quinta-feira, 3 de maio de 2012

De Profundis


                                              DE PROFUNDIS 

                                               
                                                   

Quando o sol nasce e se levanta no horizonte de nossa existência, nosso olhar piedoso deve erguer-se, à luz do “Sol nascente que nos veio visitar”, ao encontro de Deus misericordioso, que não leva em conta os nossos pecados, as nossas faltas, como tão bem nos recorda o salmista: “Iahweh é compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor, ele não vai disputar perpetuamente, e seu rancor não dura para sempre. Nunca nos trata conforme os nossos pecados, nem nos devolve segundo nossas faltas” (Sl 103,8-10); ou ainda: “Senhor, se levardes em conta nossas faltas, quem haverá de subsistir? Mas, em vós se encontra o perdão, eu vos temo e em vós espero” (Sl 130,1-5).

Trata-se de um dos cânticos das subidas para a cidade Santa, Jerusalém, que Israel canta De profundis, clamando a piedade do Senhor Deus. Deus torna os nossos pecados escarlates brancos como a neve, conforme o reconhecimento da oração penitencial de Davi (Sl 51,9). Todavia, não obstante a sua misericórdia, Ele pede que nos convertamos, pois Ele é implacavelmente contra a hipocrisia: “Quando estendeis vossas mãos, desvio de vós os meus olhos; ainda que multipliqueis a oração não vos ouvirei. Vossas mãos estão cheias de sangue: lavai-vos, purificai-vos! Tirai da minha vista as vossas más ações! Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer o bem! Buscai o direito, corrigi o opressor! Fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva! Então, sim, poderemos discutir, diz Iahweh: Ainda que os vossos pecados sejam como escarlate, tornar-se-ão como a lã (Is 1,15-18)”. O vocábulo hebraico shānî [“escarlata” do latim Quercus coccinea] “[...] adquiriu um significado simbólico por ser utilizado em cerimônias de purificação, como na descontaminação do leproso (Lv 14,4.6) e da casa do leproso (Lv 14,49.52) e na descontaminação da impureza cerimonial em geral (Nm 19,6). Visto que shānî era a cor do sangue, seria o símbolo natural para isso em tais cerimônias. A palavra torna a aparecer em Isaías 1,18. Depois de dizer aos israelitas que a adoração que lhe prestavam era inaceitável devido à manchas de culpa de crime de sangue nas mãos do povo (v. 15), Deus fala que devem ser purificados e deixar de fazer o mal. O versículo 18 é o convite que ele faz para a purificação. Ele removerá até mesmo a culpa de crime de sangue, simbolizada por uma roupa tingida de escarlata. Por mais impossível que seja [ou que pareça ser, aos nossos olhos humanos e mortais], Deus torna a roupa num branco puro e brilhante, representando uma retidão sem máculas (cf. Sl 51,7 [9]; Ap 7,4)” (AUSTEL).

Portanto, é a graça do Senhor quem nos acompanha, do nascer ao pôr do sol, se somos solícitos aos seus apelos. E quando o sol no ocaso desaparecer, fazendo precipitar sobre a noite da alma o véu da escuridão interior, renova-nos a certeza de que, no dia seguinte, mais uma vez, e com intensa luminosidade, brilhará sobre todos nós o Sol da justiça divina que nos recobrirá com a infinitude de sua graça e presença.