quarta-feira, 14 de março de 2012

Sorvendo na taça das palavras!

                                                   SORVENDO NA TAÇA DAS PALAVRAS 
                                           
          

Aconteceu quarta-feira, dia 14 de março, à noite, no Museu da Gente Sergipana. Eu também estive lá para conferir o lançamento de “Viagem na argila”, mais uma obra poética de Jozailto Lima. Muitas autoridades presentes, políticos, admiradores e amigos do jornalista e escritor. Havia um sacerdote esperando o momento do reencontro, qual estrela anônima e apagada diante da plêiade de ilustres e desconhecidos senhores e senhoras que sorviam, vorazes, na taça das palavras, murmúrios de espera e desejo de congratularem-se com a oportunidade do autógrafo.


Sorvendo na taça das palavras o néctar da fantasia. Literatura ébria de sentimentos adormecidos no chão da memória e ressuscitados pela pena do autor. Quem sentiu seu perfume? Quem se deleitou com odor de sua fragrância? Quem pressentiu o orvalho de suas inspirações dissolvendo-se nos raios do sol envolvente de sua dialética serena, fácil, provocativa, constrangedora, surpreendente, como “uma larva de palavras insiste. A mão, por vezes cambaia, se nega e a memória empena e resiste. Mas o poema berne doido, sempre salta, entre o pus e o sangue, a modo praga que buscasse em qualquer mão uma porção de qualquer alpiste. Sim sei sinto: é mero poema. Fruto e picada de incerta mosca doida, algo feito barranco triste amparando extratos de nada, nenhuma água, erosão qualquer, beira alguma – que o poema não salva o poeta nem ninguém” (Do poema: o berne da coisa, p. 94).


Reencontrei Jeová na orelha do livro. Um antigo professor de literatura que permaneceu presente não obstante a distância temporal que não afasta o brio das sinceras recordações. Depois, encontrei-o ao vivo, em carne e osso, palavra coloquial dos velhos tempos da escola. Percebi que o tempo da saudade mantém as pessoas por perto na celebração da poesia derramada no canteiro da vida, nas pétalas da existência. São alegrias da vida, idas e vindas do tempo, que sempre vai e nos traz alguém na surpresa do existir.


Rumores da poesia aberta descansavam no ar. Literatura é assim! Encanto de flores primaveris desabotoando a beleza à espera do alvorecer. A poesia tem espinhos, galhos e frutos. A inspiração do poeta se agasalha à sombra do anoitecer, fecundando a palavra no ventre dos riscos que germinam, silenciosos, no segredo do porvir.