domingo, 23 de setembro de 2012

Ousadia Incendiária!!!

Ousadia Incendiária 

 
Admira-me, profundamente, a ousadia incendiária com que os muçulmanos reagem diante de provocações de vilipêndio e desprezo ao profeta Maomé, figura emblemática, importante e essencial de sua santa religião. Evidentemente, não quero com tal afirmação, fazer apologia à violência furiosa dos adeptos de nenhuma religião. Mas, cá para nós, a sociedade, incluindo nela, sobretudo, os meios de comunicação social, com todo o arsenal de virulência, irritação e deboche, deveria ter mais respeito com as coisas sagradas dos que professam a fé. De fato, não defendemos a liberdade religiosa e a tolerância em relação aos crentes? 

Para quem não sabe, a figura de Maomé tornou-se conhecida na História por fundar a religião que cultua o Deus Santo no céu e venera na terra o seu profeta. Este surgiu no horizonte de nosso tempo, lá pelos idos do século VII d. C. Um pouco de conhecimento sobre tal personagem não faz mal a ninguém. Recorramos, pois à palavra de um exímio historiador, que coloca na pena de seus registros a solenidade com que aborda os mais variados assuntos no bojo de sua tempestiva argumentação: “O grande acontecimento do século VII – aquele que mais havia de pesar sobre os destinos do mundo – não se produziu nem no Ocidente, em vias de, bem ou mal, absorver os bárbaros, nem no Oriente grego, que se debatia com as suas heresias e os seus cismas. Teve por cenário uma cidade da Arábia onde um homem, condutor de caravanas, foi pregar uma doutrina monoteísta. Da revolução religiosa que esse homem suscitou iria surgir um novo poder, destinado a arruinar de um só golpe todo o equilíbrio político de uma época. Nas regiões que até então só tinham visto desfilar cameleiros e reizinhos, iria tomar corpo agora uma força impetuosa, uma terrível ameaça, que acabaria por vibrar um golpe de morte no predomínio milenar da civilização greco-romana. ‘Maomé constituiu a resposta oriental às pressões de Alexandre’[Christopher Dawson]” (Daniel-Rops). E o mesmo autor continua sua saga literária, desbravando-nos o estranho mundo de Maomé, que, “tendo ficado órfão muito cedo, fora educado por um tio generoso, mas sem fortuna, e vira-se obrigado a dedicar-se ao comércio das caravanas para sobreviver, como, aliás, faziam-no geralmente os coraixitas [“tribo árabe à qual pertencia Maomé”, Dicionário Aurélio]. Entrou para serviço de uma viúva rica, Khadidja, e tornou-se em breve o seu homem de confiança e o grande guia de suas caravanas. Assim pôde dispor de longas horas de reflexão e de sonho, ao ritmo cadenciado do passo dos camelos” (Daniel-Rops). Mais adiante, o referido autor chega ao que, particularmente, interessa-nos, isto é, a Maomé como fundador da religião dos muçulmanos, depois de enfrentar muitas dificuldades e resistências relacionadas aos judeus e aos cristãos: “Convertido em chefe da comunidade mulçumana, al-Umma, e perante a intransigência dos cristãos heréticos e sobretudo dos judeus que, mais belicosos, se recusavam a admitir a missão profética de um gentio, Maomé acabou por estabelecer a sua doutrina independente. Iria agora seguir um novo plano: a diplomacia e a guerra passariam a substituir a pregação, difícil e aventurosa. Por intermédio de Ismael, foi buscar a origem do Islão no próprio Abraão – que, conforme diz o Alcorão [que significa ‘a recitação’], ‘não era nem judeu nem cristão' –, e a Kaaba passou a ser considerada como fundada por esse ‘Pai dos crentes’ e consagrada ao culto de Alá. O muçulmano voltar-se-á, pois, para Meca durante a oração, e não mais para Jerusalém” (Daniel-Rops). 

Sinteticamente, a religião muçulmana prega o culto ao único Deus da religião monoteísta, cujo nome em árabe é Alá, levando-se em consideração profetas que vieram desde Abraão até Cristo, depois dos quais, por fim, foi enviado um profeta de sua nação, Maomé. Portanto, “ser muçulmano – muslim, em árabe – significa estar submetido a Deus e abandonar-se nele. Crede em Alá, o Único – repete o Alcorão –, e na missão de seu enviado Maomé, e ireis depois da morte para o jardim do Paraíso, onde, deitados em leitos de brocado, bebereis a água viva da fonte al-Salsabil, e gozareis das ‘huris’, das ‘filhas do Céu’, ‘perfeitas como um ovo fechado e que ninguém, anjo ou homem, terá jamais tocado’. Se não crerdes, porém, ireis para o inferno comer o execrável fruto da árvore Zakhum, no meio de chamas inextinguíveis” (Daniel-Rops). Também foram acrescentadas cinco práticas religiosas rígidas, que o crente dessa religião deve executar. São elas, brevemente citadas: a profissão de fé, a oração ritual, a esmola, o jejum – no mês de ramadã – e a peregrinação a Meca, pelo menos, uma vez durante a vida. 

Na verdade, há coisas com as quais não deveríamos mexer, sob pena de radical perseguição e intolerância, como preço do destrato e da ridicularização concernentes à importância que elas significam para algumas pessoas. É o que estamos vendo, atualmente, com o suposto “filme” americano, de 14 minutos, em que o profeta dos mulçumanos é citado no enredo. Acredito que respeito quanto a questões tão graves quanto infames, não limita nem condiciona ou até mesmo não fere a desejosa e sonhada liberdade de expressão. A prudência é mãe de muitas virtudes. As reações violentas, como também já vimos em episódios anteriores, mesmo se precipitados por equívocos e preconceitos, demonstram a força e a convicção daqueles que não permitem que seu personagem religioso mais importante seja levado à berlinda sob reflexos de acintes difamatórios ou injuriosos. Eles são irredutíveis na defesa de seus valores e princípios religiosos. Inclusive, há quem pense que uma das possibilidades para desencadear-se a Terceira Guerra Mundial está relacionada às provocações desferidas contra os muçulmanos. E eu não duvido disso! Claro que não estou defendendo a fúria descontrolada de quem quer que seja, mas o incêndio da oposição conservadora frente aos ataques de libertinagem e agressão aos súditos de Maomé tem dado sinais de que eles levam a sério o seu profeta. Isso mereceria uma profunda reflexão sobre como, sobretudo, nós católicos, parecemos fazer pouco caso do nosso Jesus, que, sem dúvida, fundou a estranha religião em que se prega o amor aos inimigos. 

A maneira como Jesus é pintado, com todas as cores e os sabores mais agressivos possíveis, com charges e discursos provocativos de toda espécie, não deveria provocar em todos nós maior indignação e defesa da nossa fé, da nossa religião? Os hereges modernos vivam como quiserem, mas devem respeitar o nosso Cristo e a nossa fé. Por exemplo: a Revista Veja do dia 26 de setembro de 2012, edição de número 2288, ano 45, n. 39, apresentou uma charge de Cristo crucificado, à página 85, tendo Maria Madalena aos seus pés, sensualmente mal vestida, como se estivesse oferecendo-se para Cristo, que lhe diz: “Hoje não, Madalena. Estou pregado!”. Certamente, uma alusão ao despautério ou à asneira desmedida de quem ainda pensa na possibilidade de Cristo ter se casado com Maria Madalena, segundo um documento copta – um papiro do século II – apresentado em Roma, agora, no dia 19 de setembro, por uma arqueóloga. Porém, nós, como reagimos a tal despropósito de acinte e provocação? No máximo, rimos achando engraçado, enquanto a infâmia corre solta pela criatividade maligna de seus autores. Todavia, já pensaram se todos os Católicos do Brasil, ou melhor, todos os cristãos, entre os quais também os evangélicos, a partir dessa semana, não assinassem mais tal revista? Tenho certeza de que eles perderiam muito e, da próxima vez, pensariam duas vezes, antes de nova publicação absurda e provocante. Poderia ser uma reação incendiária, mas silenciosa. Penso que valeria a pena. Assim, o inimigo seria derrotado pelas suas próprias armas.