terça-feira, 26 de março de 2013

Quando dois Papas se encontram!

Quando dois Papas se encontram 

 

  
Há muito pouco tempo, há menos de meses, quem poderia imaginar que presenciaríamos o histórico fato de dois papas se encontrarem? Foi somente o Papa Bento XVI anunciar que renunciaria ao Pontificado no dia 28 de fevereiro de 2013, para o coração dos cristãos e dos curiosos do mundo inteiro excogitar a extraordinariedade do acontecimento. Um fato nunca noticiado em quase seiscentos anos. Já do dia doze de março, antes mesmo que o mundo conhecesse o novo Romano Pontífice, o Papa Francisco, eles já tinham trocado algumas palavras por telefone, linha direta da Capela Sistina para Castelgandolfo, onde se encontrava o Papa Emérito. 
 


No encontro, acontecido na manhã do sábado dia 23 de março de 2013, o Papa Francisco, que chegou de helicóptero em Catelgandolfo, presenteou Bento XVI com um ícone de Nossa Senhora da Humildade, enfatizando o grande testemunho que o Papa Bento XVI dera durante o seu Pontificado, inclusive, com a renúncia, depois de reconhecer que suas forças haviam diminuído nos últimos tempos, de modo que gostaria de deixar o posto ao seu Sucessor mais jovem e com mais energias para a missão. Dois Papas que se olham nos olhos e se consideram irmãos: “Somos irmãos”, afirmou o Papa Francisco. Durante o encontro, tiveram uma conversa reservada de 45 minutos, trocaram presentes e almoçaram juntos. Depois do almoço, fizeram breve passeio pelos jardins internos de Catelgandolfo. Enquanto isso, para variar, os jornalistas, sempre indiscretos, com línguas ervadas de sucos dialeticamente venenosos, tentavam sugerir os temas discutidos pela histórica reunião dos papas. Os problemas recentes que afetaram a vida da Igreja e o Pontificado de Bento XVI. Os casos de pedofilia, o roubo dos documentos pontifícios, que foram publicados em forma livro, a situação administrativa do Banco do Vaticano, entre outros temas correntes, ao sabor do palpite de repórteres e vaticanistas, tudo deixou em suspense o verdadeiro conteúdo da conversa. 

 


Pelo menos, o encontro serviu para fazer calarem as línguas maldosas que imaginaram que Bento XVI criaria dificuldades desnecessárias ao novo Papa, com estilo totalmente diferente do seu. Um latino americano e outro europeu. Quantas comparações já não foram feitas entre os dois! Ninguém é igual a ninguém, pois cada ser humano faz valer as características de sua história pessoal, de sua cultura, de seu tempo, de suas percepções afetivas e dialéticas, enfim de tudo aquilo que compõe o bojo formativo de sua personalidade. Claro que Jorge Mário Bergoglio, atual Papa Francisco, não poderia mudar tão radicalmente seu jeito de ser, simplesmente, porque fora eleito Papa. Muito pelo contrário, agora, seu estilo de pastor torna-se mais evidente e claro porque diante dos holofotes indiscretos do mundo inteiro. A simplicidade de seus gestos não é fruto do desejo instantâneo de aparecer ou de querer ser aplaudido por ninguém. Lembro-me de que, antes das últimas eleições na Itália, um jovenzinho jornalista criticava, abertamente, o Primeiro Ministro Mário Monti por exibir ostentação ao ser católico, sempre indo as Igrejas e sendo fotografado pelos paparazzi de plantão. Sua resposta não poderia ter sido mais serena: “Eu não tenho culpa se em qualquer lugar onde me encontro sempre tem alguém querendo fotografar-me! Nunca chamei ninguém para me acompanhar”. O mesmo acontece com todos os Papas, embora o serviço fotográfico seja especializado e reservado uma equipe do Vaticano. O fato é que, como reza a filosofia, “agere sequitur esse!” [“o agir segue o ser”]. Trata-se de uma máxima filosófica para determinar o fundamento metafísico da pessoa humana na sua essência existencial. Isso para dizer que a pessoa que virou Papa não abandona, como por uma cisão radical de comportamento, os trejeitos próprios de seu caráter, intrinsecamente, pessoal. 

 


Daí as comparações costumeiras entre um papa e outro, embora, ninguém se engane, pois apenas os estilos são diferentes. Portanto, seja quem for, venha de onde vier, o Papa será sempre o guardião do depósito da Fé confiado por Cristo à sua Igreja. Mudam-se os acidentes que constituem o ser da pessoa, mas não muda a essência do que a Igreja de Cristo proclamou e proclamará ao longo dos séculos, da “perene e imutável” verdade do Evangelho de Jesus. O resto nada mais é do que reflexo do que o mundo sempre viveu distante dos ensinamentos divinos, com espírito de soberba, arrogância, libertinagem, busca de si mesmo e autossuficiência. Mas sem Deus não somos nada. É, pois, esse o grande desejo de Cristo e de sua Igreja, isto é, a insistência no fato de que o homem redescubra os valores da importância de Deus na constituição de todos os seus sistemas temporais de realização e autêntica plenitude. Quanto a isso, nenhum Papa poderia jamais dizer o contrário, porque já não mais seria o legítimo representante visível da Igreja do Senhor. Viva a Igreja de Cristo! Vivam os Papas!!