segunda-feira, 27 de maio de 2013

Olhar contemplativo sobre a agonia de Cristo


Olhar contemplativo sobre 
a agonia de Cristo
 



O olhar contemplativo sobre a agonia de Cristo deve fazer-nos pensar no modo como nos abrimos ou nos fechamos à graça de tão sublime mistério redentor. Não por acaso a teologia moderna ainda nos chama a atenção para os rebordos mais profundos da mística cristã diante de Jesus moribundo, mas também diante de tudo aquilo que ele experimentou e viveu, assumindo a nossa própria carne, como condição fraterna e solidária às consequências de todas as nossas rebeldias e iniquidades. 


A crucifixão por si mesma, com todos os traços da crueldade que envolve a vítima em seus tormentos, já fala piedosamente ao nosso coração. Como descreveu Don Chino Biscotin, o condenado à crucifixão era atormentado por sofrimentos indizíveis, que, com base em percepções médicas, não é difícil conjecturar: uma sede ardente, causada, entre outras coisas, pelas hemorragias, fortíssima dor de cabeça, acompanhada por acessos de febre, sensações de angústia que provocava tremores e soluços, além das dores causadas pelas feridas de todo tipo e pela perfuração dos pregos, que, conforme a maneira como eram fixados, lesionavam nervos muito sensíveis, de modo que qualquer pequeno movimento poderia ocasionar dores horríveis. Portanto, a morte de Cristo, provavelmente, foi causada pela particular posição à qual o crucificado foi constrangido a permanecer. Com o peso do corpo caído sobre as pernas e pendido dos braços, a respiração se torna dificílima e dolorosa. Então, o condenado é constrangido a encontrar apoio nos pregos que fixam os pés e, com dores atrozes, tenta solevar-se, a fim de poder respirar mais livremente. Como Jesus agonizou na cruz durante três horas, segunda a narrativa bíblica, esse fenômeno se repetiu várias vezes, porquanto basta somente alguns minutos de suspensão para que ocorra a dispnea, isto é, a dificuldade de respiração. O fim de sua existência deve ter chegado, quando ele não teve mais forças para conseguir solevar-se novamente, e a asfixia provocou um estado de choque, seguido por um colapso cardiocirculatório. Na verdade, tudo isso é um pouco da pobreza do esforço humano que tenta se aproximar do sacrifício de Cristo no monte Calvário, a fim de usufruir dele, mais do que consolações para suas próprias dores, reconhecimento e gratidão pela generosidade da entrega do Senhor. 



Enfim, a humanidade sofredora de Cristo, projetada na nossa, deve conduzir-nos, pelo testemunho de sua cruz, a progredirmos espiritualmente na direção da estatura do Homem Perfeito, que é o próprio Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Desse modo, o mistério de sua via-crúcis produzirá os efeitos desejados por Deus e anelados pela nossa sede de eterna plenitude.