domingo, 25 de março de 2012

Paróquia de Carira, História e missão de minha terra natal!

  PARÓQUIA DE CARIRA, HISTÓRIA E MISSÃO DE MINHA TERRA NATAL

                                           

No dia 25 de março, a cidade de Carira esteve em festa, celebrando o seu jubileu de ouro com a criação da Paróquia de Santa Cruz e do Sagrado Coração de Jesus, dois oragos muito presentes na vida de fé e na devoção do povo carirense. Criada no dia 25 de março de 1962, pelo primeiro Arcebispo de Aracaju, Dom José Vicente Távora, ela fora desmembrada da Paróquia de Frei Paulo.

No enlevo literário da história de Carira, despontando para o sentido religioso de devoção à Santa Cruz, há a conhecida “lenda do Pe. Madeira”. Quem nos relata é o historiador, filho da terra, João Hélio: “Contam os mais velhos que o Cônego José Antônio Leal Madeira, vigário da Vila de São Paulo, retirou a Santa Cruz da capela de Carira, levando-a para o cemitério, e colocou em seu lugar uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. Em uma viagem à terra natal, Portugal, seu navio enfrentou uma tremenda procela, ameaçando a vida de todos os passageiros. Naquele momento, o Cônego, pedindo a Deus pela felicidade daquela viagem, prometeu recolocar a Santa Cruz na capela de Carira, quando voltasse ao Brasil. Conta-se que viagem prosseguiu em paz, e que voltando ao povoado, o Pe. Madeira trouxe de novo a Santa Cruz do cemitério para a capela, mas não a colocou em seu devido lugar, que era o altar-mor, e sim num dos cantos, à entrada. Os fiéis ainda se conformaram, mas o novo pároco, Padre Padilha, estranhou aquela cruz no interior da Capela – sem que fizesse parte da ornamentação litúrgica – e decidiu colocá-la fora da Igreja. Os mantenedores do Santo Lenho se movimentaram, não só protestando veementemente, mas também revoltando-se. Padre Padilha, então, cedeu a seus paroquianos, mantendo a Cruz dentro da igreja. Hoje, porém, o destino desta relíquia é ignorado”  (CARIRA, 1999, p. 145-146). Eis, pois, que a vida religiosa da cidade de Carira nasceu, ali, aos pés da Santa Cruz do divino Salvador, o maior marco histórico do Cristianismo que leva a figura do ensanguentando pelos quatro quadrantes da terra, não obstante a recusa hipócrita e raivosa do Crucificado pelo mundo ocidental.

Cinquenta anos de vida religiosa é uma data muito expressiva para que o povo de Deus, ao lado do seu Administrador Paroquial, hoje, o Pe. Alessandro da Costa Lima, possa resgatar o valor simbólico e religioso de sua história, como também das personalidades que estiveram mais diretamente ligadas ao desenvolvimento do processo evangelizador. Portanto, gostaria de enunciar o nome dos sacerdotes que por lá passaram desde sua criação enquanto Paróquia da Arquidiocese. O primeiro Pároco de Carira foi o Pe. Almiro Oliveira, que me batizou no dia 14 de março de 1971. Depois que ele deixou o ministério, o Padre João Lima Feitosa deu assistência espiritual à Cidade, porquanto ela pertencia à freguesia de Frei Paulo. Segundo o historiador João Hélio, “em setembro de 1947, era vigário de Frei Paulo o Padre Luiz Gonzaga Passos, sacerdote dinâmico a quem muito se deve. Ele deu início à construção da atual Igreja Matriz, em preparação à criação da Paróquia. Ao mesmo tempo, havia uma comissão de pessoas representativas da sociedade, que se responsabilizou quase totalmente pela sua edificação” (CARIRA, 2000, p. 166) e “a 2 de setembro de 1956, foi inaugurada a torre que ornamenta a atual Igreja Matriz, servindo de ponto de referência e dando um toque de religiosidade e boniteza à cidade” (CARIRA, 2000, p. 167). Mais tarde, em 1976, chegou o Pe. Raul Bomfim Borges, um incansável pregador do Evangelho que, naquela região tórrida e seca, muito inspirou a vida dos cristãos com o seu zelo pastoral e a construção de muitas capelas pela redondeza, isto é, em muitos povoados do Município.

Em um momento de crise com algumas religiosas que faziam atividades pastorais na Comunidade, o Pe. Raul, extremamente aborrecido por algumas questões administrativas, resolveu ausentar-se da paróquia, o que foi motivo de despedida e muita comoção por parte de todos. Foi um período, durante o qual, Carira teve uma freira como Administradora Paroquial. Hoje, ela mora na Alemanha, onde eu tive a oportunidade de encontrá-la na cidade de Colônia, nas férias europeias de 2003. Não lembro quanto tempo durou a ausência do Padre Raul, mas ele voltou logo para continuar os labores pastorais da comunidade que tanto amava e pela qual despendeu e gastou suas energias sacerdotais quando ainda era muito jovem. Foram momentos difíceis, pela falta das chuvas e pelas dificuldades próprias do exercício do ministério sacerdotal.

Foi vendo o Padre Raul rezar as missas da comunidade que aumentou em mim o desejo de tornar-me sacerdote. Seu zelo pastoral, a seriedade de seu empenho em favor do povo, a vida mesma da comunidade paroquial, as exigências do cuidado do pastor pelas ovelhas de seu rebanho, tudo era motivo de entusiasmo e interesse dos jovens pelo ideal vocacional, de modo que, em derredor dele, criou-se um grupo de vocacionados que frequentavam os encontros vocacionais no Seminário Menor “Sagrado Coração de Jesus”, na capital.

Em 1986, Pe. Raul deixou a comunidade, transferindo-se para Aracaju, e o Pe. Calos Augusto foi quem assumiu os trabalhos pastorais da comunidade até o ano de 1997, quando o Pe. Raul voltou novamente no intento de preparar minha ordenação diaconal e sacerdotal, que aconteceram no dia 8 de dezembro de 1996 e dia 21 de janeiro de 1998. Eu sou o primeiro sacerdote filho da terra carirense. Mais adiante, citarei o nome de outros padres filhos de Carira. Mas, o fato é que, depois de minha ordenação, quem assumiu a Paróquia foi o Pe. Manuel Araujo. Depois dele, tivemos o Pe. Nilton Cesar, filho de Frei Paulo e, hoje, Pároco de Ribeirópolis. A verdade é que a vida da Igreja de Cristo não cessa com a transferência dos padres. Pelo contrário, cada novo pároco tenta imprimir o caráter cristão nos filhos da Igreja. Sucedendo o Pe. Nilton César, tivemos o Pe. Alessando Lima, que se encontra lá no momento, já há alguns anos.

Sobre os sacerdotes filhos de Carira. O Beato João Paulo II, sempre preocupado com o surgimento de mais e mais vocações sacerdotais, inclusive, pedindo aos bispos que fomentassem o zelo pela pastoral vocacional em suas dioceses, costumava dizer que uma comunidade não poderia se sentir verdadeiramente matura se nela não houvesse vocações sacerdotais e religiosas. Nesse sentido, a Paróquia de Carira não deixou de se demonstrar madura e desenvolvida, oferecendo filhos consagrados ao sacerdócio de Cristo para o bem da Igreja. No total, somos seis padres e um diácono, em breve, também sacerdote, cujos nomes eu declino-os, de modo cronológico, segundo a data de sua ordenação presbiteral: Pe. Gilvan Rodrigues dos Santos – Arquidiocese de Aracaju (1998); Pe. Genivaldo Brás da Silva – Diocese de São Miguel Paulista (2000); Pe. Edvaldo Francisco de Jesus Cunha – Diocese de Propriá (2002); Agnelo Barreto – Diocese de Jequié (2002); Pe. Roberto Benvindo – Arquidiocese de Aracaju (2002); Pe. Arnaldo Oliveira Santos – Arquidiocese de Aracaju (2007) e o Diác. Marcelo da Conceição que, provavelmente, no meio do ano, será ordenado sacerdote.

Eis, pois, o processo de história e evangelização por meio do qual a Paróquia de Carira continuará, pelo tempo afora, transmitindo a mensagem do Divino Salvador, cujo coração, inflamado de amor, abraça todos os homens das diferentes épocas e vicissitudes tempestivas da comunidade paroquial. De fato, o evangelho de Cristo, que invade e permeia todas as civilizações e culturas que se abrem à novidade de sua salvação, também encontrou abertura e disponibilidade interior nos filhos dessa terra de Santa Cruz. Parabéns aos filhos de Carira! Que a graça divina, pela assistência do Espírito Santo, continue impulsionando todos ao encontro com Cristo e à profunda intimidade com Ele, pela graça perseverante da conversão.