do tempo também levou alguns amigos para longe de mim, por circunstâncias múltiplas e, às vezes, alheias à nossa vontade. No tempo da saudade interior, eles continuam habitando meu coração pela recordação dos bons momentos vividos no calor humano do afeto de sua companhia. Como afirmavam os gregos, a amizade ainda é o maior bem da vida. Se o inverno for intenso, não congela a fortaleza de seus sentimentos; se a primavera for estéril, não mata a resistência do perfume de suas flores; se o verão for escaldante, não sufoca a brisa suave de suas noites densas, escuras; e se o outono for indiferente, não destrói a leveza de seu encanto.

Não poderia concluir sem fazer menção ao dia da minha Ordenação Presbiteral, em Carira, no dia 21 de janeiro de 1998, há exatos 15 anos. Que momento pleno de graça e verdade pela misericórdia do Senhor que me quis sacerdote de sua Igreja, segundo a Ordem do Rei Melquisedec, a mais antiga ordem que existe! Por tudo, enfim, mais uma vez, repito: Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! A Ele o tempo e a eternidade pelos séculos dos séculos sem fim. Amém.
  
 



O Sacerdote age na Pessoa de Cristo


O Sacerdote age na Pessoa de Cristo


O mistério que envolve a figura do sacerdote é uma realidade que ultrapassa todas as dimensões de sua humanidade. Não por acaso, ele age “in persona Christi” – na Pessoa de Cristo – segundo a expressão do Concílio Vaticano II. O sacerdote oferece todo o seu ser a Cristo, a fim de que a missão evangelizadora e santificadora da Igreja continue pelo tempo afora e não se perca pelos caminhos do mundo.

Na verdade, trata-se de uma tarefa confiada por Cristo à sua Igreja e aos seus ministros, que nada mais são do que “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1Cor 4,1). O texto latino fala de “dispensadores” [“dispensatores”], para significar, mais dos que administradores, alguém que se coloca a servido de Deus como instrumento por meio do qual se realiza e opera a graça divina sobre os homens. De fato, o sacerdote não se serve a si mesmo. Com efeito, perdoando os pecados de seus irmãos na carne e no sangue, por meio do Sacramento da Penitência, ele não pode usufruir de tal benefício interior senão recorrendo a outro sacerdote que lhe absolva os pecados. Já o vocabulário, originalmente, grego, apresenta-nos um termo curioso: “ecônomos dos mistérios de Deus”.
O termo “oikonomos” [“administrador da casa”] aparece em todo o Novo Testamento, apenas dez vezes. Segundo O. Michel, entre os muitos significados atribuídos à elasticidade do pensamento grego, especificamente quanto ao conteúdo novo testamentário, está o fato de que o Apóstolo usa o vocábulo no sentido translatício, isto é, metafórico, a fim de indicar a autoridade e o reconhecimento apostólico (1Cor 4,1s). Desse modo, tanto nessa passagem quanto em 1Cor 4,2, não se trata de precisar a posição social do “oikonomos”, pois, na verdade, ao administrador é confiado o tesouro do evangelho, que transmite o pleno conhecimento do plano salvífico de Deus. Por conseguinte, a expressão “servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” recorda Mt 13,11: “Porque a todos foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus”.

Enquanto em 1Cor 4,1 temos a proximidade entre “servos de Cristo” e “administradores dos mistérios de Deus”, em 1Cor 4,2, é colocado em relevo a primeira qualidade exigida para um ecônomo, qual seja, a fidelidade (Lc 12,42; 16,10; Mt 25,21.23). Na Carta a Tito, encontramos o termo relacionado ao ministério dos bispos, porquanto “é preciso que sendo ecônomo das coisas de Deus, o epíscopo seja irrepreensível, não presunçoso, nem irascível, nem beberrão ou violento, nem ávido de lucro desonesto, mas seja hospitaleiro, bondoso, ponderado, justo, piedoso, disciplinado, de tal modo fiel na exposição da palavra que seja capaz de ensinar a sã doutrina como também de refutar os que a contradizem” (Tt 1,7-9). No texto acima citado, ao Apóstolo solicita a Tito que qualquer pessoa que tenha assumido uma tarefa eclesiástica viva de modo adequado aos mistérios do evangelho.




quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

15 Anos de Ministério Sacerdotal

15 Anos de Ministério Sacerdotal 

 

No próximo dia 21 de janeiro, estarei completando 15 anos de exercício de Ministério Sacerdotal. De lá para cá, Deus me concedeu a possibilidade de aprofundar sempre mais a riqueza do dom vocacional por meio de muitas experiências que gostaria de partilhar com meus queridos leitores. Como havia anunciado aqui nesse espaço jornalístico, publicarei o meu oitavo livro intitulado: “Pérolas de Espiritualidade Paulinas”. Depois formularei o convite oficial, mas quem desejar já pode agendar-se para a Missa de Ação de Graças, às 19h30, na Igreja do Bem-aventurado José de Anchieta, no Conjunto Augusto Franco. O texto a seguir foi elaborado com base na mensagem final do livro que publicarei na ocasião. 

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo! Não encontrei outra expressão melhor para iniciar a “mensagem final” dessa obra comemorativa. Sim, louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo, por ter-me concedido a graça de poder chegar aos quinze anos – Bodas de Cristal – de exercício do Ministério Sacerdotal, mesmo que nunca tenha sido Pároco. Poucos sacerdotes têm o privilégio de poder fazer tal afirmação. Essa é a minha história. Louvado seja Deus! 

Como se poderá perceber ao longo das páginas do livro “Pérolas de Espiritualidade Paulina”, por meio dos acenos que faço à figura de São Paulo e ao conteúdo espiritual e evangelizador de seus textos, trata-se do esforço de ensaio sobre a magnitude de algumas “pérolas de espiritualidade” encerradas em suas missivas pastorais, com o intuito de animar, exortar, chamar a atenção, evangelizar e, sobretudo, apresentar Jesus Cristo como o único Salvador de todos, por meio de quem podemos obter o dom supremo da redenção pela efusão de seu sangue. A grandeza de sua teologia e cristologia é inesgotável. Cada expressão poderia encher páginas e mais páginas de reflexão e amadurecimento quanto ao conhecimento de Cristo. Porém, o mais importante dentro do contexto de sua apresentação é a abertura que o leitor deve ter em relação à novidade de Cristo, Morto e Ressuscitado, o único capaz de fazer “novas todas as coisas” (Ap 21,5). De fato, essa é a sua intenção pedagógica e doutrinal mais emergente e comprometedora. Ninguém deveria permanecer indiferente ao seu apelo de conversão ao Senhor, qual exigência imperativa do acolhimento à pessoa de Cristo e à profissão de fé no redentor de nossa humanidade pecadora. Por isso que é motivo de grande alegria e comoção interior, poder celebrar o dia 21 de janeiro de 2013 dentro do Ano da Fé – de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013, Festa de Cristo Rei – que o Santo Padre, o amabilíssimo Papa Bento XVI, proclamou, a fim de que todos os cristãos católicos possam “tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro” (Porta Fidei, n. 15). 

A palavra do Papa focaliza, também, de maneira enfática e concreta, a urgência do testemunho cristão. Na verdade, “aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir a mente e o coração de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim” (Porta Fidei, n. 15). De alguma maneira misteriosa, também o nosso coração deve deixar transbordar o testemunho sincero do Senhor em nossa vida, mesmo se, para isso, não devamos negar nem esconder a displicência e a luta do combate interior pelo empenho de conversão, por causa das fragilidades vulneráveis da vontade humana diante dos apelos do Senhor. Como diria o próprio São Paulo, bordejando inseguro pelas águas impetuosas de sua humanidade, “Eu sei que o bem não mora em mim, isto é, na minha carne. Pois o querer o bem está ao meu alcance, não, porém o praticá-lo. Com efeito, não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, já não sou eu que ajo, e sim o pecado que mora em mim” (Rm 7,18-20). Claro que com o final de tal afirmação, São Paulo não está querendo negar, sob nenhuma hipótese, a responsabilidade pessoal do homem diante da prática do mal, conforme acena uma nota da Bíblia de Jerusalém. Ou seja, as naturais inclinações para o mal, marcadas pela concupiscência, não podem dispensar o homem de sua condição de liberdade e alvedrio quanto aos condicionamentos de suas escolhas. É quando o velho Adão salta dentro de nós. Portanto, da consciência da realidade de cada decisão pessoal, nasce, de igual maneira, a responsabilidade moral pelas suas consequências. Todavia, é especialmente a gratuidade do Senhor quem nos conduz pelo caminho da conversão e da liberdade interior para o assentimento de seu desejo de santidade para todos. Com a proclamação do Ano da Fé, o Papa nos convida a sintonizar o botão da fé em Cristo, núcleo da pregação e motivação da própria fé. Que possamos impor-nos ao desafio das solicitações de Cristo e de sua Igreja, de modo que, como ainda pede o Santo Padre, possamos “descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé [...]. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria” (Porta Fidei, n. 7). 

Para mim, é uma grande graça poder comemorar os 15 anos de exercício do Ministério Sacerdotal dentro de um ano – o Ano da Fé – tão importante na vida de todos os cristãos, especialmente, procurando “ser” mais do que “fazer” coisas, segundo uma afirmação do então Cardeal Joseph Ratzinger, na catedral de Freising, em 1978. Não nos é exigido somente “o fazer”, mas antes “o ser”, intimamente relacionado com Cristo em seus mistérios. Desse modo, afirmava o Cardeal Ratzinger, apenas nessa profundidade por meio da qual se deixa tocar pessoalmente, e pela qual se dispõe a colocar-se a si mesmo em jogo, é possível corresponder ao dom do Senhor. Consciente dos desafios que vivemos nos tempos pós-modernos, o futuro Papa já nos advertia sobre os perigos de uma vida superficial e medíocre, inclusive, para os sacerdotes da Igreja de Cristo. Não somos “funcionários de Deus”, mas nos colocamos à disposição do mistério que se realiza na Igreja e no mundo por meio de nossa generosidade e doação.




Dom Vocacional


Dom Vocacional


No dia 21 de janeiro de 2013, estarei completando 15 anos de Ministério Sacerdotal. Assim, gostaria de – nesse tempo de gratidão a tantas pessoas que marcaram minha vida, sobretudo, da presença divina que me escolheu por pura misericórdia e gratuidade – refletir com meus leitores sobre a importância da figura do sacerdote na vida dos cristãos. Tal reflexão, farei em vários textos que me possibilitem a oportunidade de dialogar e esclarecer alguns pontos chaves aos meus leitores sobre a grandeza do dom vocacional.

Infelizmente, pouco se fala sobre o assunto, especialmente, porque muitos pensam ser coisa somente da Igreja, quando, na verdade, muitos momentos da vida social, seja privada ou pública, são marcados pela presença de um sacerdote. Por acaso, não é ele que oferece a Deus o santo sacrifício da Missa, “por si e por todos os seus”, como reza o Missal Romano? Não é ele quem batiza os seus filhos e lhes administra todos os Sacramentos da Igreja? Às vezes, impressiona-me o cinismo de alguns intelectuais famosos, que vivem como ateus, agnósticos, descrentes, religiosamente, desorientados, negam claramente a existência de Deus, por ser incompatível com a dialética entre razão e fé, e quando pressentem o vento frio da morte – claro que não são todos! – lembram-se logo do padre, a fim de que lhes dê a absolvição e, consequentemente, garanta-lhes, quem sabe, um bom lugar no purgatório.  E quando morre, ainda quer missa de “corpo presente” e de sétimo dia. O choque real da morte condiciona e até redimensiona os valores errados que damos à radicalidade mais inerente ao medo que temos de ir para o inferno. Isso também faz parte da natureza humana. Mas não é o caso de aprofundarmos o tema aqui. Lembro-me de um amigo Cardeal que dizia a um sacerdote que rezava pelas pessoas que haviam se perdido na vida e morreram sem os favores da graça divina, e são tantas, que escolheram por convicção renegar a fé e fechar-se à necessidade do divino durante o pobre tempo de sua vida na terra. Interpelava, pois, o cardeal: “Não reze, não! No purgatório, elas não estão mais, e se foram para o inferno, ninguém mais pode tirá-las de lá”. Tanto o descrente quanto o fiel deveriam viver com serenidade interior as apostas de suas convicções. Mas não é isso que vemos e lemos em reflexões ousadas e provocativas do desabafo de mentores de ideologias infrutíferas e contraproducentes no terreno livre da argumentação.

Talvez, seja justamente isso o que eu esteja fazendo aqui! No entanto, um pouco de autocrítica sempre nos faz bem. Ninguém é dono da verdade a ponto de querer impor seus princípios aos outros. A diversidade do universo cultural apologético é bastante enriquecedora, contanto que saibamos discernir bem a luz das trevas no caos das altercações literárias. Por isso que não nos limitamos somente a um estilo literário ou de conteúdo e leitura, mas também nos aventuramos pelos caracóis, quase inextrincáveis, da curiosidade e percepção de cada mente pensante. Mas vamos ao objetivo maior de nossa meditação.



Pax in hominibus bonae voluntatis


Pax in hominibus bonae Voluntatis


“Paz na terra aos homens de boa vontade!” (Lc 2,14). Que bom poder iniciar o ano de 2013 falando de paz. Paz para todos os meus queridos e assíduos leitores, para todas as pessoas que compõem o quadro de trabalho desse distinto Jornal da Cidade, no qual escrevo, semanalmente, se não me engano, desde fevereiro de 2010, quando publiquei o primeiro texto na coluna que recebe o conteúdo de meus textos. Na verdade, escrever exige muita criatividade, leitura e inspiração. Tudo isso sopra, de modo permanente, sobre o veio poético, prosaico ou sobre qualquer outro estilo literário do escritor. São ideias, pensamentos e percepções que invadem o universo interior do artista das letras. Escrever também é arte. Não por acaso, todos os jornais e livros do mundo são feitos de ramificações elaboradas no berço elástico da inteligência que se externa nos códigos da comunicação. Assim, espero e desejo que, ainda por muitos outros anos, eu possa continuar brindando os leitores com os artifícios de meus apontamentos semanais, o que agradeço, de maneira incomensurável, à disposição dos diretores do Jornal da Cidade, que me confiaram tamanha responsabilidade.

Em relação à paz, desejamos paz a todos os nossos irmãos e amigos, paz nas famílias, paz nas ruas, paz nas repartições públicas, paz no trânsito, paz nos relacionamentos, paz para as guerras, enfim, paz nos corações. Que 2013 seja, realmente, marcado pelo nosso esforço pessoal e coletivo, a fim de que as agressões de todo tipo sejam diminuídas, de modo que a paz cresça em todos os lugares da terra. Numa palavra: que nos tornemos “obreiros da paz”, conforme o desejo do Santo Padre, o Papa Bento XVI, na sua mensagem de início de ano para 2013. O Papa volta a temas essenciais para a vida da sociedade num mundo globalizado, enfatizando, especialmente problemas graves que afetam, não apenas o bem-estar comum de todos os homens, mas também ameaçam as seguranças devidas ao seu próprio futuro e estabilidade geopolítica nas relações íntimas entre as nações. Portanto, no amplo contexto de suas intenções quanto ao favorecimento da paz mundial, ele fala do aborto e da objeção de consciência, da família, da eutanásia, do matrimônio entre um homem e uma mulher, da liberdade religiosa e do reverso grave de sua intolerância, do direito ao trabalho, que fomenta a dignidade humana, da necessidade de uma nova visão relacionada à economia, da crise financeira e alimentar.

Tudo isso a cima referido, motivado pelo desejo que o Santo Padre tem, sobretudo, para que os lideres mundiais se comprometam mais com as vicissitudes transformadoras de uma sociedade em desequilíbrio, porque distante de Deus, o único capaz de reestabelecer os vínculos dos desníveis sociais que envolvem todos os tipos de relacionamentos. Daí a afirmação do Romano Pontífice: “A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris – cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses – a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça. A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício”. E ainda: “A realização da paz depende, sobretudo, do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e animadas por um ‘nós’ comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros coparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir”.

Por conseguinte, a responsabilidade da paz que, segundo o Papa, não é um sonho nem uma utopia, mas uma possibilidade, diz respeitos a todos os homens de boa vontade que reconhecem o valor da justiça, do direito, da fraternidade universal, enfim, do perdão. Por isso que o verdadeiro “obreiro da paz”, como exorta o Papa Bento XVI, “é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade”; “O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento econômico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos”; “Concretamente na atividade econômica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a atividade econômica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos”; “os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objetivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua atividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e econômico”; “os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social”.

Finalmente, o Santo Padre conclui asseverando que “há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem co­mum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será ‘dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar’ de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf. Mt 5, 21-48). É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança”.

Não obstante os inúmeros desafios que enfrentamos todos os dias na escala de depreciação e desvalorização da vida humana, por meio das espirais de violências que a agridem, implacavelmente, não podemos desaminar diante do sonho, talvez, utópico da concreta realização da paz entre nós. Basta que cada um faça sua parte onde quer que se encontre ao lado de seus pares. A paz autêntica é fruto da generosidade, do desprendimento de si e da abertura aos irmãos.