terça-feira, 9 de outubro de 2012

Crise de fé volta à Baila!

Crise de fé volta à Baila 

 

Com a intenção de ajudar os cristãos católicos a repensarem e a melhor viverem sua própria atitude de fé, o Santo Padre, o Papa Bento XVI, proclamou solenemente mais um “Ano da Fé”, por meio da carta Apostólica “Porta Fidei” – “Porta da fé” – de 11 de outubro de 2011. Logo no começo da carta, assim se expressa o Romano Pontífice: “A Porta da fé (cf. At 14,27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar esse limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Este caminho tem início com o Batismo (cf. Rm 6,4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus como Pai, e é concluído com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo quis fazer participantes da sua própria glória quantos creem n’Ele (cf. Jo 17,22)” (Porta da Fé, n. 1). 

Quem tem a preocupação de alimentar as seguranças de sua religião sabe que, há muito tempo, vivemos momentos de desafiadora crise de fé. E o Papa Bento XVI também tem plena consciência disso. Daí a razão pela qual ele afirma o seguinte: “Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado, eu disse: ‘A Igreja, no seu conjunto e os Pastores, nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens para fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude’. Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária” (Porta da Fé, n. 2). E o Papa adentra na penumbra do mistério da fé, que não deixa de ser diagnosticado pela sua percepção apuradamente lúcida da realidade experimentada pelos cristãos: “Ora, um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas” (Porta da Fé, n. 2). Paulatinamente, com o avanço das teorias e ideologias libertárias, a concretude da fé foi perdendo terreno no coração das pessoas. Não somente porque imaginamos uma fé caseira, à maneira das necessidades circunstanciais das conveniências de cada pessoa, mas, de modo especial, porque a autossuficiencia material, científica e tecnológica, parece fazer com que o homem se baste a si mesmo. Foi o grande filósofo francês, Jean Guitton, quem disse que depois que inventaram a aspirina o homem não precisaria mais de Deus. Triste engano! Sem Deus, o destino do homem é a autodestruição em todos os níveis de seu esforço de dignidade e superação de si mesmo. 

Escrevendo sobre o desafio da fé para os cristãos do mundo contemporâneo, a iniciativa do Papa em proclamar o Ano da Fé – que se inicia no dia 11 de outubro de 2011 até o dia 24 de novembro de 2013, cujo final coincide com a Festa de Cristo Rei – não tem outra finalidade senão a de fazer com que cada cristão se decida com mais convicção e convencimento quanto à sua atitude de fé. E o Santo Padre parece olhar, enfaticamente, para dentro da própria Igreja, para aqueles que, de um modo ou de outro, também se deixaram influenciar e contaminar pela superficialidade da cultura do indiferentismo religioso que também fere a vivência espiritual dos cristãos católicos. Talvez, seja um esforço sincero no sentido de que o verniz da fé que ainda resta na fragilidade de alguns poucos não desapareça por completo, diluindo-se na inconsistência radical da apostasia, isto é, do abandono da própria fé. Por isso que o Papa fala da “renovação da Igreja”, que acontece “também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de fato, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou” (Porta da Fé, n. 6). Desse modo, “o Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, Único Salvador do mundo” (Porta da Fé, n. 6). Entre tantos outros aspectos abordados pelo Sumo Pontífice, ele aponta, de igual modo, a urgência “de um empenho eclesial mais convicto a favor de uma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé. Na descoberta diária de seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes, que jamais pode faltar. Com efeito, a fé cresce quanto é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de fato, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos” (Porta da Fé, n. 7). 

O fato de, mais uma vez, a crise de fé voltar à baila não é nenhuma novidade, nem para o Papa nem para os cristãos de verdade. A novidade está no ardor, sempre renovado, com que a Igreja de Cristo se dispõe a viver e a defender a sua fé inabalável em meio às tempestades e tormentas do mundo presente, até o final dos tempos, com a força da graça divina que sempre sopra novos e salutares ventos dentro da Igreja do Senhor.