segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Natal e transformação geracional


NATAL E TRANSFORMAÇÃO GERACIONAL

Papa Francisco diante do presépio na Casa Santa Marta

O Natal chegando, e nós como iremos celebrá-lo? O que iremos pedir ao Menino-Deus? O dom maior Deus já nos concedeu em sua infinita misericórdia: A Salvação em Jesus, cujo nome significa justamente o “Salvador”. Mas “salvador” de que mesmo? A humanidade, adormecida nos porões da ideologias modernas, que foram construídas ao longo dos séculos, parece que já o esqueceu. O homem não é o salvador de si mesmo, apesar de sua luta por emancipação. Segundo relato bíblico, Deus nos salvou das garras do demônio tentador e de suas investidas facínoras. Foi quando o “pecado” entrou no mundo pela desobediência de Adão e Eva. “Pecado” se tornou uma palavra em desuso, e o instinto das pessoas faz de tudo para tentar esquecê-la, mas não adianta. Ela está aí diante de nossos olhos, garimpando o comportamento libertino de todos nós. Recusamos aceitar que não somos criadores, mas criaturas. Criaturas rebeldes, por sinal! Daí decorre todo tipo de rejeição aos mandamentos, à atitude religiosa espiritual, ao desejo de superação de si mesmo em relação à ruína das virtudes, ao melhoramento ético e moral, no sentido do progresso ascendente no que concerne à vida na graça divina, à conversação e à santidade, e assim por diante.
O mundo está profundamente marcado pela chamada “desorientação ontológica” porquanto, desde as origens de nossa formação ou criação civilizatória – sim, a civilização humana iniciou com Abel e Caim – perdemos o rumo certo do equilíbrio espiritual ou psíquico interior, da intimidade com Deus. Tudo isso exigido para nossa felicidade puramente humana, antes da queda. De lá para cá, todos nós somos vítimas odontológicas da tragédia que trouxe desarmonia entre o Criador e as criaturas, e entre as próprias criaturas. No entanto, a chave de recuperação que Deus usou para reabrir o caminho da “reformatio harmoniae” – re-formação da harmonia – foi o envio do seu Filho Eterno, Jesus Cristo, a fim de ligar de novo a criatura humana ao Criador. E aqui está o segredo do Mysterium que celebramos no Natal. Deus, em Jesus, reabre para todos nós a senda do céu. Todavia, a salvação é um dom oferecido a todos, de modo que é preciso que nós o queiramos, que nós o aceitemos. Ou seja, o caminho em direção ao inferno – que existe, independentemente de o aceitarmos ou não – é uma escolha que fazemos com nossas atitudes contrárias ao convite soteriológico de Deus. Santo Agostinho é quem o afirma: “Quem te criou sem ti, não te salva sem ti”. Mas será que nós queremos o céu? Ou preferimos a liberalidade de nossas conveniências morais, espirituais, éticas, religiosas – criamos nossa própria religião – etc.?
Então, o tempo do Natal é o momento em que devemos colocar todas as nossas convicções na balança da ponderação, para decidirmos o que realmente queremos para nossa felicidade, com Deus ou sem Deus. A decisão é imperativamente nossa. Infelizmente, vivemos conjunturas sociais de um ateísmo tão perturbador e estonteante que muitas pessoas pensam poder se liberar de Deus, de seus juízos, de seu tribunal, diante do qual, um dia, deveremos comparecer para a prestação de contas da nossa existência. E o tribunal de Deus é insubornável Diante dele, nenhum álibi nosso será suficientemente justificável. E não adiante tentarmos fugir, porque, mais cedo ou mais tarde, todos os nossos esforços de autossuficiência e arrogância se demonstrarão inúteis, não terão servido para nada. Talvez, por isso, diante das incertezas ou de nossas próprias incongruências humanas, pensemos em poder zombar de Deus e de seu Filho Jesus. Um comportamento aberrante e desrespeitoso que mancha de ignomínia e indignação o devido respeito à liberdade religiosa. Acintes e provocações desse tipo não melhoram em nada, por exemplo, o mesmo respeito que muitos artistas tentam impingir dos outros em nome do que eles, alucinada e cinicamente, consideram ser “cultura” ou “liberdade de expressão”. Mas, a seu tempo, cada um pagará a sua conta, porque a história é implacavelmente vingativa e, oportunamente, apresentar-lhes-á a devida conta.
Ninguém pense que Deus possa descer ao nível de nossas mediocridades. Vez por outra, recebo mensagens equivocadas de pessoas que imaginam que a Igreja do Papa Francisco está trazendo inovações, a ponto de, por exemplo, mudar a doutrina da fé católica, escancarando as portas a todo tipo de conveniências morais, espirituais, etc., segundo os gostos da modernidade. Há inclusive quem deseja que, um dia, a Igreja de Cristo possa “ter cara e pensamento condizentes com o século XXI”. Quem assim o espera, saiba que se trata de um “desejo sem esperança”, para recorrer a uma frase de Dante Alighieri na Divina Comédia. Nunca, jamais, a Igreja se tornará aliada do mundo contra a riqueza de sua doutrina, com fundamentação nos Evangelhos. Isso não significa dizer que não possamos fazer nossas escolhas, determinar nossas orientações, afinal de contas, o mesmo Deus que nos criou livres, jamais se colocará contra o dom da liberdade que também nos concedeu. Contudo, ninguém se engane, pois ela também terá o seu preço, e a própria humanidade tem dado sinal de cansaço.
Nossa humanidade é um cansaço crônico, histórico, gravado pelas consequências da desobediência de Adão. Mas, a cada Natal, a misericórdia divina vem nos advertir de que, não obstante tudo, ainda existe a esperança da regeneração. O Emanuel, o Deus conosco não nos abandona, nem mesmo quando parecemos à deriva, desorientados, sem bússola pelo mar agitado das feridas mais profundas de nossas inquietações interiores. Transformando a cada um de nós, ele também pode trazer a transformação geracional dos povos, conforme os ditames de seu poder Salvador, porque ELE É O SALVADOR... (PGRS).
Feliz Natal, com Jesus, o Salvador!