terça-feira, 19 de março de 2013

O Conclave que elegeu o Papa Francisco


O Conclave que elegeu o Papa Francisco 

 



Doze de março de 2013! Doze dias depois da renúncia de Bento XVI, dá-se início à procissão de ingresso dos Cardeais eleitores na Capela Sistina onde acontece o Conclave. São 16 horas e 30 minutos. Tudo é transmitido televisivamente. Mais de cinco mil jornalistas credenciados pelo Vaticano estão presentes para anunciar o evento em tempo real. Pela manhã, a já aconteceu a missa na intenção de eleição do novo Papa – Pro eligendo Romano Pontifice! A celebração foi presidida pelo Cardeal Decano, Ângelo Sodano. 


Na homilia, logo no começo, fez breve menção e agradecimento a Deus pela vida e pelo pontificado de Bento XVI, temporariamente, residente no castelo de verão dos papas, em Catelgandolfo. Um prolongado aplauso subiu da assembleia como sinal de gratidão e reconhecimento ao inestimável serviço prestado à Igreja pelo Papa Emérito. A reflexão do Cardeal Ângelo Sodano, biblicamente, tranquila, conservou-se fiel às leituras, embora também tenha feito referências a temas trabalhados catequeticamente pelos Papas João Paulo II e Bento XVI. No contexto do discurso, enfatizou o quanto afirmara João Paulo II em sua Encíclica Dives in Misericordia – “Deus, rico em misericórdia”. E, em relação a Bento XVI, referiu-se à mensagem da Quaresma para 2013, associando o “serviço da Palavra” à “caridade” realizada em benefício dos irmãos. 


Segundo comentaristas internacionais, cada conclave é especial pelo fato de que envolve questões diferentes e motivações impostadas pelas conjunturas do momento histórica da Igreja e do mundo. Há os problemas religiosos, geopolíticos, sociais, culturais, eclesiais e, assim, por diante. Quando morreu o Papa João Paulo II, dentro e fora da Igreja, o clima era de choro e despedida com a morte do Romano Pontífice. Suas exéquias foram, particularmente, emocionantes, participada pelas autoridades mais poderosas do mundo e com a presença de simples fiéis seguidores de Cristo. Um Papa que havia levado até às últimas consequências a cruz de seu pontificado, tornando-se um ícone da perseverança diante das próprias limitações físicas de sua pessoa. Nesse conclave, num contexto totalmente adverso pelas circunstâncias, com o Papa Emérito vivo, outras se demonstraram serem as preocupações, não somente dos cardeais, mas também da pressão internacional, cujas interpretações estavam, supostamente, inerentes ao próprio futuro da Igreja. Essa onda de descontentamento com os recentes rumos da Igreja, abalada por escândalos de todo tipo, tais como a pedofilia dos padres, o roubo de documentos pontifícios, cujo maior acusado foi o mordomo do Papa, Paolo Gabriele, que ficou preso no Vaticano e foi perdoado por Bento XVI, o problema do Instituto das Obras Religiosas (IOR) e a deflagração do indecoroso comportamento de caráter homossexual, envolvendo uma rede de prostituição dentro do Vaticano, como foi noticiado, o que seria um verdadeiro descalabro moral e espiritual por trás das cortinas vaticanas. Portanto, temas cujas discussões encheriam livros de curiosidades históricas e mexeriqueiras para os inquisidores pós-modernos da própria Igreja de Cristo. 



Treze de março de 2013! O Conclave que elegeu o Romano Pontífice Francisco, cujo nome de batismo é Jorge Mario Bergoglio, o então Cardeal de Buenos Aires, de 76 anos de idade, foi o segundo do início do terceiro milênio, e durou 26 horas apenas. Alguns momentos antes, pudemos perceber a presença de uma pomba sobre a chaminé da Capela Sistina. Talvez, um sinal alvissareiro de que, em breve, teríamos a novidade da eleição. Telefonei para minha mãe, falando do símbolo do Espírito Santo, trazendo ao mundo a concretização de mais essa expectativa da Igreja de Cristo, para cujo coração estavam voltados os olhares do mundo inteiro. Sim, o Espírito Santo está acima do juízo final de Michel Ângelo, dentro da capela Sistina, que acoberta a consciência e a visão de fé dos cardeais. E uma expressão trazia o sentido da superficialidade dos homens na expectação do resultado do conclave: “Os olhos humanos e artificiais pendurados em uma chaminé”. Chega a noite, e o novo Papa ainda não fora eleito. Continuamos na expectativa das surpresas do Espírito Santo. Em seguida, a boa notícia da fumaça santa, branca. Um papa que surge da escuridão da noite em Roma e no Vaticano. Tal simbolismo, talvez, traduza-se pelas conjunturas e dificuldades que internamente a Igreja enfrenta nesse momento de sua história. A fumaça branca começa a surgir no céu, às 19h07 minutos, horário local. É o vigésimo terceiro Papa eleito no mês de março, segundo noticiário internacional. Seu nome sai na quinta votação dos cardeais eleitores. Com o anúncio do “habemus papam”, feito pelo Cardeal francês, Jean-Louis Tauran, o mundo inteiro ficou sabendo qual o semblante do novo Papa que vem da Argentina. 


Que espetáculo ver a Praça do Vaticano “gremida” – como dizemos em italiano – quer dizer, locupletada, apinhada de pessoas do mundo inteiro. Bandeiras de todas as cores, algumas do Brasil, talvez, com brasileiros esperando uma fumaça “verde-amarela”, brincou alguém, caso o Papa viesse do Brasil. Mas ainda não foi a nossa vez. Foi a vez do Espírito Santo, revelando ao mundo suas surpresas. De fato, seus mistérios impenetráveis e seus caminhos misteriosos nunca poderão ser alcançados pelos homens, presunçosos e autossuficientes. Guarda-chuvas de todas as cores, pois o tempo estava frio e chuvoso, estampavam a alegria de tão festivo momento, sobretudo, para a Igreja que o mundo continuará odiando e combatendo, implacavelmente, porque primeiro odiou o seu próprio Senhor e Mestre. Foi Cristo quem o disse: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo e minha escolha vos separou do mundo, o mundo, por isso, vos odeia” (Jo 15,18-19). Uma palavra forte, que projeta dardos de trepidação interior no mais profundo da alma dos seguidores de Cristo. 



E a barca de Pedro continuará singrando os mares do mundo com as consolações de seu Senhor e Mestre, que para cada novo tempo, revela os segredos de sua vontade na eleição de homens sábios e humildes que se esforçam para seguir seus passos pela vivência e anúncio do Evangelho de Cristo. O homem que assume o pontificado sabe muito bem quais as cobranças e as exigências que o próprio cargo lhe impõe quanto à missão de confirmar os seus irmãos na fé. O primeiro Papa da América Latina, jesuíta, inspirado na simplicidade franciscana, que usava transportes públicos e fazia sua própria comida em casa. Um Papa que pede a benção do povo pela oração silenciosa. Um Papa que nos ajuda a rezar e a fazer silêncio, atitudes de que o mundo moderno tem tanta necessidade para reencontrar o caminho da paz e da fraternidade universal. Seu nome – Papa Francisco – sinaliza tempos novos na Igreja de Cristo pelo simbolismo de seus gestos e pela abertura franciscana que reacende os valores do pobrezinho de Assis, São Francisco.