terça-feira, 23 de julho de 2013

O Papa Francisco e a JMJ


O Papa Francisco e a JMJ 




No final da Jornada Mundial de Juventude (JMJ), que aconteceu em Madri, em agosto de 2011, o então Papa Bento XVI assim se expressara: “Espero poder encontrar-vos daqui a dois anos, na próxima Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, Brasil! Até lá, rezemos uns pelos outros, dando testemunho da alegria que brota do viver enraizados e edificados em Cristo”. No dia 28 de fevereiro de 2013, o Sumo Pontífice, Bento XVI, renunciou ao Pontificado e abriu tempos novos para a Igreja de Cristo, com a eleição do Papa Francisco, que está no Brasil, justamente, para a JMJ, no Rio de Janeiro. Sendo um evento de proporções mundiais da Igreja Católica, o Papa não poderia deixar de estar presente à ocasião. Não importa o rosto com que Pedro se manifesta em suas feições humanas. O fato é que ele esteve presente em todas as edições da JMJ. João Paulo II, Bento XVI, Francisco, cada um ao seu tempo e com as características próprias de sua cultura e personalidade, é o sucessor de Pedro, o chefe visível da Igreja do Senhor, o guardião da unidade dos discípulos de Cristo. 


Eleito no dia 13 de março de 2013, o Papa Francisco, natural da Argentina, de Buenos Aires, faz a sua primeira visita pastoral ao Brasil. Até nisso, ganhamos para os portenhos! Pena que ele chegue entre nós num momento em vivemos conjunturas de indignação e vergonha, com tanta arruaça e depredação perpetrada pelos delinquentes de plantão, que destroem bens públicos e privados. São fatos e fotos, e imagens degradantes, que denigrem os anseios de quem não sabe bem o que está buscando, com atitudes contraditórias, desrespeitosas, no panorama social que imagina poder mudar. Mas, ainda bem que, pela demonstração de preocupação das autoridades com a segurança do Papa e dos participantes do evento, temos certeza de que ele será bem acolhido. Na verdade, um momento histórico de júbilo e alegria para todos os católicos, especialmente, para os jovens que se reunirão aos pés de Pedro, a fim de confirmarem a sua fé no Cristo vivo e Ressuscitado. É verdade, há quem pense que os jovens vivem completamente perdidos, sem rumo nem direção, no caos social, ético, moral, profissional, espiritual, sem poderem encontrar nenhum modelo de estímulo que seja uma referência segura para suas aspirações. No entanto, no que concerne à sua vida de fé, muitos jovens vivem com serenidade interior as apostas de sua adesão a Cristo e à própria Igreja. Percebemos isso nas comunidades paroquiais onde muitos jovens demonstram sincera sede de fidelidade a Cristo, vivendo segundo as exigências do Evangelho e seus ensinamentos. São testemunhos, às vezes, discretos, quase escondidos, diante da consciência pessoal de seu amor a Deus. Como afirmou Elba Ramalho, “não é cafona acreditar em Deus”, e consequentemente, tornar-se discípulo de Jesus Cristo. De fato, muitos jovens vivem, assim, e assumem a sua fé com a radicalidade de que precisam para testemunhar o amor de Deus, sobretudo, revelado em Cristo. Com efeito, não foi essa uma das grandes motivações que inspirou o Beato João Paulo II a fundar as JMJ’s? E o Papa Bento XVI, mesmo em outras circunstâncias de alocuções e discursos, sempre enfatizou para todos os cristãos a importância de uma profunda amizade com Cristo. Desse modo, a despeito de toda a euforia do comportamento dos jovens nas Jornadas Mundiais, a grande maioria sabe muito bem que está ali para buscar o próprio Cristo como inspiração e fundamento de sua vida e de seus ideais, inclusive, de realização pessoal. 

 


No caso da Jornada Mundial no Rio de Janeiro, o tema está relacionado à atividade missionária de todos os cristãos que, depois de se tornarem amigos de Cristo, devem atrair muitos outros irmãos ao coração do Bom Pastor: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19). É o próprio mandato de Cristo que chega, também, ao coração de todos os jovens. Na cerimônia de boas vindas, o discurso do Santo Padre foi muito claro ao referir-se aos jovens como protagonistas, não somente da evangelização, mas também do futuro da humanidade e de todas as nações. Papa Francisco foi categórico: “O motivo principal da minha presença no Brasil, como é sabido, transcende as suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: ‘Ide e fazei discípulos entre todas as nações’”. E continuou: “Estes jovens provêm dos diversos continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variegadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade”. Mais adiante, ele foi enfático: “E atenção! A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo. É a janela e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço. Isso significa: tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos. Com essas atitudes precedemos hoje o futuro que entra pela janela dos jovens”. 


Durante a semana em que o Papa Francisco permanecerá no Brasil, por certo, ainda ouviremos palavras que serão o reflexo vivo do próprio testemunho do Romano Pontífice, um homem que, pela grandeza de sua alma humilde e generosa, expressa-se também pelas tangentes mais distantes do centro gravitacional de todos os problemas humanos. Isso também é tarefa do chefe de Estado, que o ocupa o menor estado do mundo, embora muitos olhem para a Igreja com desprezo e desconfiança. Até pessoas que já usaram e abusaram de seus privilégios e títulos dentro da Igreja – títulos cujos méritos são fruto da formação recebida da própria Igreja, como aconteceu com alguns teólogos e outros letrados, que se afastaram, falaram e falam tão mal dela – estão de acordo com o fato de que os gestos e as palavras do Papa Francisco podem redirecionar ou redimensionar a crise mundial por que passamos. Crise financeira, ecológica, moral, ética, de direitos humanos básicos, crises que, no caldeirão da miséria, afetam cada vez mais os pobres. De fato, o próprio nome que ele escolheu como Papa, no caso, Francisco, já é um programa síntese de seu apostolado e de sua missão, favorecendo mais fraternidade e menos desigualdades sociais entre os povos. Seu modo simples de viver e de expressar-se, acompanhado de seu próprio estilo de vida, ainda vai mexer com muita gente dentro e fora da Igreja. 



Como ele mesmo disse, no Brasil, ele terá a oportunidade de falar a todos e a cada um que passeia com liberdade dentro de sua própria consciência: “Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho consciência de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações”. Como diria Jesus, o Pastor do rebanho de sua Igreja, “quem tem ouvidos [para ouvir], ouça!”. Bem-vindo, Papa Francisco! Abraçando todo o Brasil, sinta-se também abraçado por todos os “brasileiros e brasileiras”. Sua presença nos ilumine e seu testemunho nos motive a viver mais profundamente a radicalidade da fé no amor e na amizade com Cristo.