sexta-feira, 31 de maio de 2019

Dom Luciano Duarte





Dom Luciano Duarte
e a ousadia dos gênios




A admiração que sempre nutri por Dom Luciano Duarte (1925-2018) nasceu quanto eu ainda era jovem vocacionado, e, depois, seminarista, no final da década dos anos oitenta, participando dos encontros vocacionais no Seminário Menor de Aracaju. Como esquecer aquele tempo e suas visitas frequentes aos seminaristas? Pelo menos, para mim, foi um tempo de desejo ardente de florescimento multicultural, ouvindo e aclamando, com tantos encômios dignos de sua autoridade pessoal e eclesiástica, o então Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju. O fulgor de sua inteligência era, realmente, contagiante. Portanto, o que trago aqui outra coisa não é, senão, um breve memorandum sobre o mítico de multifacetada personalidade que ficou conhecido no meio intelectual de Sergipe e na própria Igreja católica simplesmente como Dom Luciano Duarte.
Grande visionário, estudioso, intelectual, de profundo e rico veio oratório e dialético, versátil na exposição vocabular de seu conhecimento linguístico. O homem da palavra fácil, da réplica espontânea, no belo estilo polido da finesse dos grandes espíritos argutos, sábios, mas também capaz de ajudar os menos afeitos ao rico patrimônio do saber, da “sabedoria acumulada” de que fora dotado pela própria natureza de sua insistência na formação do caráter e da individualidade. Mas nada aconteceu por acaso, no sentido de que ele não tenha se esforçado para atingir os páramos mais elevados da grandeza que a envergadura de sua genialidade poderia lhe favorecer. Com efeito, a intensidade da educação que recebemos pode tornar-se uma referência que determina, negativa ou positivamente, a vida de quem se abre ou se fecha aos dotes cognoscitivos dos próprios recursos que brotam dentro da claridade dos pensadores.

Grande estudioso, insaciável na ânsia pelo saber, de raciocínio investigador, extremamente inquieto e saliente nos limites das aquisições já adquiridas, sempre desejoso de ir mais além, alfinetado pelas respostas prontas que trazia sob os riscos ou traços da pena literária, lúcido até onde lhe permitiram os rasgos do brilhantismo intelectual, Dom Luciano Duarte sabia se posicionar, de modo categórico e certeiro dentro dos vários ambientes em que se encontrava, sob qualquer tema ou assunto, mesmo não agradando nem convencendo, mas estando convencido de suas certezas, de suas convicções pessoais, fundamentadas no fértil solo do conhecimento erudito de que se servia para expor seus argumentos.
Embora o caráter e a personalidade de uma pessoa possam crescer e amadurecer no tempo cronológico de sua formação educacional ou acadêmica, levando em consideração outros efeitos da conceituação antropológica do indivíduo – sua infância e adolescência, o meio onde foi criado e educado, o acesso que pôde ter às letras e aos livros, a oportunidade de leituras e elaboração do pensamento etc. – o fato é que algumas mentes privilegiadas podem se destacar, desde cedo, mediante o mistério inebriante da acuidade espiritual e intelectiva de suas percepções mais tenras. Penso que isso tenha acontecido com o homenageado, Dom Luciano Duarte. Gênios brincam como gênios, mesmo que o alcance de sua criatividade seja traído pela não concretude de seus anseios na vida futura. Aliás, quem pode garantir a vida futura? Ouvi um dia, numa pregação da quinta-feira santa, na missa do lava-pés, Dom Luciano dizer que quase morreu quando criança, muito doente. Mas conseguiu se tratar e sobreviver, e não apenas não se tornou mais um número nas estatísticas do governo federal, aumentando o índice da mortalidade infantil no país, mas, sobretudo – dizia ele – havia se tornado alguém importante e influente no seio da sociedade sergipana e alhures. Na verdade, ele se referia, no contexto da celebração, ao modo como, muitas vezes, o Senhor Jesus poderia nos lavar os pés, servindo-se daquela maneira.
Nos vários “recreios culturais”, que tive e tenho com a amiga Ana Maria Medina, da Academia Sergipana de Leras, ela me contou que, num episódio narrado em seu diário seminarístico, consta que, um dia, numa brincadeira de menino que queria ser “gente grande”, no sentido da importância de uma personalidade que se destaca pelos seus talentos, numa espécie de peça de teatro, que ele escreveu aos onze anos, ele se colocara como aquele a quem todos deveriam obedecer, isto é, a “Dom Luciano Duarte”. Certamente, adormecida nas dobras da alma pueril do menino levado, inteligente, jazia o tom brincalhão de quem, um dia, se tornaria, realmente, importante e influente. Esse fato, narrado por ele mesmo, fez-me acordar dentro do espírito algo que li, por sua influência, sobre Geovanni Papini, um dos tantos convertidos do século passado, entre os quais podemos destacar também Maurice Blondel e Léon Bloy, sobre os quais ele falava com largueza de conhecimento e riqueza de detalhes da vida dos dois. Geovanni Papini, que dizia nunca ter sido criança, sisudo na fisionomia do rosto, já era tratado e apelidado como “velho”, aos sete anos de idade. Não brincava como as outras crianças de sua contemporaneidade, mas, penetrado por uma inteligência brilhante e astuciosa, rivalizava com o próprio Deus em peças de teatro que imaginava, querendo concretizar o acontecimento bíblico de quando a serpente disse a Adão e Eva que eles seriam como o próprio Deus. Assim sãos os gênios e sua ousadia intelectual, tempestivamente provocados por suas intuições mais profundas. Às vezes, tento fantasiar em minhas especulações a ousadia da genialidade de meninos assim, abertos aos ventos do espírito, com as asas da inteligência volitando sobre os encantos de suas criações inocentes. Devaneios ou sede de autoafirmação mesmo? Consciência plena dos caminhos de suas buscas ou enlevos francos de sua esperteza em arrebatamentos idealistas? Não sei! Mas tenho certeza de que as sementes dos grandes sonhos plantados na alma dos pequenos gênios podem ser sinais de virtude, de coragem ou de desejo de realizações oportunas. A vida é o caminho dessas vitórias e conquistas, mas os limites são os desafios impostos pela superação dos grandes ideais e aspirações do espírito humano.
O tempo é o senhor de todos os sonhos! Para os ideais daquele menino também. Levantando-se do chão pelo crescimento da força física, mas também intelectual, seu caminho estaria marcado pela lucidez com que, sempre, se embrenhou pelas florestas altas do saber e do conhecimento, percorrendo o mundo pela construção acadêmica que a Igreja lhe abriu durante a formação, porém ampliando, cada vez mais, o horizonte das inquietações que lhe perturbavam o espírito. Não se deteve no conhecimento das coisas da Igreja, apenas, mas igualmente se deixou desassossegar pela conjuntura mundial das ideologias que, de um modo ou de outro, espezinhou e vilipendiou a dignidade humana em conflitos revolucionários de governos caudilhistas e déspotas. Ele, que costumava citar o pensamento de um pastor inglês, metodista, John Wesley (1703-1791), que dizia que, ao abrir a janela de sua casa pela manhã, contemplava o mundo inteiro como se fosse sua paróquia, também saiu das sacristias e elevou seu pensamento e suas preocupações sobre os telhados do mundo em decomposição moral, deteriorando-se nos seus valores mais prementes.
Com efeito, a alma dos gigantes não se contenta com o mundo pequeno de suas percepções, mas com a grandeza e a elasticidade de suas inquietações mais profundas. Não quis somente ser o padre ou pastor, especializado nas coisas da Teologia e da Igreja, mas também se abriu para o mundo, fazendo seu doutorado na Sorbonne de Paris, aos pés de grandes filósofos e amigos como Jean Guitton e Paul Ricoeur, também egrégios inspiradores de grandes ideais pela elevação da humanidade.
Pe. Gilvan Rodrigues, Mestre em Teologia Bíblia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, e Escritor.
  

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Santos da nossa história..


SANTOS DA NOSSA HISTÓRIA
SANTOS DA NOSSA VIDA


Falando sobre a santidade na vidas das pessoas, Bento XVI escreveu o seguinte: “em todas as épocas da história da Igreja, em qualquer canto na geografia do mundo, os santos pertencem a todas as idades e a qualquer estado de vida, são rostos concretos de todos os povos, línguas e nações. [...] Acrescento que, para mim, não só alguns grandes santos, que amo e que conheço bem, servem como ‘placas de sinalização’, mas principalmente os santos simples, ou seja, as pessoas boas que vejo na minha vida e que nunca serão canonizadas. São pessoas normais, por assim dizer, sem heroísmo visível, mas em quem, na sua bondade de todos os dias, vejo a verdade da fé. Essa bondade, que amadureceram na fé da Igreja, é para mim, a mais garantida apologia do cristianismo, e o sinal de onde está a verdade”.
Mesmo sem possuir a clarividência do Papa Emérito nem a profundidade de suas intuições, em proporções menores, eu também posso reconhecer a veracidade de suas palavras em pessoas que passaram por minha vida ou ainda estão, aqui, comigo, na transitoriedade do tempo que nos encaminha para a eternidade. João Paulo II, com quem estive três vezes; Madre Tereza de Calcutá e Irmã Dulce, para citar alguns exemplos perto de nós, e que já celebraram a sua Páscoa definitiva, são testemunhos de uma vida santa. Mas há também aqueles santos que, na afirmação de Jacques Maritain, “nunca serão canonizados”.
É, pois, dentro do contexto desse pensamento que eu gostaria de recordar e fazer memória da Irmã Maria Alice Portela (1928-1999), que nasceu e Portugal, viveu muitos anos em Paris, como superiora geral de sua congregação – a Congregação da Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhor – mas também dedicou tempo de sua existência em Itabaiana, Rio das Pedras e em Jequié, na Bahia. Sei que com essa publicação muitos amigos se lembrarão dela. No mundo globalizado e moderno, ela era de um espírito cativante e empreendedor no âmbito das vocações que devia cultivar para o bem da Igreja e dos consagrados. Era um testemunho de serviço e de alegria em meio a todos com quem convivia. Não por acaso, o livro que escrevemos sobre ela – uma obra a várias mãos, se intitula, numa singela homenagem “...passou sorrindo...”. Foi publicando em português e francês. Há um dramático relato meu, justamente, fazendo referência ao dia 14 de mais de 1999, dia em que fui me despedir dela, sempre sorridente, porque ela deveria partir para sua terra natal, a fim de levar adiante o tratamento de saúde. Também porque afirmou ter medo de morrer fora de sua pátria. Naquele dia, depois da despedida, no Rio das Pedras, viajando para Salvador, eu capotei o carro, num acidente. Fui obrigado a retornar, ferido, para o Hospital, de modo que, na segunda-feira seguinte, pude ir ao aeroporto para aquele instante de “adeus”.
Vinte anos se passaram, e eu conservo ainda o frescor de sua personalidade, sofrendo no corpo e no espírito, mas sorridente também. Em agosto daquele ano, eu fora hospedado na casa de sua congregação em Paris, vindo da Itália, onde participei de um curso de formação religiosa. No dia 24 do mesmo mês, dia em que deixei a “cidade Luz”, falei com ela por telefone. Aliás, chorei mais do que falei. Ela, muito doente, simplesmente, me disse: “Padre, quando chegar ao Brasil, mande notícias, mas não espere mais notícias minhas...”. Depois de tantos encontros que tivemos ao longo de mais de dez anos, aquele foi nosso último diálogo, e ela faleceu no Porto, no dia 2 de novembro de 1999. Nunca a esqueci e sempre trago comigo em minhas orações. Tenho certeza de que ela também vive na memória de muitos amigos e admiradores. Penso que seu pensamento traduz o sentido profundo também de sua vida, de seu testemunho e de sua existência no meio de nós: “Que através de nosso testemunho de vida fraterna vivida no Amor e na Fé profunda, possamos dar muito amor a todos aqueles que nos rodeiam e que têm necessidade de nós. Que possamos levar Esperança àqueles que a vida faz sofrer e para quem ela não tem sentido; muita alegria àqueles que a tristeza e o sofrimento impedem de viver”. De fato, onde a Ir. Maria Alice chegava levava consigo luz e esperança aos circundantes.
Que a contemplação da luz divina no céu seja sua mais digna recompensa por tanta bondade semeada no nosso caminho, na estradas de todos que tiveram o privilégio de encontrá-la pelas estradas da vida. Descanse na paz do Senhor, Irmã Maria Alice Portela.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Democracia ou demonocracia?


DEMOCRACIA OU DEMONOCRACIA?


Um silêncio estranho ronda a praça da matriz da Igreja Santo Antonio e almas de Itabaiana-SE. Alguém provocou o Ministério Público, e ele fez silenciarem os sinos que anunciam um sinal de Deus no meio da comunidade. Não importa se crente ou não, se ateia ou não, se pagã ou não. Mas a voz se faz ouvir em todos os cantos da cidade. Há séculos e décadas, os sinos de uma igreja e, depois mais recentemente com o avanço moderno da tecnologia, também o serviço de som anunciavam, de modo mais claro, um sinal da presença divina.
Quem ainda não se lembra de quando criança como eram preciosos e edificantes os hinos religiosos que embalavam os sonhos e as esperanças da sociedade em conflito, na luta pela sobrevivência. Os sinos chamam e indicam o caminha da igreja, do encontro e da comunhão com Deus; recordam o falecimento de um amigo na cidade, o instante de seu enterro, e elevam o espírito dos pobres mortais à lembrança de que a vida humana é breve, passa num segundo. Uma das expressões mais clássicas da literatura inglesa ensinava: “Não perguntes: por quem tocam os sinos? Eles tocam por ti”. Existem categorias e toques de sinos que são especiais em momentos, sobretudo, fúnebres, quando nosso coração se entristece, e o badalo do campanário nos recorda também que a vida humana não se esgota, aqui, na poeira dessa terra. Os sinos indicam a direção ao alto, da elevação da alma a Deus, e permite à mísera criatura humana, não orgulhosa, mas humilde, recordar-se de que o seu dia também chegará.
Sei que a Igreja possui muitos inimigos, inclusive, dentro dela mesma. Há grupos fascistas, demoníacos, comunistas, eivados de ideologias satânicas, até mesmo com o patrocínio de alguns padres e bispos – disse “alguns” – que, para não terem o seu nome arranhado ou sua imagem desprestigiada, preferem ver ovelhas de seu rebanho caminhando para o inferno sob o olhar pacato e tranquilo de suas conveniências. Isso porque se furtam à Verdade do próprio Evangelho de Cristo, que propõe conversão e mudança de vida. Um amigo me disse que “a omissão é a trincheira dos covardes”. E eu concordo plenamente! Infelizmente é assim que muitas vezes nos comportamos para não cairmos na indisposição dos desafetos. Mas a omissão é um pecado gravíssimo, de modo que, a seu tempo, cada um pagará a sua conta. Li um cardeal muito admirado e amado pela igreja que dizia: “As contas que não pagarmos durante a vida, voltam todas no final [na hora da morte!]”. Que constatação tremenda. Mas Deus não dá em ninguém de corda!
A bem da verdade, o fato é que vivemos tempos difíceis e não me canso de repeti-lo! A humanidade está maluca, e os princípios que, há bem pouco tempo, pareciam reger a vida das pessoas, mesmo a vida daquelas que nunca professaram fé nenhuma, mas possuíam consciência de retidão, sentido de bondade e desejo de viver e fazer o bem. Mas hoje, o mundo está de pernas para o ar. Ninguém sabe mais ou tem noções básicas do que é certo ou errado, bem ou mal. O caos tem se instalado de dia para dia, com uma avalanche de desprezo e ridicularização pelo sagrado impressionante. Basta lembrar o que aconteceu recentemente no carnaval do RJ em que mostraram Cristo vencido pelo diabo. Mera hipocrisia e satanismo humano. Quando alguém imagina coisas desse tipo, com certeza, é porque ela já foi alcançada por satanás, mas, não, NOSSO SENHOR JESUS CRISTO! E dentro desse universo de desvarios e maluquices, está o problema da educação. Isso mesmo: EDUCAÇÃO! Se ela é considerada o berço da civilização, como conseguimos vislumbrar nos albores da gloriosa Grécia, por certo, já perdemos o rumo há muito tempo. Não por que os homens fossem perfeitos. Não! Não se trata disso. Mas porque nenhuma civilização sobreviveu sem ela. Até os anarquistas precisam dela para atingir seus objetivos, porquanto ela impõe disciplina, aprendizagem, crescimento etc. E olha que estou me referindo a princípios humanos, meramente humanos. Não me refiro a categorias meramente empíricas, afastadas dos ideais de progresso humano. Aludo àquilo que torna o indivíduo senhor de sua pessoa e de sua própria dignidade, lutando para ser, cada vez mais, melhor. Se não somos dotados nem de educação, como poderíamos pretender grimpar a páramos mais elevados? Podemos até pensar que somos educados, mas nos mostramos verdadeiros trogloditas pré-históricos.
Dizem que, no Brasil, vivemos uma democracia! Coisa linda e bonita para engambelar os distraídos. Temos uma Constituição Federal, a chamada Carta Magna do País, que está sendo carcomida pelo STF, os deuses, senhores acima do bem e do mal, que a interpretam como bem a intendem, contanto que a maioria decida o que é certo ou errado, hoje, e, amanhã, mudem de opinião. É isso democracia? Aprendi com um escritor católico que maioria não é sinônimo de verdade. Nunca foi, nunca o será! E ele explicava: se uma caixa com 100 laranjas contiver 90 podres, isso não significa que a maioria é melhor. Parece-me bastante lúcido. E pelo andar da carruagem, estamos longe de atingir o sentido pleno e correto do que chamamos “democracia”. Na minha opinião, vivemos uma “demonocracia”! Sim, pare que o poder emana do demônio e, não, do povo! Tantas aberrações já foram decididas com base no princípio constitucional! Quem for inteligente deve se lembrar de algumas. Enquanto isso, vamos reprimindo, a toque de caixas, a também constitucional “liberdade religiosa”.
“Liberdade religiosa”. Em nome da laicidade, estamos destroçando os valores cristãos, porque dizem que religião é uma coisa interna, da consciência de cada um, e, portanto, deve ser vivida escondido, no silêncio do coração ou da consciência. Mas outros tipos de aberrações, e de imoralidades, e de pornografias, e de comportamentos vis, de desrespeito à presença dos transeuntes – esses, sim – podem ser externados à luz do dia, nas praças das cidades, como prêmio da libertinagem individual e coletiva fomentada pelo Estado de Direito! Quanta hipocrisia! Maldita hipocrisia! Depois, o homem se transforma na besta irracional que devora seus iguais, e ninguém se pergunta por quê. Muitos que intrigam com a igreja e as religiões, vivem como ateus, à toa ou perdidos mesmo, mas quando estão morrendo ainda têm o cinismo de mandar chamar um padre, com medo de ter de atravessar os umbrais do inferno. É como diz Augusto Cury: “Às portas da morte, o ser humano recolhe [todas as] suas máscaras e fala sem disfarce”. Na hora da morte, os que pareciam corajosos na sua descrença, apelam para algum “deus”! E ainda querem missa de corpo presente, de preferência celebrada por um padre famoso, e de sétimo dia. Houve um filosofo francês que, não apenas mandou vir um padre, mas também pediu as credenciais para certificar-se de sua credibilidade.
Em uma cidade da Alemanha, no final de abril de 2019, agora, recentemente, uma grupo de católicos, entre os quais havia muitos padres, bispos, e inúmeros leigos, fizeram uma passeata pacífica, em defesa da vida, contra o aborto, em prol da família cristã e de seus valores. Uma cena tremendamente chocante, dantesca, assustadora! Esse grupo de fiéis católicos, passavam, serenamente, cantando, rezando, flanqueados por barreiras de policiais, que os defendiam dos gritos, das vaias e do desrespeito dos inimigos, que rosnavam como cães raivosos, tentando alcançar suas presas. Uma cena chocante e triste ao mesmo tempo! Como pode o mundo odiar tanto quem só deseja o bem? Os cristãos de verdade sabem a resposta, e tenho certeza de que estamos dispostos a voltar às catacumbas, como acontecia no início do cristianismo, nos três primeiros séculos de sua história. E é isso o que está acontecendo; é o que estamos vivendo! Acuados pela covardia do mundo, os cristãos, cada vez mais uma minoria, estão sendo empurrados para o esconderijo, para as catacumbas.
Lembro-me de um texto terrível, que o Papa Bento XVI escreveu, numa visão profundamente profética, sobre a perseguição crucial e violenta que, ao fio dos anos e dos séculos futuros, os cristãos irão sofrer. Que ninguém se engane: isso já começou! Estamos sentindo na pele. A fumaça de satanás confundido os homens no vendaval da imoralidade, do egoísmo, da indiferença religiosa, do ateísmo prático e doutrinário, do antiteísmo, de ideologias macabras e desconcertantes, que nos conduzem à mais completa obscuridade anticivilizatória. Pena que perdi aquele texto. Talvez, devesse perde-lo! Gostaria de fundamentá-lo melhor. Era, realmente, um texto assombroso, de um tempo sanguinário de perseguição religiosa radical, contra os discípulos de Cristo. Na sua visão, depois de imensos sacrifícios, de mortes e de martírios, de verdadeira purificação, a Igreja do Senhor, como sempre aconteceu após as tormentas levantadas pelo ódio do mundo, renasceria purificada, com um número bem reduzido, mas como expressão viva do Senhoria de Cristo, de cuja Igreja “as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela” (Mt 18,16-20). Não obstante tudo, essa também é a nossa fé, a fé dos cristãos e a sua irrenunciável esperança. O mundo moderno passará, com todas as suas prevaricações e desprezo pela Igreja do Senhor, mas o julgamento também é certo. (PGRS).